Uma cultura focada na magreza feminina não revela uma obsessão com a beleza feminina. É uma obsessão sobre a obediência feminina. Fazer dietas é o sedativo político mais potente na história das mulheres; uma população passivamente insana pode ser controlada. "
Naomi Wolf, em “O
Mito da Beleza"
Hoje eu fui fazer as unhas no
salão aqui embaixo da minha casa e só se falava em: dieta. Queimar. Perder. Não
come isso que engorda. Come aquilo que “ajuda”. Bebe óleo de coco. Bebe água
com limão. Bebe dezoito litros de chá de cavalinha. Olha como a fulana
engordou. Olha como a fulana emagreceu. Engordou. Emagreceu. Engordou.
Emagreceu. Engordou. Engordou. Envelheceu.
Aí, cheguei em casa e me deparei com a seguinte manchete: “Mais sexy da Rússia admite ter ficado quatro dias sem comer para vencer concurso”.
Ao final desta mesma matéria, a declaração do homenzinho que edita a revista masculina responsável pelo concurso:
"Pelas condições do concurso ela foi obrigada a começar a se preparar uma semana antes da final, e não quatro dias. No que diz respeito à saúde, consideramos que ser bonita está sempre no primeiro lugar para uma mulher."
E tudo assim, muito dentro da normalidade. Mais uma manchete. Nada de muito chocante.
Nesse caso específico existiu uma "enxurrada de críticas" porque a menina contou a verdade. Ela não é uma exceção. Isso não é uma novidade. Modelos passam dias sem comer, isso é comum, é normal nessa indústria. Meninas bebem detergente, se entopem de remédios e drogas ilícitas e sabe-se mais lá o que pra se encaixarem nesse padrão excludente. Inclusive as que não estão e nem têm aspiração em carreira de modelo.
As adolescentes sofrem mais. Daqui:
"A anorexia e bulimia nervosa crescem a cada ano, principalmente entre mulheres, particularmente meninas adolescentes, com incidência maior aos 16 anos. Pesquisas norte-americanas revelam que esses transtornos têm nas mulheres 90% de seu alvo.
Estão se tornando
muito comuns em homens e mulheres em outras idades. Porém, aparece em apenas 5
a 10% nos homens. Muitas vezes esses distúrbios ocorrem em membros de famílias
com nível socioeconômico alto e médio e onde há conflitos constantes entre os
familiares."
Gente,
olha só,
isso mata. Essa cultura da magreza mata. Essa indústria mata. Enlouquece. Deforma a cabeça das mulheres. E, é claro, nos mantém focadas no físico, além ou acima de todas as outras coisas que poderiam nos trazer liberdade e poder. Eu digo “nós”, mesmo, porque me incluo nessa. Sou mulher e também sou alvo. Já sofri com bulimia e anorexia, me achava maravilhosa com os ossos aparentes e estive perto de morrer.
Gente,
olha só,
isso mata. Essa cultura da magreza mata. Essa indústria mata. Enlouquece. Deforma a cabeça das mulheres. E, é claro, nos mantém focadas no físico, além ou acima de todas as outras coisas que poderiam nos trazer liberdade e poder. Eu digo “nós”, mesmo, porque me incluo nessa. Sou mulher e também sou alvo. Já sofri com bulimia e anorexia, me achava maravilhosa com os ossos aparentes e estive perto de morrer.
Morrer porque queria ser magra acima de todas as
outras coisas, inclusive acima de ser escritora. Acima de ser o que sou, de
exercer a profissão que exerço desde antes dos vinte anos, ser magra era mais
importante. Estar doente era um pormenor; eu estava magra e era elogiadíssima.
O problema estava longe de estar apenas em mim.
Não estou sozinha. Saber que essa indústria da dieta e da magreza, da plástica e da beleza que movimentam milhões existem não é o suficiente. E combatê-la também não é nada fácil, pois não vivemos em uma bolha e nossos conceitos, desejos e senso estético foram criados pela mesma cultura que alimenta isso tudo.
Mas...
É nos comentários dos sites bodypositive(gosto de traduzir como "corpositivos"), de mulheres fora desse padrão magérrimo e que amam seus corpos, celebram seus corpos e suas vidas, é que vão comentar que elas "não parecem saudáveis". Que aquela felicidade toda é falsa, que é impossível uma gorda estar satisfeita com seu corpo.
Na época em que eu era adolescente o padrão era o "heroin chic", aquelas garotas muito magras e com aspecto, bem, de viciadas em heroína, como bem o nome diz.
Não estou sozinha. Saber que essa indústria da dieta e da magreza, da plástica e da beleza que movimentam milhões existem não é o suficiente. E combatê-la também não é nada fácil, pois não vivemos em uma bolha e nossos conceitos, desejos e senso estético foram criados pela mesma cultura que alimenta isso tudo.
Mas...
É nos comentários dos sites bodypositive(gosto de traduzir como "corpositivos"), de mulheres fora desse padrão magérrimo e que amam seus corpos, celebram seus corpos e suas vidas, é que vão comentar que elas "não parecem saudáveis". Que aquela felicidade toda é falsa, que é impossível uma gorda estar satisfeita com seu corpo.
Na época em que eu era adolescente o padrão era o "heroin chic", aquelas garotas muito magras e com aspecto, bem, de viciadas em heroína, como bem o nome diz.
É um respiro saber que hoje
existem movimentos que tentam, se não quebrar, ao menos ampliar esse padrão,
pois é só olhar em volta pra ver que existem belezas de todos os tamanhos e
todas as cores. E também me causa um enorme desespero saber que as coisas não
melhoraram quase nada. Há um respiro, mas o problema ainda é enorme.
Olhamos em volta e as mulheres dos anúncios são magérrimas. Ligamos a televisão e as mulheres dos programas são magérrimas. Vamos ao cinema e, adivinha!, as atrizes são todas magérrimas. São raras as exceções. O que podemos fazer para ir mudando essas percepções dentro das nossas cabeças é nos cercar de exemplos diversos e positivos, conversar com amigas, ler e trocar. É um processo longo, mas, prometo, vale a pena.
É bom já esclarecer: não estou falando que não devemos buscar uma vida saudável. Claro que devemos - se quisermos. O que está errado é controlar o corpo das mulheres com essa desculpa. Ou você sai dando um tapa no cigarro de cada fumante que vê passando?
É bom também lembrar: não somos apenas corpos. Somos indivíduos complexos que merecem mais do que uma vida se olhando no espelho.
Olhamos em volta e as mulheres dos anúncios são magérrimas. Ligamos a televisão e as mulheres dos programas são magérrimas. Vamos ao cinema e, adivinha!, as atrizes são todas magérrimas. São raras as exceções. O que podemos fazer para ir mudando essas percepções dentro das nossas cabeças é nos cercar de exemplos diversos e positivos, conversar com amigas, ler e trocar. É um processo longo, mas, prometo, vale a pena.
É bom já esclarecer: não estou falando que não devemos buscar uma vida saudável. Claro que devemos - se quisermos. O que está errado é controlar o corpo das mulheres com essa desculpa. Ou você sai dando um tapa no cigarro de cada fumante que vê passando?
É bom também lembrar: não somos apenas corpos. Somos indivíduos complexos que merecem mais do que uma vida se olhando no espelho.
Retirado
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