O bullying é uma realidade que vem cada vez mais crescendo no país, atingindo diretamente o cotidiano escolar
Basta um olhar atento quanto ao tema na mídia e logo veremos a quantidade de casos que ocorrem na escola todos os dias — e não apenas entre alunos.
Neste artigo vamos relembrar alguns acontecimentos chocantes
envolvendo o bullying escolar que
estiveram na mídia brasileira recentemente, bem como elucidar o que as
pesquisas no campo da neurociência têm descoberto sobre essa forma tão séria de
agressão.
Antes de mais nada, uma definição:
O bullying é caracterizado por uma violência física ou
psicológica, intencional ou não, de um
indivíduo/grupo contra um indivíduo/ grupo.
Alguns casos recentes comprovam
que esse é um assunto sério e que deve ser tratado com cuidado, tanto por pais
quanto por professores.
Em uma rápida pesquisa pelo Google, selecionei 3 dos tantos casos
que ilustram a importância de um debate sobre o tema, além da necessidade de
medidas que realmente contribuam na resolução do problema.
CASO 1: BULLYING DE ALUNO PARA ALUNO
O
garoto Samuel Farias morreu em conseqüência de agressões sofridas por colegas
na escola. O estudante de 12 anos sofreu uma pancada com um objeto contundente
na cabeça durante uma briga, de acordo com o laudo da Polícia Civil.
O
estudante sofreu agressões de um grupo de alunos mais velhos em março e faleceu
em 6 de abril.
CASO 2: BULLYING DE ALUNO PARA PROFESSOR
Nas
imagens postadas nas redes sociais, o adolescente de 14 anos, que
cursa o 6º ano, aparece ofendendo uma professora com palavras de baixo calão.
Além disto, ele chega a bater nas nádegas e a tocar nos seios dela, enquanto os
colegas dão risadas. O caso aconteceu em 10 de abril, mas se tornou público
depois que foi parar na internet.
Em uma parte do vídeo, após derrubar
propositalmente os livros que estavam sendo organizados pela professora, que
dava aulas especiais na biblioteca, o aluno ordena para que ela os pegue no
chão. A funcionária pede licença por várias vezes e é ignorada.
ASSISTA ÀS CENAS DO ABUSO
CASO 3: O MASSACRE DO REALENGO
Um
homem de 23 anos entrou em uma escola municipal na Zona Oeste do Rio), atirou
contra alunos em salas de aula lotadas, foi atingido por um policial e se
suicidou. O crime foi por volta das 8h30.
Segundo
o diretor do hospital para onde as vítimas foram levadas, 11 crianças morreram
(10 meninas e 1 menino) e 13 ficaram feridas (10 meninas e 3 meninos). As
crianças têm idades entre 12 e 14 anos.
VÍDEO
DO PRÓPRIO ATIRADOR DIZENDO QUE SOFRIA BULLYING ESCOLAR
Além das consequências imediatas, o problema
causado por essa forma de violência é que não sabemos o quão mal faz o bullying
a longo prazo – pelo menos não sabíamos.
Pesquisas
recentes têm revelado que ele é mais que uma parte infeliz do crescimento. Ele
pode causar mudanças a longo prazo no cérebro que leva a déficits cognitivos e
emocionais tão graves quanto os danos causados pelo abuso sexual de
crianças.
Ser intimidado
é uma experiência estressante. As vítimas de bullying muitas vezes lutam contra
ansiedade, depressão, baixa autoestima e abuso de drogas – algo que se
estende até a idade adulta.
Acontece
que muitas mudanças de longo prazo para o cérebro podem estar por trás desses
problemas comportamentais. O bullying pode deixar uma marca duradoura no
cérebro em desenvolvimento, e a neurociência está começando a mostrar como são
devastadoras e persistentes as cicatrizes que isso pode causar.
Abaixo,
relacionei 6 fatos sobre o bullying e o cérebro numa perspectiva que vai muito
além da sala de aula.
1. QUEM SOFRE BULLYING TEM MAIOR TENDÊNCIA A USAR DROGAS
O estresse crônico em humanos é um conhecido
fator de risco para o abuso de drogas, e os cientistas querem saber se ser
vítima de assédio moral representa um risco semelhante.
Para estudar isso, cientistas como Klaus
Miczek, um psicólogo da Universidade Tufts, produziu um modelo de assédio moral
em roedores, colocando um rato mais velho e mais agressivo na gaiola de um
animal mais jovem. O animal dominante empurra e morde o mais jovem, mostrando
quem é que manda.
Miczek
descobriu que os animais vítimas de bullying têm maiores quantidades do
hormônio corticosterona em áreas do cérebro que processam estímulos recompensadores,
como drogas de abuso.
Ele
também viu que o excesso do hormônio pode permanecer nessas áreas do cérebro
por muito tempo após o fim da situação de estresse, possivelmente levando a uma
tendência para o abuso de drogas.
Assim, quando
permitido acesso a drogas como cocaína e álcool, os roedores intimidados
de Miczek consumiram mais do que os animais não intimidados, mesmo meses
mais tarde, quando já adultos.
2. O HORMÔNIO DO ESTRESSE PODE PERMANECER NO
CÉREBRO POR MUITO TEMPO APÓS A SITUAÇÃO DE ESTRESSE.
O aspecto mais interessante dessa pesquisa,
Miczek diz, trata-se de como é preciso pouco estresse social para levar a
um efeito persistente, de longa duração.
“Em
ratos, ele requer apenas quatro episódios de estresse social, que são cinco
minutos de duração cada um”, diz ele. “E os efeitos também são vistos na vida
adulta.”
3. ADOLESCENTES QUE SOFREM BULLYING APRESENTAM NÍVEIS ANORMAIS DE
CORTISOL, QUE ENFRAQUECE O SISTEMA IMUNOLÓGICO E PODE MATAR CÉLULAS NERVOSAS DO
HIPOCAMPO, AFETANDO A MEMÓRIA
O
bullying também pode alterar os hormônios do estresse em seres humanos.
Em
um estudo de longo prazo em adolescentes, Tracy Vaillancourt, um psicólogo
da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que meninos e meninas vítimas de
bullying têm níveis anormais de cortisol em comparação a seus pares não
intimidados.
Níveis
anormais de cortisol podem enfraquecer o sistema imunológico e
até mesmo matar as células nervosas do hipocampo, uma região do cérebro
responsável pela memória.
O
bullying também pode alterar os hormônios do estresse em seres humanos.
Em
um estudo de longo prazo em adolescentes, Tracy Vaillancourt, um psicólogo
da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que meninos e meninas vítimas de
bullying têm níveis anormais de cortisol em comparação a seus pares não
intimidados.
Níveis
anormais de cortisol podem enfraquecer o sistema imunológico e
até mesmo matar as células nervosas do hipocampo, uma região do cérebro
responsável pela memória.
4. ADOLESCENTES VÍTIMAS DE BULLYING APRESENTAM DESEMPENHO MAIS FRACO EM
TESTES DE MEMÓRIA.
Na verdade, Vaillancourt descobriu que
adolescentes vítimas de bullying apresentaram desempenho mais fraco em testes
de memória concebidos para examinar o funcionamento do hipocampo em comparação
com seus pares não intimidados, sugerindo que os níveis de cortisol anormais
podem estar afetando seus cérebros.
Na verdade, Vaillancourt descobriu que
adolescentes vítimas de bullying apresentaram desempenho mais fraco em testes
de memória concebidos para examinar o funcionamento do hipocampo em comparação
com seus pares não intimidados, sugerindo que os níveis de cortisol anormais
podem estar afetando seus cérebros.
5. QUANDO EXPOSTO A SITUAÇÕES DE ESTRESSE, O ORGANISMO PRODUZ MAIS
GLÓBULOS BRANCOS. O ESTRESSE SOCIAL PODE LEVAR A UMA RESPOSTA IMUNE AUMENTADA
QUE ALTERA ALGUNS COMPORTAMENTOS.
O
stress social também tem um efeito dramático sobre o funcionamento do sistema
imunológico, que por sua vez pode afetar negativamente as funções cerebrais.
Quando expostos ao estresse, nossos
corpos produzem mais glóbulos brancos, que produzem e liberam substâncias
pró-inflamatórias que normalmente funcionam para ajudar o corpo a combater
infecções.
No caso de stress crônico, os
cientistas pensam que o corpo produz um excesso de glóbulos brancos, resultando
em uma produção contínua de substâncias pró-inflamatórias.
“Quando você vivencia um estresse social
crônico, você tem a resposta imune que não é desligada corretamente”,
diz Scott Russo, um neurocientista da Faculdade de Medicina Icahn no Monte
Sinai.
“O
sistema imunológico eleva suas defesas mas “se esquece” de baixá-las, o que
pode provocar danos como a morte de células nervosas. Em indivíduos
vulneráveis, essas mudanças podem durar até mesmo meses após ao
estresse.”, ele completa.
O
stress social também tem um efeito dramático sobre o funcionamento do sistema
imunológico, que por sua vez pode afetar negativamente as funções cerebrais.
Quando expostos ao estresse, nossos
corpos produzem mais glóbulos brancos, que produzem e liberam substâncias
pró-inflamatórias que normalmente funcionam para ajudar o corpo a combater
infecções.
No caso de stress crônico, os
cientistas pensam que o corpo produz um excesso de glóbulos brancos, resultando
em uma produção contínua de substâncias pró-inflamatórias.
“Quando você vivencia um estresse social
crônico, você tem a resposta imune que não é desligada corretamente”,
diz Scott Russo, um neurocientista da Faculdade de Medicina Icahn no Monte
Sinai.
“O
sistema imunológico eleva suas defesas mas “se esquece” de baixá-las, o que
pode provocar danos como a morte de células nervosas. Em indivíduos
vulneráveis, essas mudanças podem durar até mesmo meses após ao
estresse.”, ele completa.
6. CRIANÇAS VÍTIMAS DE AGRESSÃO MUITO PROVAVELMENTE SERÃO ADULTOS
AGRESSORES
Pesquisadores
da Universidade do Texas, em Austin, estudaram os efeitos do estresse social em
hamsters e descobriram que
espécimes juvenis que foram intimidados por um adulto se tornaram mais
agressivos para com os animais menores.
“Basicamente, uma vítima se torna um
vitimizador”, afirma Yvon Delville, que liderou o estudo.
Delville também examinou os cérebros
dos hamsters e descobriu que animais socialmente estressados mostraram
alterações nos níveis dos neurotransmissores serotonina e vasopressina.
Nas pessoas, níveis elevados de
vasopressina estão associadas a um aumento da agressão, enquanto que a
serotonina é conhecida por inibi-la.
Hamsters intimidados tinham níveis
mais baixos de vasopressina e maiores níveis de serotonina do que os seus
irmãos não intimidados.
Delville
está atualmente pesquisando sobre como essas mudanças nos níveis de
neurotransmissores levam a uma maior agressividade — ele suspeita que
a agressão é um efeito de mudanças em áreas do cérebro que governam
características mais gerais de comportamento, tais como o controle de impulsos.
Os resultados de Delville sugerem que
a adolescência pode ser um período crucial para o desenvolvimento de
comportamentos agressivos na idade adulta. Ele diz, além disso, que seus
resultados apoiam aquilo que é muitas vezes observado em humanos: onde
há violência contra as crianças, haverá crianças
tornando-se violentas.
“O
nosso trabalho apoia a ideia de que o bullying é realmente um evento seriamente
prejudicial na vida de uma criança. É uma questão de saúde pública, uma vez que
afeta tantas crianças negativamente, além de as evidências biológicas
suportarem que representa um risco para futuros problemas de saúde.” diz
Vaillancourt.
Pesquisadores
da Universidade do Texas, em Austin, estudaram os efeitos do estresse social em
hamsters e descobriram que
espécimes juvenis que foram intimidados por um adulto se tornaram mais
agressivos para com os animais menores.
“Basicamente, uma vítima se torna um
vitimizador”, afirma Yvon Delville, que liderou o estudo.
Delville também examinou os cérebros
dos hamsters e descobriu que animais socialmente estressados mostraram
alterações nos níveis dos neurotransmissores serotonina e vasopressina.
Nas pessoas, níveis elevados de
vasopressina estão associadas a um aumento da agressão, enquanto que a
serotonina é conhecida por inibi-la.
Hamsters intimidados tinham níveis
mais baixos de vasopressina e maiores níveis de serotonina do que os seus
irmãos não intimidados.
Delville
está atualmente pesquisando sobre como essas mudanças nos níveis de
neurotransmissores levam a uma maior agressividade — ele suspeita que
a agressão é um efeito de mudanças em áreas do cérebro que governam
características mais gerais de comportamento, tais como o controle de impulsos.
Os resultados de Delville sugerem que
a adolescência pode ser um período crucial para o desenvolvimento de
comportamentos agressivos na idade adulta. Ele diz, além disso, que seus
resultados apoiam aquilo que é muitas vezes observado em humanos: onde
há violência contra as crianças, haverá crianças
tornando-se violentas.
“O
nosso trabalho apoia a ideia de que o bullying é realmente um evento seriamente
prejudicial na vida de uma criança. É uma questão de saúde pública, uma vez que
afeta tantas crianças negativamente, além de as evidências biológicas
suportarem que representa um risco para futuros problemas de saúde.” diz
Vaillancourt.
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