segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

BULLYING NA ESCOLA E SEUS EFEITOS NO CÉREBRO


     O bullying é uma realidade que vem cada vez mais crescendo no país, atingindo diretamente o cotidiano escolar


                     
   Basta um olhar atento quanto ao tema na mídia e logo veremos a quantidade de casos que ocorrem na escola todos os dias — e não apenas entre alunos.
Neste artigo vamos relembrar alguns acontecimentos chocantes envolvendo o bullying escolar que estiveram na mídia brasileira recentemente, bem como elucidar o que as pesquisas no campo da neurociência têm descoberto sobre essa forma tão séria de agressão.

Antes de mais nada, uma definição:
O bullying é caracterizado por uma violência física ou psicológica, intencional ou não, de um indivíduo/grupo contra um indivíduo/ grupo.

Alguns casos recentes comprovam que esse é um assunto sério e que deve ser tratado com cuidado, tanto por pais quanto por professores.
Em uma rápida pesquisa pelo Google, selecionei 3 dos tantos casos que ilustram a importância de um debate sobre o tema, além da necessidade de medidas que realmente contribuam na resolução do problema.

 

CASO 1: BULLYING DE ALUNO PARA ALUNO


O garoto Samuel Farias morreu em conseqüência de agressões sofridas por colegas na escola. O estudante de 12 anos sofreu uma pancada com um objeto contundente na cabeça durante uma briga, de acordo com o laudo da Polícia Civil.

O estudante sofreu agressões de um grupo de alunos mais velhos em março e faleceu em 6 de abril.


CASO 2: BULLYING DE ALUNO PARA PROFESSOR


Nas imagens postadas nas redes sociais, o adolescente de 14 anos, que cursa o 6º ano, aparece ofendendo uma professora com palavras de baixo calão. Além disto, ele chega a bater nas nádegas e a tocar nos seios dela, enquanto os colegas dão risadas. O caso aconteceu em 10 de abril, mas se tornou público depois que foi parar na internet.

Em uma parte do vídeo, após derrubar propositalmente os livros que estavam sendo organizados pela professora, que dava aulas especiais na biblioteca, o aluno ordena para que ela os pegue no chão. A funcionária pede licença por várias vezes e é ignorada.

ASSISTA ÀS CENAS DO ABUSO




         

CASO 3: O MASSACRE DO REALENGO


Um homem de 23 anos entrou em uma escola municipal na Zona Oeste do Rio), atirou contra alunos em salas de aula lotadas, foi atingido por um policial e se suicidou. O crime foi por volta das 8h30.

Segundo o diretor do hospital para onde as vítimas foram levadas, 11 crianças morreram (10 meninas e 1 menino) e 13 ficaram feridas (10 meninas e 3 meninos). As crianças têm idades entre 12 e 14 anos.

     VÍDEO DO PRÓPRIO ATIRADOR DIZENDO QUE SOFRIA BULLYING ESCOLAR

                     
                                       

Além das consequências imediatas, o problema causado por essa forma de violência é que não sabemos o quão mal faz o bullying a longo prazo – pelo menos não sabíamos.
Pesquisas recentes têm revelado que ele é mais que uma parte infeliz do crescimento. Ele pode causar mudanças a longo prazo no cérebro que leva a déficits cognitivos e emocionais tão graves quanto os danos causados pelo abuso sexual de crianças.
Ser intimidado é uma experiência estressante. As vítimas de bullying muitas vezes lutam contra ansiedade, depressão, baixa autoestima e abuso de drogas – algo que se estende até a idade adulta.
Acontece que muitas mudanças de longo prazo para o cérebro podem estar por trás desses problemas comportamentais. O bullying pode deixar uma marca duradoura no cérebro em desenvolvimento, e a neurociência está começando a mostrar como são devastadoras e persistentes as cicatrizes que isso pode causar.
Abaixo, relacionei 6 fatos sobre o bullying e o cérebro numa perspectiva que vai muito além da sala de aula.

 

1. QUEM SOFRE BULLYING TEM MAIOR TENDÊNCIA A USAR DROGAS


O estresse crônico em humanos é um conhecido fator de risco para o abuso de drogas, e os cientistas querem saber se ser vítima de assédio moral representa um risco semelhante.
Para estudar isso, cientistas como Klaus Miczek, um psicólogo da Universidade Tufts, produziu um modelo de assédio moral em roedores, colocando um rato mais velho e mais agressivo na gaiola de um animal mais jovem. O animal dominante empurra e morde o mais jovem, mostrando quem é que manda.
Miczek descobriu que os animais vítimas de bullying têm maiores quantidades do hormônio corticosterona em áreas do cérebro que processam estímulos recompensadores, como drogas de abuso.
Ele também viu que o excesso do hormônio pode permanecer nessas áreas do cérebro por muito tempo após o fim da situação de estresse, possivelmente levando a uma tendência para o abuso de drogas.


Assim, quando permitido acesso a drogas como cocaína e álcool, os roedores intimidados de Miczek consumiram mais do que os animais não intimidados, mesmo meses mais tarde, quando já adultos.

 

2. O HORMÔNIO DO ESTRESSE PODE PERMANECER NO CÉREBRO POR MUITO TEMPO APÓS A SITUAÇÃO DE ESTRESSE.


O aspecto mais interessante dessa pesquisa, Miczek diz, trata-se de como é preciso pouco estresse social para levar a um efeito persistente, de longa duração.
“Em ratos, ele requer apenas quatro episódios de estresse social, que são cinco minutos de duração cada um”, diz ele. “E os efeitos também são vistos na vida adulta.”

3. ADOLESCENTES QUE SOFREM BULLYING APRESENTAM NÍVEIS ANORMAIS DE CORTISOL, QUE ENFRAQUECE O SISTEMA IMUNOLÓGICO E PODE MATAR CÉLULAS NERVOSAS DO HIPOCAMPO, AFETANDO A MEMÓRIA


O bullying também pode alterar os hormônios do estresse em seres humanos.
Em um estudo de longo prazo em adolescentes, Tracy Vaillancourt, um psicólogo da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que meninos e meninas vítimas de bullying têm níveis anormais de cortisol em comparação a seus pares não intimidados.
Níveis anormais de cortisol podem enfraquecer o sistema imunológico e até mesmo matar as células nervosas do hipocampo, uma região do cérebro responsável pela memória.

 

4. ADOLESCENTES VÍTIMAS DE BULLYING APRESENTAM DESEMPENHO MAIS FRACO EM TESTES DE MEMÓRIA.


Na verdade, Vaillancourt descobriu que adolescentes vítimas de bullying apresentaram desempenho mais fraco em testes de memória concebidos para examinar o funcionamento do hipocampo em comparação com seus pares não intimidados, sugerindo que os níveis de cortisol anormais podem estar afetando seus cérebros.

5. QUANDO EXPOSTO A SITUAÇÕES DE ESTRESSE, O ORGANISMO PRODUZ MAIS GLÓBULOS BRANCOS. O ESTRESSE SOCIAL PODE LEVAR A UMA RESPOSTA IMUNE AUMENTADA QUE ALTERA ALGUNS COMPORTAMENTOS.


O stress social também tem um efeito dramático sobre o funcionamento do sistema imunológico, que por sua vez pode afetar negativamente as funções cerebrais.
Quando expostos ao estresse, nossos corpos produzem mais glóbulos brancos, que produzem e liberam substâncias pró-inflamatórias que normalmente funcionam para ajudar o corpo a combater infecções.
No caso de stress crônico, os cientistas pensam que o corpo produz um excesso de glóbulos brancos, resultando em uma produção contínua de substâncias pró-inflamatórias.
“Quando você vivencia um estresse social crônico, você tem a resposta imune que não é desligada corretamente”, diz Scott Russo, um neurocientista da Faculdade de Medicina Icahn no Monte Sinai.

“O sistema imunológico eleva suas defesas mas “se esquece” de baixá-las, o que pode provocar danos como a morte de células nervosas. Em indivíduos vulneráveis, essas mudanças podem durar até mesmo meses após ao estresse.”, ele completa.

 

6. CRIANÇAS VÍTIMAS DE AGRESSÃO MUITO PROVAVELMENTE SERÃO ADULTOS AGRESSORES

Pesquisadores da Universidade do Texas, em Austin, estudaram os efeitos do estresse social em hamsters e descobriram que espécimes juvenis que foram intimidados por um adulto se tornaram mais agressivos para com os animais menores.
“Basicamente, uma vítima se torna um vitimizador”, afirma Yvon Delville, que liderou o estudo.
Delville também examinou os cérebros dos hamsters e descobriu que animais socialmente estressados mostraram alterações nos níveis dos neurotransmissores serotonina e vasopressina.
Nas pessoas, níveis elevados de vasopressina estão associadas a um aumento da agressão, enquanto que a serotonina é conhecida por inibi-la.
Hamsters intimidados tinham níveis mais baixos de vasopressina e maiores níveis de serotonina do que os seus irmãos não intimidados.
Delville está atualmente pesquisando sobre como essas mudanças nos níveis de neurotransmissores levam a uma maior agressividade — ele suspeita que a agressão é um efeito de mudanças em áreas do cérebro que governam características mais gerais de comportamento, tais como o controle de impulsos.
Os resultados de Delville sugerem que a adolescência pode ser um período crucial para o desenvolvimento de comportamentos agressivos na idade adulta. Ele diz, além disso, que seus resultados apoiam aquilo que é muitas vezes observado em humanos: onde há violência contra as crianças, haverá crianças tornando-se violentas.
“O nosso trabalho apoia a ideia de que o bullying é realmente um evento seriamente prejudicial na vida de uma criança. É uma questão de saúde pública, uma vez que afeta tantas crianças negativamente, além de as evidências biológicas suportarem que representa um risco para futuros problemas de saúde.” diz Vaillancourt.

 

CONCLUSÃO


O bullying é uma questão séria de saúde pública.
Nem todas vítimas têm danos químicos ou estruturais de longo prazo em seus cérebros ou mudanças em seu comportamento, mas alguns podem carregar cicatrizes neurológicas por toda a vida.
Além disso, as pesquisas do campo da neurociência estão ajudando a reformular o bullying como uma forma grave de trauma de infância.

 

REFERÊNCIAS


Burke AR, Miczek KA. Stress in adolescence and drugs of abuse in rodent models: role of dopamine, CRF, and HPA axis. Pschopharmacology 231(8): 1557-1580 (2014).
Christoffel DJ, Golden SA, Russo SJ. Structural and synaptic plasticity in stress-related disorders. Nature Reviews Neuroscience. 22(5): 535-549 (2011).
Delville Y, Melloni RH Jr., Ferris CF. Behavioral and neurobiological consequences of social subjugation during puberty in golden hamsters. The Journal of Neuroscience. 18: 2667-2672 (1998).
Norman KJ, Seiden JA, Klickstein JA, Han X, Hwa LS, et al. Social stress and escalated drug self-administration in mice I. Alcohol and corticosterone. Psychopharmacology. 232(6): 991-1001 (2015).
Russo SJ, Murrough J, Han MH, Charney DS, Nestler EJ. Neurobiology of resilience. Nature Neuroscience. 15(11): 1475-1484 (2012).
Vaillancourt T, Duku E, Becker S, Schmidt L, Nicol J, et al. Peer victimization, depressive symptoms, and high salivary cortisol predict poor memory in children. Brain and Cognition. 77: 191-199 (2011).
Vaillancourt T, Duku E, deCatanzaro D, MacMillan H, Muir C, et al. Variation in hypothalamic-pituitary-adrenal axis activity among bullied and non-bullied children. Aggressive Behavior. 34: 294-305 (2008).
Vaillancourt T, Hymel S, McDougall P. The biological underpinnings of peer victimization: Understanding why and how the effects of bullying can last a lifetime. Theory into Practice. 52: 241-248 (2013).

Todas as Reportagens referentes aos casos de Bullying foram retiradas do site G1 

             Retirado do link :


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