Márcio Motta, educador
do litoral de São Paulo usa mapas personalizados para mostrar a relação afetiva
de crianças e adolescentes com o ambiente escolar
Quem
melhor para retratar o cotidiano escolar do que os próprios alunos? Com essa
máxima, um educador do litoral de São Paulo teve a ideia de mapear escolas de
todo o país a partir do registro fotográfico de crianças e adolescentes. Para
mostrar como eles se relacionam com o local onde estudam, o professor Márcio
Motta criou o projeto “Minha Escola no Mapa”, que apresenta a fotografia como
uma ferramenta de expressão social.
“A ideia é trazer para esses alunos a consciência do uso da fotografia
como linguagem”, explica Márcio, que faz parte da equipe de direção do Colégio
COC Novomundo, localizado em Praia Grande (SP).
Diferente do trabalho feito por um fotógrafo que
visita as escolas com o olhar de quem vem de fora, ele diz que o grande
destaque do projeto é a possibilidade dos alunos mostrarem como enxergam o seu
ambiente educacional. “Toda a estrutura do projeto se baseia no aluno enquanto
comunicador fotográfico da sua própria realidade.”
A
inspiração para desenvolver esse projeto surgiu de uma experiência realizada
com os seus alunos no Colégio COC Novomundo. Como professor de biologia, ele
foi procurado por um grupo do ensino médio para orientar um trabalho de
iniciação científica de fotografia. Sem ter conhecimentos técnicos, Márcio diz
que topou o desafio de aprender junto com os adolescentes. “Ninguém tinha muito
contato com a fotografia. O nosso conhecimento era quase zero, mas decidimos
estudar”, conta Letícia Mello, 18, que foi sua aluna durante esse período.
Conforme o grupo começou a ter experiência, outros
estudantes se interessaram pela proposta. De um coletivo fotográfico, eles
criaram a Academia de Fotografia, que se reúne desde o segundo semestre de 2016
para fazer trabalhos de várias temáticas, como bullying, empoderamento feminino
e desconstrução de estereótipos. “Cada semana a gente lançava o desafio de um
tema para estudar”, recorda Letícia. “A fotografia me ensinou a ver o mundo de
uma forma diferente.”
Enquanto descobria seu interesse pela fotografia
junto com os alunos, Márcio também entrou para o time de educadores
certificados pelo Google. Após percorrer várias cidades do país para treinar professores
com o uso de ferramentas digitais, ele percebeu que muitos ainda tinham
dificuldade de lidar com as câmeras dentro da escola, seja por falta de preparo
técnico ou até mesmo por não identificar o seu potencial educativo.
Para apoiar esses professores, ele desenvolveu uma
trilha pedagógica com atividades que ajudam a começar um projeto de fotografia
dentro da escola. Com conteúdos disponibilizados no ambiente virtual do Google
Classroom, a trilha está estruturada em etapas: o pensar fotográfico, o olhar
fotográfico, o fazer fotográfico, o compartilhamento e o encontro com
estudantes de outras realidades.
Nas primeiras etapas, a ideia é que os estudantes
reflitam sobre o que é fotografia, trabalhando também com os aspectos de
linguagem e técnica. “Independente do uso de um iPhone
de última geração ou de uma câmera feita em caixa de madeira, as fotos podem
ser belíssimas. Fotografia depende muito mais do olhar do que do equipamento”,
defende.
Uma vez familiarizados com a linguagem, os estudantes começam então a
fotografar o ambiente escolar. Feito isso, toda a produção será compartilhada
no Google Fotos, incluindo um texto explicativo sobre cada imagem. “A ideia é
que um aluno do Rio Grande do Sul consiga perceber como sua realidade escolar
pode ser parecida ou diferente da realidade de um aluno do Pará”, exemplifica.
Depois de conhecer o projeto pela internet, a professora Larissa
Fontenelle decidiu levar a proposta para sua escola. Trabalhando literatura com
o ensino médio, ela percebeu na fotografia uma possibilidade de estimular que
cerca de cem alunos de comunidades rurais de Irituia, no norte do Pará,
pudessem retratar sua realidade. “Estou longe dos grandes centros e queria
muito mostrar como as coisas funcionam aqui”, conta.
Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Maria da Conceição
Malheiros, ela começou a desenvolver o projeto relacionando a fotografia e o
realismo na literatura.
“Eu acho que isso está
despertando o olhar deles para novas formas de perceber e significar a sua
escola e a sua comunidade”, define a professora, que atualmente está na fase de
receber e armazenar as imagens produzidas pelos alunos. “Eles não vão conseguir
postar direto na internet porque não temos esse acesso.”
Após a conclusão da todas as etapas da
jornada fotográfica, os trabalhos produzidos pelos alunos irão fazer parte de
um mapa com registros de escolas de todo país. Os professores interessados em
participar do projeto Minha Escola no Mapa podem se inscrever por meio de
um formulário online até o final do mês.
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