segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A síndrome da superioridade ilusória. Os profissionais de palco


      Um tipo de bullying que é pouco falado ,Bullying que nós mesmo fazemos conosco 


                                 Desde tempos remotos personalidades como Sócrates, Darwin, Russell, Santo Agostinho e até  Thomas Jefferson, entre outros, tem alertado a humanidade sobre o a ignorância e as suas características. 
“Só sei que nada sei” de Sócrates (o filosofo grego). À medida que vamos acumulando experiência sobre um assunto, vamos percebendo o quanto ainda temos para aprender sobre ele.

“Charles Darwin disse que “a ignorância gera mais frequentemente confiança do que o conhecimento”. Isto é, quanto menos sabemos de um determinado assunto maior a tendência para pensarmos que sabemos tudo.

No século XX, o filósofo inglês Bertrand Russell escreveu: "O problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de dúvidas"
É um pouco o reverso da medalha do que disse Santo Agostinho com “o reconhecimento da própria ignorância é a primeira prova de inteligência”
“He who knows most, knows best how little he knows” – Thomas Jefferson
René Descartes "Daria tudo que sei por metade do que ignoro"
Dunning e Kruger dois psicólogos da Universidade de Cornell estudaram este fenômeno e realizaram experiências até enunciar a sua hipótese conhecida como o efeito Dunning-Kruger. 
Para eles este fenômeno é um distúrbio cognitivo pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros mais bem preparados,  porém esta própria incompetência os restringe da habilidade de reconhecer os próprios erros. Estas pessoas sofrem de superioridade ilusória.
Numa sociedade onde a forma se valoriza mais do que o conteúdo a gente pode terminar contratando ou seguindo os conselhos de um suposto especialista "incompetente" que aparenta saber muito, tomando decisões erradas e chegando a resultados catastróficos. 
Os portadores dessa síndrome receberam de Dunning o carinhoso apelido de “idiotas confiantes”. “Os incompetentes são frequentemente abençoados com uma confiança inadequada, afiançada por alguma coisa que, para eles, parece conhecimento.”
Este tipo de pessoas falham em:
  • reconhecer sua própria falta de habilidade e as suas limitações;
  • reconhecer as habilidades genuínas em outras pessoas, pessoas que não escutam;
  • reconhecer a extensão de sua própria incompetência;
  • reconhecer e admitir sua própria falta de habilidade, depois que forem treinados para aquela habilidade.
Os verdadeiros especialistas raramente se referem a eles como tal e são substancialmente mais modestos do que aqueles que assim se intitulam.

Os verdadeiros especialistas sabem que ainda têm um longo caminho a percorrer até o serem, se é que algum dia o serão. Sabem que haverá sempre quem seja melhor e pior do que todos nós em todas as atividades e que, por isso, devemos evitar os rótulos. 
Todos nós reconhecemos ou vivenciamos uma situação semelhante. Afinal, quem nunca se deparou com alguém, totalmente ignorante em alguma área do conhecimento, que nunca leu nada sobre o assunto, agir como um sábio e tentar refutar ou debater ideias bem estabelecidas, conhecidas e elaboradas por estudiosos e talentosos especialistas? 
Isso em educação é um clássico, muitos profissionais muito reconhecidos são péssimos professores, acontece que o fato de conhecer os conteúdos da sua área de estudo não faz deles especialistas em educação e muito menos bons professores.
Vivemos na sociedade do conhecimento e no império da complexidade onde o todo de qualquer cenário de atuação é muito mais do que a somatória das partes, e o conhecimento é considerado como algo transitório.
Por esse motivo, esta sociedade tem como característica fundamental a reflexão, que é considerada como uma porta aberta a mudança e ao reconhecimento de que o que ontem dávamos por sabido amanha pode ser  considerado um completo erro.
Ou o que é bom e certo num contexto pode ser um completo desastre em outro contexto, algo que os ignorantes de plantão nem sequer reconhecem já que não desenvolveram a sua capacidade de reflexão.
Uma sociedade onde o diálogo, a capacidade de escutar e de duvidar são os métodos por excelência para crescer e aprender a aprender; quando nos abrimos a escutar e a refletir é como se pedíssemos emprestada a mente dos outros cheia de conhecimentos e experiências para nos enriquecer.
Lamentavelmente nesta sociedade nos deixamos guiar pela aparência. E as aparências enganam. 
Tanta é a quantidade de conhecimento que circula na sociedade atual que ao invés de reconhecer as nossas limitações e nos associarmos com outras pessoas que sabem o que não sabemos para completar-nos terminamos perdendo a capacidade de reconhecer os nossos limites.
Lamentavelmente possuir um titulo, seja de uma universidade nacional ou estrangeira reconhecida não configura nenhuma garantia de conhecimento, e o que é pior encontramos muita gente ocupando cargos de altíssimo nível que não entendem do que falam e que ficam possuídos com gente que pensa diferente, os ignorando e até combatendo.
Existem hoje muitos profissionais de palco como diz Felipe Machado, que são bons para apresentações, emocionam  e cativam o público, mas que em muitos casos não teriam conteúdo a agregar além de frases de efeito e ideias vazias. 
Uma coisa é certa somos todos aprendizes e mestres, ao mesmo tempo, quando nos topamos com profissionais cheios de si que se apresentam como gênios é um bom momento para começar a duvidar já que ninguém, ninguém sabe tudo.
Uma das qualidades mais importantes de um profissional hoje é aprender a aprender e isso só se consegue com humildade, aprendendo a escutar.
Mas como superar esta situação?
O primeiro a entender é que todos nós, em algum momento da vida, por insegurança, imaturidade ou por outros motivos, passamos por isso. Assim, não podemos condenar ninguém e deveríamos ficar vigilantes para não cair na armadilha da superioridade ilusória.
Também é importante entender que nunca saberemos tudo e aos poucos devemos ir estudando mais e mais, sem sentirmo-nos satisfeitos. Lembrem as palavras de Guimarães Rosa:
“O animal satisfeito dorme.”
Numa fase de transição, como a que estamos vivendo, instala-se o debate cuja dialética se define entre o certo e o incerto, o estável e o instável, o contínuo e a ruptura.
A realidade é que estamos em pleno processo de construção de uma sociedade tecnológica digital global que se configura como uma sociedade profundamente dinâmica e comunicativa, com novas linguagens, códigos, condutas, costumes e valores. 
Friedrich Nietzsche certa vez falou que:
“As convicções são inimigas mais poderosas da verdade do que as mentiras.”
Já não são suficientes as competências clássicas do passado que continuam a se oferecer às empresas nos treinamentos e palestras corporativas como uma panacéia para todos os males. 
Não adianta continuar a ensinar técnicas, por melhores que estas sejam, ou repetir frases de efeito com os famosos 7 passos para seu um líder, ou contratar um showmen Top, como vemos em muitas avisos para eventos corporativos.
Necessitamos formar os colaboradores para enfrentar um novo mundo, uma realidade onde a estabilidade é uma ilusão, o saber representa uma resposta temporária e as técnicas que repetíamos uma vez ou outra deixaram de ser importantes, até porque uma técnica, diferente de uma estratégia, foi concebida para a repetição cega em contextos estáveis e preestabelecidos.
Por exemplo: fazer uma comida sempre com os mesmos ingredientes para a mesma quantidade de pessoas. Mas o que acontece se o alho acaba? Preciso criar uma nova estratégia, adaptar a técnica a uma nova situação e para isso é necessário possuir capacidades de adaptação as diversas condições do contexto.
Conheço inúmeros profissionais de primeira linha que se lhes acaba o alho, não sabem o que fazer. E acham que uma e outra vez o único válido é o que eles aprenderam. 
Parafraseando a Mark Twain:
“Quando o único instrumento que você tem é um martelo, todo problema que apareça você tratará como um prego.”
Estamos vivendo num momento de transição, onde surge um novo tipo de racionalidade que é necessário desenvolver:
  • Que incorpora o sujeito e seus “preconceitos”. É muito importante manter a mente aberta, apesar do que conhecemos ou acreditamos, as vezes o que achávamos que era de uma forma, termina sendo de outra, e se não temos a mente aberta nunca teremos condição de reagir as mudanças e novas tendências do mercado.
  •  
  • Que resgata os outros na construção do consenso intersubjetivo; já que é a partir da troca mútua que se constrói e reconstrói o conhecimento, como colocava no artigo anterior, é como pedir emprestada a mente dos outros com conhecimentos e experiências para enriquecer a nossa.
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  • Que promove uma cultura com regras de convivência que ressaltam a importância das diferenças, da tolerância, da empatia e do diálogo; um processo eminentemente reflexivo e dialógico.
  •  
  • Que aceita a complementaridade metodológica como abordagem para alcançar a compreensão do complexo mundo que habitamos. Hoje se torna imprescindível a abordagem interdisciplinar para a compreensão do contexto e as suas tendências.
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  • Que supera o simplismo do pensamento lógico da explicação causal pela multirreferencialidade, ou seja, implementar óticas de leitura plurais e contraditórias para entender melhor uma realidade, uma dificuldade ou um problema a partir de diferentes perspectivas, em função de sistemas de referência distintos.
  •  
  • Que concebe o conhecimento como um processo inacabado, um permanente “sendo”; E quando falamos de conhecimentos nos referimos tanto aos conhecimentos teóricos como metodológicos, afinal o método é um conteúdo.
Lamentavelmente muitas universidades e organizações continuam formando e promovendo a formação de profissionais feitos; enchem a cabeça das pessoas com conteúdos (teorias e técnicas), como se eles fossem a última palavra dessa área de conhecimento. Ou seja, formam pessoas convictas de que sabem.
Já havia assinalado Daniels que o ensino direto de conceitos prontos para serem empacotados é pedagogicamente improdutivo.

O professor que tenta usar essa abordagem não alcança mais do que um aprendizado estúpido de palavras, um verbalismo vazio que estimula ou imita a presença de conceitos.  Nessas condições se aprende não o conceito, mas a palavra, que ele capta pela memória, não pelo pensamento.
Assim surge uma geração de profissionais que dominam as palavras mas não os conceitos que elas significam e não conseguem aplicar e muito menos transferir os conceitos a outros contextos de atuação.
Necessitamos ir muito, além disso, na realidade atual; promover o exercício do “olhar para dentro”, e desenvolver a capacidade de “usar” bem o conhecimento que se tem, permitindo modificar a própria ação.
Há a necessidade de desenvolver estilos de pensamento meta-cognitivos, complexos, abertos às incertezas e às mudanças constantes, para dar conta de um mundo em constante transformação. 
Precisamos aprender a aprender, e aprender a pensar.
Vivemos na era dos profissionais reflexivos na ação e sobre a ação, até porque a vida não espera e a reflexão na ação sempre é limitada. O Laboratório de Mudança, por exemplo, é um método e um instrumental novo para a intervenção formativa nas atividades de trabalho, projetado para atender a essa necessidade e auxiliar a transformação qualitativa e a aprendizagem expansiva no âmbito dessas atividades.


   Não falamos apenas em efetuar mudanças nas práticas organizacionais, mas também no desenvolvimento da capacidade continuada dos profissionais para desenvolvê-las de modo expansivo, com o suporte de novas ferramentas conceituais e novas práticas.

    Um tipo de proposta na qual uma unidade operacional, por exemplo, resolve seus problemas e contradições internas através da construção de novas formas de funcionamento coletivo. 

     O certo é que é hora de que os treinamentos corporativos e as universidades descubram nas ciências da educação uma base sólida para formar profissionais do século XXI. No mundo a educação há tempos deixou de ser um simples conteúdo de repetição.
         
                (Autor do Artigo: Prof. Dr. Daniel Luzzi ,Diretor Cognição  educação digital e tecnologia social)

                     Retirado do link:


              

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