segunda-feira, 27 de maio de 2019

Aplicativo desenvolvido na USP ajuda a treinar fala de crianças com DownSoftware reconhece sons e imagens produzidos durante os exercícios e fornece relatórios para ajudar pais, profissionais e pacientes


  Aplicativo saído dos laboratórios do Departamento de
Computação e Matemática, da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, treina fala de
pessoas com síndrome de Down

                    
Trata-se do SofiaFala, sistema inteligente, interativo e gratuito que
roda em celulares e tablets com Android (por enquanto) e aproxima
 pais, fonoaudiólogos e pacientes por meio de aprendizado de
 máquina e da inteligência artificial.

A novidade é uma tecnologia assistiva que pretende melhorar a
 qualidade de vida de pessoas com dificuldades de fala. O sistema
capta sons e imagens produzidos durante a execução do exercício
 fonoaudiológico e depois os analisa, oferecendo dois tipos de
 respostas sobre a performance da criança: uma lúdico-educacional,
 com orientações para o paciente e para o responsável pelo treino;
 outra, com dados métricos e estatísticos para o fonoaudiólogo
avaliar,acompanhar e orientar a evolução clínica da criança.

Especialista em sistemas de computação e uma das coordenadoras
do projeto SofiaFala, Alessandra Alaniz Macedo, professora da
 FFCLRP, adianta que um protótipo do aplicativo já está em fase de
 testes por usuários da ONG RibDown-RP, do Centro Integrado de
 Reabilitação do Hospital Estadual de Ribeirão Preto (CIR-HE) e de
 clínicas particulares.

A professora comenta que, por ser de fácil operação, o SofiaFala
pode ser utilizado pelas pessoas em suas próprias residências,
seja com supervisão dos pais ou até mesmo sozinhas. 

À medida que ela repete movimentos e sons – um beijo, um estalo
 de língua ou um sopro – e até mesmo quando articula uma
 palavra
ou uma frase, o aplicativo manipula a informação e compara com
um modelo adequado de produção desses sons. Em caso de
dúvidas,
 a criança ou o tutor pode acessar imagens, vídeos e sons de
 orientação com um simples toque.”

Enquanto os algoritmos inteligentes do SofiaFala respondem –
 reconhecendo e analisando os sons e imagens – sobre
 performance e adequação dessa criança ao desempenho do exercício, o profissional que a acompanha também é abastecido pelas informações do aplicativo. Sobre a interface de
máquina (smartphone), “o sistema é flexível e permite a criação de
 treinos que se adaptem às características do usuário (paciente),
 conforme o tratamento evolui”, diz a especialista.

Tecnologia adequada à realidade brasileira

Quando Sofia nasceu, sua mãe, a cientista da computação
Marinalva Dias Soares, se deu conta de que necessitaria de
recursos para ajudá-la. Sofia foi diagnosticada com síndrome de
Down e precisaria de tratamento fonoaudiológico, entre outras
terapias, para desenvolver a fala. Marinalva pretendia incrementar

essa terapia em sua própria casa e então procurou a professora
 Alessandra na FFCLRP.

Como as tecnologias existentes não atendiam às necessidades da
 Sofia, as duas cientistas da computação e seus colegas decidiram
 criar uma tecnologia mais adequada à realidade das famílias
brasileiras. Em 2016, o projeto SofiaFala ganhou vida com
 subsídio do CNPq e com a incumbência de desenvolver um
software inteligente de apoio à fala para crianças com síndrome de
Down (SD) nascidas no Brasil.

Para agilizar o processo, a equipe envolveu ativamente no projeto
 especialistas da área de fonoaudiologia, usuários finais
 (cuidadores e crianças com SD) e colegas da computação.

O objetivo principal dessas parcerias, segundo as cientistas,
 é fazer os pais estimularem seus filhos com o treinamento
 fonoaudiológico, usando o aplicativo em suas casas e reportando
 os resultados para a equipe de computação do projeto SofiaFala.

Com essas informações, elas acreditam que poderão aprimorar
futuras versões do aplicativo.

O trabalho é coordenado pela professora Alessandra, que divide
 responsabilidades com sua colega Patrícia Pupin Mandrá,
professora do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de
 Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenadora do CIR-HEA, e
assessorado pela fonoaudióloga Myrian Christina Neves Botelho de
Andrade.A equipe conta ainda com outras duas dezenas de
 especialistas, particularmente de ciências da computação e
 fonoaudiologia, além de bolsistas contratados com recursos do
CNPq para atividades de pesquisa e desenvolvimento.

Auxiliar no desenvolvimento da fala e sua inteligibilidade

A taxa mundial de incidência da SD é de um para cada 700 bebês.
No Brasil, nascem por ano 4 mil bebês com SD e existem
 aproximadamente 300 mil brasileiros com SD, incluindo todas as
faixas etárias.

A SD é uma alteração genética no par do cromossomo 21 que,
dentre outros fatores, compromete o intelecto e a fala de quase
cem por cento das pessoas diagnosticadas. Porém, sabe-se
 que estímulos e terapias integradas com uma equipe multiprofissional
 favorecem o desenvolvimento da fala e da comunicação e,
consequentemente, a qualidade de vida.

As tecnologias assistivas, cada vez mais presentes na vida de
 pessoas com deficiência intelectual, motoras e psíquicas, podem
 melhorar habilidades de comunicação e de fala, mas ainda não
estão adaptadas à realidade brasileira.

Os sistemas que lhes dão
 vida rodam, principalmente, no idioma inglês, o que requer alto
custo econômico de famílias, cuidadores e equipe de cuidado.

É nesse contexto que surge o grupo de pesquisa SofiaFala, criando
 e distribuindo “um software para auxiliar no trabalho de
desenvolvimento da fala e sua inteligibilidade”, garante a
 coordenadora do grupo. 

Um aplicativo para dispositivo móvel, inteligente, gratuito e
 que apoie a criança com SD e seus cuidadores na execução
dos treinos fonoaudiológicos em casa. E, também, que ofereça
ao fonoaudiólogo mecanismos para realizar a prescrição de
 treinamentos e um acompanhamento mais eficiente da evolução da
fala das crianças com SD.

Mais informações: e-mail sofiafala.contato@gmail.com
Com colaboração de Vitória Junqueira

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