A
milenar arte de educar dos povos Indígenas
Educar é dar
sentido. É dar sentido ao nosso estar no mundo. Nossos corpos precisam desse
sentido para se realizar plenamente. Mas também nossos corpos são vazios de
imagens e elas precisam fazer parte da nossa mente para possamos dar respostas
ao que se nos apresenta diuturnamente como desafios da existência. É por isso
que não basta dar alimento apenas ao corpo, é preciso também alimentar a alma, o espírito. Sem comida o corpo
enfraquece e sem sentido é a alma que se entrega ao vazio da existência.
A educação tradicional entre os povos indígenas se
preocupa com esta tríplice necessidade: do corpo, da mente e do espírito. É uma
preocupação que entende o corpo como algo prenhe de necessidades para poder se
manter vivo.
Esta visão de
educação é sustentada pela idéia de que cada ser humano precisa viver
intensamente seu momento.
A criança indígena é, então, provocada para ser
radicalmente criança. Não se pergunta nunca a ela o que pretende ser quando
crescer. Ela sabe que nada será se não viver plenamente seu ser infantil. Nada
será por que já é. Não precisará esperar crescer para ser alguém.
Para ela é apresentado o desafio de viver
plenamente seu ser infantil para que depois, quando estiver vivendo outra fase
da vida, não se sinta vazia de infância. A ela são oferecidas atividades
educativas para que aprenda enquanto brinca e brinque enquanto aprende num
processo contínuo que irá fazê-la perceber que tudo faz parte de uma grande
teia que se une ao infinito.
Num mesmo
movimento ela vai sendo introduzida no universo espiritual. Embalada pelas
histórias contadas pelos velhos da aldeia, a criança e o jovem passam a
perceber que em seu corpo moram os sentidos da existência. Este sentido é
oferecido pela memória ancestral concentrada nos velhos contadores de
histórias. São eles que atualizam o passado e o fazem se encontrar com o
presente mostrando à comunidade a presença do saber imemorial capaz de dar
sentido ao estar no mundo.
Este processo todo é alimentado por rituais que
lembram o passado para significar o presente. São movimentos corpóreos
embalados por cantos e danças repetidos muitas vezes com o objetivo de “manter
o céu suspenso”. A dança lembra a necessidade de sermos gratos aos espíritos
criadores; contam que precisamos de sentidos para viver dignamente; ordena a
existência. Cada grupo de idade ritualiza a seu modo. Cada um se sente
responsável pelo todo, pela unidade, pela continuidade social.
Educar é, portanto, envolver. É revelar. É
significar. É mostrar os sentidos da existência. É dar presente. E não acaba
quando a pessoa se “forma”. Não existe formatura. Quem vive o presente está
sempre em processo.
É por isso que a
criança será sempre criança. Plenamente criança. Essa é a garantia de que o
jovem será jovem no seu momento. O homem adulto viverá sua fase de vida sem
saudades da infância, pois ele a viveu plenamente. O mesmo diga-se dos velhos. O que cada um traz dentro de si é a alegria
e as dores que viveram em cada momento. Isso não se apaga de dentro deles, mas
é o que os mantém ligados ao agora.
Resumo da ópera: A educação tradicional indígena
tem dado certo. As pessoas se sentem completas quando percebem que a completude
só é possível num contexto social, coletivo. Cada fase porque passa um indígena
– desde a mais tenra idade – alimenta um olhar para o todo, pois o conhecimento
que aprendem e vivem é um saber holístico que não se desdobra em mil
especialidades, mas compreende o humano como uma unidade integrada a um Todo
maior e Único.
Olhar os povos indígenas brasileiros a partir de
uma visão rasa de produção, de consumo, de riqueza e pobreza é, no mínimo,
esvaziar os sentidos que buscam para si.
Retirado do link :
Nenhum comentário:
Postar um comentário