Professora
relata como seus alunos do ensino fundamental desenvolveram projeto para
refletir sobre empoderamento da criança negra
Minha prática pretende ser progressista e há sempre
uma grande preocupação em transformá-la em um ato político, como sugere Paulo
Freire, educador que me inspira desde que me apaixonei por educação. Nessa
perspectiva, tenho proposto temas e projetos que promovem uma reflexão crítica
sobre a realidade.
Dentre
outras propostas, no último ano trabalhei representatividade e empoderamento da
criança negra com uma turma do quarto ano do ensino fundamental, da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Esperança, em Montenegro (RS).
Iniciamos esse trabalho com um estudo sobre a letra
da música “Bonecas Pretas”, da cantora Larissa Luz. Depois de assistir ao
vídeo, também refletimos a cerca do clipe, que trata da importância da
representatividade e, de certa forma, questiona conceitos de beleza
pré-estabelecidos.
Pedi aos alunos que trouxessem suas bonecas e seus
bonecos para a escola. Juntos fizemos uma análise das características físicas
que eram comuns na maioria deles. Nos perguntamos se os mesmos se pareciam
conosco, e se nos sentíamos representados por aqueles bonecos e bonecas.
Fizemos também
perguntas como: “Se eu não pareço com quase nenhuma boneca ou personagem em
destaque, será que não sou tão bonito? Não sirvo como modelo? Como se dá a
construção do conceito de beleza? Somos livres pra construir a ideia de bonito
ou feio?”.
Fizemos uma
entrevista com toda a escola sobre as características físicas de cada aluno e
também sobre o que consideravam “bonito”. Perguntamos sobre tipo de cabelo, cor
da pele, forma do corpo, cor dos olhos, entre outras questões.
Feita as
entrevistas, tabulamos os dados e produzimos gráficos. Confirmamos nossa
hipóteses de que , por exemplo, muitos achavam cabelos lisos e olhos claros
mais bonitos, apesar da maioria dos alunos da nossa escola não terem essas
características.
Essa atividade
demonstrou também uma baixa autoestima de grande parte dos alunos. Nos
deparamos com o constrangimento de vários deles para escrever sobre si mesmos e
até mesmo olhar-se no espelho (sugeríamos para que eles se vissem e lembrassem
como eram fisicamente).
Para continuar nossa pesquisa e reflexão,
resolvemos procurar nas lojas que ficam próximas à escola bonecas ou bonecos
que se parecessem com a gente, principalmente com quem menos se vê representada
ou representado: a criança negra. Sobre essa nossa saída de campo produzimos um
vídeo para o YouTube no canal da nossa turma:
Muita discussão foi feita até que se chegasse ao
resultado final do vídeo. Houve uma escuta sobre os conhecimentos que os alunos
traziam a respeito de youtubers conhecidos e como eles construíam seus vídeos.
A escolha por essa linguagem deu sentido a vários conteúdos, como construção de
texto, leitura e escrita, estudo de gramática, além da apropriação de conceitos
de temas muito relevantes, como racismo, representatividade, empoderamento e
gênero.
As crianças
negras, principalmente, melhoraram significativamente o olhar sobre si mesmas,
fator esse que me enche de alegria. Além disso, tivemos a visita de mulheres
negras na escola para falar de cabelo, racismo e empoderamento.
Também construímos
bonecos e bonecas que se pareciam conosco e nos representavam, em uma ação
conjunta com as famílias. Os alunos demonstraram aquisição de conhecimento,
principalmente, quando puderam apresentar o projeto às famílias na feira
interna da escola.
Percebemos uma
mudança de comportamento no sentido da construção de autoestima, empoderamento
e diminuição de preconceitos. As falas trazidas pelos alunos e suas famílias
trazem esperança e mostram um mundo que eles reconhecem como injusto, mas,
sobretudo, revelam um senso crítico capaz de questioná-lo e transformá-lo.
Retirado do link :
http://porvir.org/para-falar-de-representatividade-alunos-criam-bonecos-com-suas-caracteristicas/
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