Na rotina de uma criança, é comum falar sobre as aulas na escola, os passeios extracurriculares ou as lições de casa. Dentro e fora do ambiente escolar, português, matemática, ciências e geografia acabam dando o tom de muitas das conversas
Mas pouco se fala sobre a raiva sentida por um educador diante de uma avaliação, a inveja de um coleguinha, o medo de ir para a escola e sofrer bullying mais uma vez ou a total falta de vontade de sair de cama e viver. Pode parecer exagerado, mas a depressão, a automutilação e o suicídio são uma realidade entre muitas crianças e adolescentes, o que representa um desafio alarmante tanto para pais quanto para crianças.
Um levantamento da Associação de Líderes de Escolas e
Faculdades (ASCL, na sigla em inglês) e do National Children’s Bureau,
realizado com 338 líderes escolares britânicos, indica que mais da metade deles
(55%) observou aumento significativo de
estudantes sofrendo de ansiedade e estresse nos últimos cinco
anos, enquanto mais de 40% disseram ter notado um grande aumento no cyberbullying.
Além disso, quase oito de cada dez entrevistados (79%)
disseram ter visto um aumento de comportamentos de autoagressão ou pensamentos suicidas entre os
alunos.
Falar sobre emoções com os pequenos, portanto,
é tão fundamental quanto ensiná-los a lavar as mãos antes das refeições. Isso
os encoraja a tentar encontrar palavras que descrevam o que estão sentindo.
Serve tanto para lidar com os sofrimentos impostos pela vida quanto para evitar
problemas mais graves como os citados acima.
Cuidar da saúde mental,
infelizmente, não é prioridade em nossa cultura, mas algumas escolas estão
tentando mostrar sua importância desde os primeiros anos de vida.
Em
São Paulo, por exemplo, crianças do Ensino Fundamental da rede municipal estão
desenvolvendo habilidades emocionais por meio do programa de educação emocional
Amigos do Zippy. As atividades são desenvolvidas por mais de 100 professores
nas escolas das Diretorias Regionais de Ensino (DRE) do Butantã, Campo Limpo e
Capela do Socorro. A iniciativa é da Associação pela Saúde Emocional de
Crianças (Asec) e das diretorias de ensino envolvidas.
Uma pesquisa no fim
de 2016 e divulgada pela Asec apontou que os professores disseram estar
conhecendo melhor as crianças de suas turmas e se sentem mais capacitados para
ajudá-las a lidar com situações difíceis, como a perda de emprego de um dos
pais ou a separação deles.
Segundo
uma professora da escola José Dias da Silveira, uma mãe contou-lhe que o filho,
que era muito agitado e sempre se envolvia em confusão, está mais calmo,
participativo e amigo dos colegas.
Alguns
alunos se mostraram mais extrovertidos e passaram a fazer perguntas durante a
aula, destaca um educador da escola Engenheiro José Amadei. "Penso que o
programa os ajudou nesse sentido, de que podem perguntar sempre e que terão
respostas. Estão perdendo o medo de cometer erros”.
A
Asec trouxe para o Brasil, no fim de 2016, um novo programa, batizado de
Passaporte: Habilidades para a Vida. Voltado para crianças a partir dos 11
anos, o projeto inclui 18 aulas com jogos e brincadeiras apoiados em uma
história em quadrinhos. O objetivo é ajudar os alunos a lidarem com quaisquer
dificuldades da vida.
Um novo modo de pensar e agir
Há 10 anos, escolas
brasileiras que queiram implementar um projeto de educação emocional e mental
podem recorrer ao Cuca Legal, desenvolvido pelo Departamento de
Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Uma
equipe composta por psiquiatras, psicólogos, pedagogos, terapeutas educacionais
e educadores desenvolve ferramentas de ensino e capacita os professores a
identificar precocemente sintomas de quadros psiquiátricos, como o transtorno
bipolar, e a promover a saúde mental na escola, o que contribui para diminuir o
estigma que costuma cercar o tema.
"O conhecimento
das emoções permite um novo modo de ser, pensar e agir. Uma pessoa que conhece
a si mesma terá condições de perceber e respeitar as emoções dos seus semelhantes",
afirma o projeto.
Reforço na autoestima
Em 2016, os colégios
Anhembi Morumbi, em São Paulo, e Anchieta, em São Bernardo do Campo, utilizaram
o método educacional VIAe, que visa a estimular entre os alunos resiliência
- capacidade de resistir a situações negativas -, autoestima, autoconfiança,
autonomia, colaboração, empatia, pensamento crítico, comunicação, consciência
do coletivo, e empreendedorismo.
Um
dos programas desenvolvidos é o Movimento Futuro, dirigido a alunos do 9° ano e
do Ensino Médio. O foco é estimular a realização de sonhos que tragam impactos
não só para o estudante, como também para a escola e para o mundo.
A
aluna Amanda Finotti, de14 anos, está no 9º ano e sempre teve um sonho: ser
psicóloga. Com o Movimento Futuro, ela e a colega Eduarda Huffenbacher
organizaram uma roda de conversa na escola, onde abordavam temas como bullying,
divórcio e feminismo.
Depois
Amanda levou o projeto para além dos muros da escola e foi para a avenida
Paulista “exercer” o papel de psicóloga, perguntando, por meio de um cartaz,
qual era o sonho das pessoas que passavam por lá.
Retirado do link
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