segunda-feira, 11 de março de 2019

Um dia na vida de um diretor de escola pública


 Com planejamento, a rotina pode ficar melhor, mas é bom estar
preparado para os acontecimentos inesperados

     
Todo diretor de escola gostaria de ter um roteiro mais ou menos
organizado para direcionar suas ações, seguir um esquema
 previamente planejado, mesmo sabendo que nem tudo é previsível
em escola pública.

 Como diretora, posso dizer que seria muito bom chegar à escola e sentar com os profissionais do setor pedagógico para alinhar o dia de trabalho, visitar a cozinha e ver se tudo caminha a contento, participar do recreio e papear com os seus alunos, participar de alguma aula a convite de um professor, receber os pais dos alunos e depois organizar e assinar documentos. Mas a verdade é que nem sempre consigo fazer isso.

Dentro do espaço escolar, o gestor passa por muitas situações
que precisam ser resolvidas na hora. Pode ser um aluno que não
 está se sentindo bem, um atendimento familiar que surge ou um
professor que falta. Além disso, tem a rotina administrativa e
pedagógica ocupa bastante espaço na agenda. Temos que apoiar o
coordenador de turno e o pedagogo, participando das conversas e
 reuniões rotineiras com as famílias nos casos mais sérios de
 indisciplina, bem como nas dificuldades de aprendizagem.

No meio desse fluxo, procuramos sempre reavaliar e melhorar
 nossas práticas. Dou como exemplo o modelo de reunião de pais que adotamos para esse ano. Até então, a norma era realizar uma reunião geral com todas as famílias no início do ano letivo. Mas após uma conversa com professores e pedagogos, tendo em vista o final do período diagnóstico, decidimos mudar e passamos a organizar reuniões de forma diferenciada, envolvendo aluno, família, professor e pedagogo.

As reuniões acontecem por turma, cada responsável sentado ao
 lado da aluna ou aluno, dentro da sala de aula. Dessa forma,
familiares e estudantes podem ouvir os objetivos de cada trimestre.
 São eles:
- sensibilização de alunos/famílias para os projetos multidisciplinares
organizados pela escola, bem como projetos pequenos que
acontecem dentro de cada disciplina e/ou turma;

- conhecimento sobre as dificuldades encontradas pelos professores
no período diagnóstico;

- explicação sobre a logística do reforço escolar no contra turno,
 ofertado pela escola desde 2017;- conhecimento dos problemas
estruturais da escola e a necessidade de reforma prevista para
o 2º trimestre;

- merenda escolar de qualidade e diversificada, incluindo frutas e
 Sucos

- importância da família na organização e acompanhamento dos
estudos em casa, seja para execução de tarefas ou projetos;

- fala do professor regente e de áreas, sinalizando os principais
 pontos percebidos na turma em questão;

- entendimento que a gestão está apoiando, incentivando
e participando dos projetos organizados pelos seus professores.

 - reafirmação de que a escola é espaço de todos e que a opinião
de cada um é importante.

Legal mesmo é quando organizamos o nosso dia de trabalho e,
de repente, uma professora da Educação Especial, de braços dados
 com o seu aluno, diz com lágrimas nos olhos que a criança começou
 a ler, fato que para muitos era impossível. A professora pede licença para demonstrar o aprendizado, o aluno faz a leitura e interpretação.
 Para um educador, é a verdadeira transformação pela Educação.
 Fatos como esse mudam o nosso dia e, a partir daí, acreditamos que todo o resto vai dar certo. 

A escola, por ser um espaço múltiplo e vivo, nem sempre permitirá ao gestor cumprir o roteiro planejado, mas é preciso que eu, você e
 tantos outros gestores tenhamos sempre o olhar aberto, atento e
 reflexivo para oferecer apoio a todos os que participam do processo
escolar e, principalmente, aos atores que orquestram a magia do
aprendizado: aluno e professor.

Marlucia Brandão é diretora da EMEIEF Boa Vista do Sul, em
Marataízes-ES, desde 2016, e professora de Língua Portuguesa,
 com especialização em Linguística Aplicada ao Português,
Psicopedagogia Institucional e Ciências da Educação. Deu
 aulas em todas as etapas, da alfabetização à Educação de
 Jovens e Adultos (EJA). Também foi Secretária de Educação
de Marataízes  entre 2011 e 2012.


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