Línguas e culturas diferentes são alvos de bullying nas
escolas
Muitas
vezes filhos de imigrantes ou expatriados têm problemas com bullying na escola,
pois crianças que são de alguma forma diferentes dos seus pares são os alvos
mais frequentes de intimidações.
Infelizmente, quando uma criança bilíngue sofre bullying
em razão de suas raízes internacionais, ou por seu sotaque, ou até mesmo pelo
simples fato de falar duas línguas, ela pode ser levada a negar suas origens, e
consequentemente seu bilinguismo, para tentar ser igual às outras crianças à
sua volta, ou seja, ela pode passar a querer ser 100 por cento monocultural e
monolíngue, e se recusar a falar a língua minoritária.
Os pais têm que estar muito atentos para lidar com estas
e outras possíveis consequências desse tipo de agressão. Efeitos psicológicos
negativos podem persistir até muitos anos após a ocorrência do bullying.
Mas o que
exatamente é bullying?
Até pouco tempo atrás, a palavra bullying estava ligada a
imagens de rapazes mal-humorados, fisicamente agressivos, com problemas sociais
e baixa autoestima.
Embora este tipo de bullying ainda exista, a realidade é
bem mais complicada. Muitos bullies têm
habilidades sociais bem desenvolvidas, autoestima elevada, e são mestres em
manipular os adultos a fim de parecer inocentes. Muitos deles são meninas.
Bullying pode assumir a forma de agressão física, verbal
ou emocional. Um tipo de agressão emocional muito comum é o chamado bullying
social ou relacional, que se refere a agressão emocional entre as pessoas nas
relações sociais. Ele pode ter muitas formas, mas geralmente envolve o uso de
um "grupo" como uma arma para ferir alguém, prejudicando seus
relacionamentos e sua reputação.
Apesar de poder ocorrer desde a escola primária até a
universidade, bullying social é muito comum entre pré-adolescentes, e é extremamente
prejudicial nessa fase, porque enfraquece alguns dos mais importantes objetivos
e necessidades pessoais dos jovens: a inclusão social, uma auto-imagem positiva
e o desenvolvimento de amizades significativas.
Bullying
social é hoje provavelmente o tipo mais comum de assédio psicológico
em escolas, e na maioria das vezes passa despercebido e sem intervenção.
Ao
invés de agressões físicas, bullying social implica numa série de
comportamentos, que podem incluir fofocas e boatos, insultos verbais, exclusão
social, manipulação de amizades, linguagem corporal negativa e cyber-bullying.
Bullying social é praticado muitas vezes por crianças
populares, especialmente as meninas, e o agressor geralmente é recompensado com
adulação e maior popularidade.
Fofoca
e ostracismo social podem vir bem abaixo na lista de prioridades de educadores
que tentam impedir bullying; no entanto, pesquisas indicam que, além dos danos
psicológicos potencialmente devastadores para as vítimas, o bullying social
está intimamente relacionado a uma cultura de agressividade nas escolas, por
isso é importante que educadores tomem medidas contra ele.
A escola deve ser uma zona livre de assédio.
Potenciais provocadores, vítimas e testemunhas devem aprender a ser assertivos
- e não agressivos ou passivos - ao lidar com problemas que eles vivenciam
diretamente ou testemunham.
A intervenção por parte de educadores não é
fácil, porque a escola não tem que trabalhar apenas com o agressor e a vítima,
como geralmente ocorre no caso de agressões físicas, mas tem de
considerar todos os possíveis papéis que as outras crianças podem
ter na dinâmica do bullying.
Todo o
grupo precisa ser envolvido em qualquer tentativa de eliminá-lo.
A escola deve educar os alunos para que
evitem alimentar a energia do agressor assistindo passivamente, rindo ou
espalhando boatos. As crianças devem ser incentivadas a apoiar a vítima, sem
encorajar retaliação.
Se uma
criança é vítima de bullying social e está rodeada de pessoas assistindo, ela
não sabe o que essas pessoas estão pensando. Elas podem estar gostando ou se
sentindo constrangidas, mas se não dizem nada, parece que todas estão contra a
vítima.
Outra
razão pela qual educadores precisam ter uma abordagem mais holística é que é
muito difícil para adultos identificar efetivamente episódios individuais de
intimidação social.
O
educador normalmente terá que se basear em relatos de vítimas, e por uma
variedade de razões crianças relutam em definir-se como vítimas.
Especialistas
recomendam que escolas considerem as seguintes estratégias para lidar com
bullying social:
- Educar os professores e funcionários da
escola para que saibam o que é bullying social, e discutir formas de
combatê-lo.
- Observar os alunos em sala de aula e nos
intervalos. Observar sua linguagem corporal quando interagem com seus pares e
considerar o seguinte: quem passa mais tempo sozinho ou em um pequeno grupo que
parece estar isolado dos outros? Quem é líder de grupinho? Como agem seus
seguidores?
- Acreditar na vítima. Jovens socialmente
agressivos são muitas vezes hábeis em esconder suas ações, e muitos educadores
podem relutar em acreditar que um aluno modelo está envolvido em atos de
bullying.
- Dar apoio à vítima e ao agressor, envolvendo os pais
e outros profissionais.
- Discutir o bullying social com os alunos, a fim de
certificar-se de que eles sabem que espalhar rumores, excluir, ridicularizar os
colegas e qualquer forma de assédio moral é inaceitável. É muito importante ter
bons canais de comunicação, de modo que os professores possam dar exemplos de
tipos de comportamento que sejam preocupantes e fazer as crianças pensarem
sobre como suas ações podem magoar os colegas.
Em um
estudo realizado em escolas de Seattle, pesquisadores constataram que o número
de episódios de "maledicência" caiu 72 por cento depois que as
escolas instituiram um programa que
ajuda os professores e os alunos a identificar o bullying social e incentiva
testemunhas a ficar do lado das vítimas.
Não há
duvida de que o agente principal na prevenção do bullying é a escola. Se a
escola é incapaz de perceber a importância do seu papel, cabe aos pais
conscientizá-la da necessidade de se posicionar firmemente contra todas as
formas de bullying, inclusive o bullying social, e eliminar a prática através
de políticas formais.
No seu excelente livro “Mentes
perigosas nas escolas – Bullying”, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva
fornece informaçôes para identificação do bullying, discute seus efeitos e
sugere estratégias para combatê-lo. Na entrevista que aparece no vídeo abaixo a
autora fala sobre o tema ao programa Sem Censura.
Retirado do link :
Nenhum comentário:
Postar um comentário