Malcolm Lyon, aluno do 5º ano é especialmente alto e bem articulado para sua idade. Quando questionado sobre o que mais gosta em sua escola, Malcolm responde simplesmente: “Não tem bullying“
Isso pode ser
surpreendente, dada a luta contra o bullying que as escolas enfrentam
em todo o país. Malcolm começou seu 8º ano na Escola Comunitária Odyssey (Odyssey
Community School), uma pequena escola privada em Asheville, cidade
localizada no estado norte-americano de Carolina do Norte que atende estudantes
do jardim da infância até o ensino médio. Lá, o tema bullying é
abordado a partir de cinco fundamentos norteadores.
1. Reconhecer que bullying e conflito
não são a mesma coisa
A
comunidade que Malcolm está descrevendo não é um lugar sem conflito. Desacordos
acontecem, sentimentos ainda são feridos, palavras ainda são poderosas e as
crianças ainda estão aprendendo a lidar com o complexo mundo das amizades.
Odissey não é um paraíso em que a natureza humana é deixada na porta. Conflitos são parte natural da nossa
história humana e a resolução deles é uma habilidade que crianças e adultos
precisam praticar.
No entanto, não é a mesma coisa do
que bullying. Este é construído por conflitos não resolvidos e, portanto,
repetidos. O comportamento do bullying é uma estratégia aprendida e
repetida porque é eficaz em saciar necessidades insaciadas: poder, insegurança,
atenção ou vingança. No caso do conflito, no entanto, a resolução real é
alcançada sem criar uma cadeia de abusos que tanto desorienta os educadores.
2. Para quebrar o padrão, você precisa
conversar
Na quarta
série, Malcolm tinha alguns conflitos com outro estudante – vamos chamá-lo
“John”. Ele percebeu no que mais era intimidado por John: era menosprezado,
alvo de brincadeiras e frequentemente interrompido durante a sala de aula. Para lidar com esse padrão, os professores
deles promoveram uma conversa intencional. Ao descrever esse processo, Malcolm
disse: “Nós apenas falamos, sem ser maus”.
A mãe de Malcolm, Emmy Bethel, refletiu: “Foi
impressionante a compaixão dos professores e outros estudantes com esse
garotinho que claramente tinha sido ensinado a ter aquele comportamento. Ao
contrário de utilizar medidas punitivas, houve compaixão”. Nas palavras dela,
Malcolm e seus colegas de sala trabalham com a habilidade de ver as
necessidades de outra pessoa e falar claramente sobre elas.
Os
professores da Escola Comunitária Odyssey foram treinados no Marshall
Rosenberg’s Compassionate Communication, modelo de como
construir relações interpessoais com base na empatia, reconhecendo e honrando
outras necessidades básicas das pessoas.
O objetivo da Odyssey é educar a comunidade
para que todos, desde os pais, administradores, estudantes e professores
utilizem as quatro etapas de Rosenberg para resolver conflitos – sempre que
eles surgem:
1. Faça uma observação sem julgamento;
2. Identifique seus sentimentos;
3. Explique suas necessidades;
4. Afirme o seu pedido.
2. Identifique seus sentimentos;
3. Explique suas necessidades;
4. Afirme o seu pedido.
3. Resolução de conflitos como parte do
currículo
Os
programas de prevenção de bullying frequentemente
incluem vídeos constrangedores passados em sala de aula, cenários dramáticos
risíveis e discussões forçadas propostas por professores despreparados e sem o
apoio necessário. Os estudantes são duramente pressionados a não rir das
tentativas administrativas da escola para verter luz a um dos desafios mais
árduos. Esforços de cima para baixo para abordar um problema de base nunca
parecem dar conta do trabalho.
As salas de aula da Odyssey se reúnem
semanalmente para a resolução coletiva de problemas, além de conselhos que se
centram mais na exploração do que na solução de experiências emocionais, a fim
de melhorar a sensibilização e aceitação da vida emocional.
Com o surgimento dos conflitos, dia a dia,
estudantes e professores podem requisitar mediações, criarem um tempo entre
eles para a mediação, ou fazê-las durante a aula, quando isso é necessário – e
isso é necessário.
Embora o
modelo de Rosenberg possa parecer simples, pode ser também desafiador quando as
emoções estão afloradas. O tipo de ambiente que pode tornar a discussão efetiva
requer o cultivo de um tempo dedicado, elementos que os professores de escolas
públicas não tem tempo para praticar.
Pouco tempo para tratar de
maneira efetiva as discussões sobre bullying – suas manifestações
digitais, nuances de inocência ou culpa, ciclos de causa e efeito – pode ser
terrível e aterrorizante, na melhor das circunstâncias.
Tal como
acontece com qualquer habilidade, da escrita dissertativa à resolução de
equações algébricas, os alunos precisam ser ensinados sobre a resolução de conflitos
com suporte, vocabulário, prática orientada e um propósito real.
4. Problemas de base necessitam de soluções de
base
De acordo
com Leah R. Kyaio, autor de The Top 5 Reasons Bullies Bully,
o bullying acontece porque o sistema é modelado por adultos. Por mais
bem intencionados que sejam, as ações de cima para baixo, feitas por gestores –
ações essas que frequentemente fazem com que estudantes e os professores
revirem os olhos – são uma forma de bullying.
Ao invés de impor palestras durante a semana
anti bullying (como se nós realmente fôssemos tratar essa epidemia em
uma semana isoladamente), a comunicação e a alfabetização emocional deveriam
ser pilares do currículo diário, de uma maneira prática.
Malcolm e
John não são o que qualquer um chamaria de amigos. Se perguntado, Malcolm
poderia dizer, honestamente, que ele nem gosta muito do garoto. Ele poderia
dizer que o entendeu e que, contudo, está em paz com o que aconteceu entre
eles. Tendo passado pela experiência do ano anterior, agora ele se sente mais
confiante de abordar conflitos.
5. Buscar restauração, não retribuição
Conforme
os estudantes amadurecem, os conflitos podem se tornar mais complicados e os
estudantes se tornam mais conscientes de suas responsabilidades
pessoais. Para atender a essa mudança progressiva e envolver os alunos
mais velhos na criação de uma cultura de responsabilidade e cidadania, alunos e
professores do ensino fundamental e médio da Odyssey fazem uso da Dominic
Barter’s Restorative Justice Circles.
Dentro
dos chamados Comitês de Equidade, estudantes trabalham juntos para defender os
valores da comunidade escolar, praticam reparação quando os conflitos acontecem
e utilizam os fundamentos da Comunicação Compassiva (Compassionate
Communication) a cada encontro.
Ao invés de simplesmente proferir um pedido
de desculpas ou receber suspensão ou retenção, os Comitês agregam criatividade
às suas soluções para reparar os danos, às vezes pedindo ao “autor”
do bullying para cozinhar alimentos, fazer um filme, ou tomar medidas para
reconstruir o relacionamento comprometido.
Ao evitar medidas punitivas, nós empoderamos
e capacitamos os estudantes a simpatizarem com sua própria experiência e
com os outros e a criarem a cultura da comunidade que todos nós intuitivamente
desejamos.
Conteúdo elaborado a partir de tradução
do Edutopia
Retirado do link :
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