segunda-feira, 25 de março de 2019

Brasileira lança aplicativo para alfabetização de crianças com autismo


  Com sua fundação nos Estados Unidos, ela desenvolveu um jogo interativo que estimula a compreensão e desenvolvimento
da linguagem, um dos maiores desafios para aqueles que
convivem com os autistas

                       
                              
  Familiares e educadores que lidam com autistas recebem uma boa
 notícia neste 2 de abril, data em que se celebra o Dia Mundial de
 Conscientização do Autismo. Eles agora podem contar com um
pequeno ajudante na estimulação da linguagem e alfabetização das
 crianças portadoras do transtorno do espectro autista (TEA), o Brainy Mouse (Rato Inteligente ou Rato Atrevido).

                               
                         
    Trata-se de um aplicativo para celulares e 
tablets(disponível para android e iOS), em formato de jogo, que de
 forma lúdica auxilia os pequenos neste processo de aprendizagem.

A brasileira Ana Sarrizo, presidente da Brainy Mouse Foundation, criou o aplicativo após 4 anos de pesquisa. Os resultados emgrupos testes com crianças de Belo Horizonte e São Paulo têm sido muito satisfatórios. No mês passado, foi lançada uma versão em inglês e, agora, disponibilizam a versão em português.

O objetivo do jogo é trabalhar o desenvolvimento da linguagem
 porque este é justamente um dos maiores desafios para a educação dos autistas, no mundo inteiro. O jeito como pensam, assimilam e compreendem o mundo a sua volta é peculiar de tal forma que muitas vezes nem mesmo os familiares ou os educadores estão preparados  para lidar.

“Imagine as dificuldades que já enfrenta um adulto autista, em um
mundo que não está preparado para lidar com suas diferenças.
 Agora imagine um adulto autista e que ainda por cima não sabe ler e escrever”, explica a criadora do aplicativo Ana Sarrizo.

Estima-se que 3 milhões de brasileiros são autistas. Este dado é
um reflexo do estudo divulgado pelo Center of Control and Prevetion, órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, que aponta a incidência de 1 a cada 68 crianças. Além dos desafios da doença, o maior entrave ainda é o preconceito. Vem dar uma olhada na interface do jogo e se encante:

Como funciona

O game trabalha a leitura da esquerda para direita, formação de
 palavras usando sílabas, interação com cores, sons e outros
“dispositivos cognitivos”, que ajudam o usuário a trabalhar seu
desenvolvimento de forma lúdica. De forma bem interativa, a criança
pode customizar seu ratinho, além de ser desafiada a conseguir
“cheesecoin”, uma espécie de moeda virtual.

Uma das principais apostas do game é o dispositivo chamado
 “Rato Amigo”, que tem como objetivo trabalhar, de forma
 inconsciente, a atitude de pedir ajuda ao próximo, e assim estimular
 essa ação no dia a dia.

Como tudo começou

Em 2013, a pesquisadora Ana Sarrizo pensava apenas em contribuir
 com os portadores de TEA de Belo Horizonte, sua cidade natal.
O resultado do projeto foi tão bem sucedido que um professor de Ana
 a aconselhou inscrever no prêmio Santander, do qual foi vencedor
entre 17mil propostas voltadas para a educação. Com a premiação
de R$ 100 mil e uma bolsa no curso de empreendedorismo da
 Babson College, uma das mais importantes do mundo, decidiu criar
 a Brainy Mouse Foudation, nos Estados Unidos, ficando mais próxima das mais importantes pesquisas sobre autismo.

O objetivo da Fundação é ajudar instituições do mundo inteiro,
familiares e educadores, que já trabalham com crianças e adultos com TEA, produzindo games e ferramentas que vão auxiliá-los no seu progresso dia a dia. 


Aprenda a ouvir a intuição


  Amanda Mol era uma garota sonhadora que havia chegado ao Rio de Janeiro para estudar design de moda

                           
Tinha saído de Varginha, cidade pequena no interior de Minas Gerais,para morar com seus padrinhos e construir sua carreira na capital carioca. Boa aluna, terminou o curso antes mesmo do tempo regular e era uma promessa entre os alunos da sua turma. Mas Amanda não estava feliz. “Foi quando eu tive a conversa mais profunda com a minha intuição. Ela me dizia que eu tinha que retornar à minha essência, voltar para a minha casa.

 Que eu seria capaz de construir um trabalho com significado por lá
.” Mas voltar para uma cidade tão pequena e nada promissora e dar
 as costas para oportunidades da cidade grande ou mesmo de
estudos fora do país parecia algo inconcebível. “Muita gente dizia
 que Varginha não era para mim, que eu não deveria voltar.

Só que eu sentia que precisava seguir aquela voz dentro de mim.
Que minhas raízes estavam lá.” Amanda tomou um impulso de
 coragem e decidiu contrariar o script proposto, retornando para sua
cidade. Com um dinheiro que a avó lhe deu de presente, construiu
 um ateliê em cima da casa em que mora, no subúrbio da cidade, e
 começou a ilustrar.

 Queria viver do seu trabalho como ilustradora e criadora de produtos,
 algo pelo qual ela era apaixonada desde menina, quando fazia ímãs
 de geladeira com chapas de radiografia e pintava em telas com
 tinta a óleo para expor nas feirinhas de artesanato.

Essa sabedoria interna a que Amanda resolveu dar valor, ela diz,
ajudou-a a seguir seu verdadeiro caminho, mesmo sem ter garantias
 de que tudo daria tão certo.

Hoje ela vende objetos de decoração, papelaria e acessórios em sua
loja online, tem cerca de 37 mil seguidores no
Instagram (@molamanda) e, em breve, vai abrir a sua primeira loja
 física, no mesmo bairro em que nasceu.

Em cada cartão, camiseta ou objeto, vê-se o quanto de paixão vai
ali embrulhado. 

Para Amanda, sua intuição é como uma bússola, uma ferramenta
 interna que a ajuda a criar tudo o que faz no mundo e a coloca mais
perto da sua essência. “É a ela que eu recorro. Ela me diz quando
 estou indo por um caminho que não é o meu. Ela me leva para o
meu foco, me ajuda a tomar decisões coerentes com aquela menina
de 20 anos sonhadora que resolveu voltar para Varginha em busca
 de um sonho”, me conta, por telefone, uma mulher de 27 anos com
 um sotaque mineiro sincero. 

Quem se sente bem conectado com a sua intuição sabe que ela é
a sua voz mais sábia e segura, ainda que muitas vezes possa trazer
ideias desconcertantes, ou apontar para caminhos nem sempre tão
confortáveis, como aconteceu com Amanda.

 Talvez você acredite que intuir seja algum dom especial de pessoas
 místicas, mas é uma capacidade humana com a qual todos nós
nascemos, capaz de levar informação e conhecimento à nossa
mente sem passar pelo filtro dos modelos racionais. Ela pode nos
ajudar a tomar pequenas decisões diárias, as quais nem percebemos,
bem como nos assopra aos ouvidos um comando que por vezes teima
em permanecer ali, nos guiando para outra direção que tem mais a v
er com a nossa natureza.

É o que o psiquiatra italiano Mauro Maldonato me descreveu como
uma “antiquíssima sabedoria biológica”. Mauro tem se dedicado a
 estudar o processo de tomadas de decisão e seu trabalho se tornou
 o recém-publicado livro Na Hora da Decisão (Sesc). “Nada nos
ajudou mais a enfrentar e a resolver dificuldades e problemas do que
a intuição. Essa forma inconsciente de conhecimento entra em jogo
em todas aquelas situações nas quais temos dificuldade para refletir.
Ela sabe desde sempre que mesmo as evidências mais claras podem
ser enganosas. Ela é, na verdade, uma aliada formidável da nossa
 sobrevivência”, diz. 

Intuição versus razão Mas ouvi-la pode ser um desafio especialmente
 maior nos dias de hoje. Isso porque estamos mergulhados em uma
cultura ocidental que hipervaloriza a razão e a lógica, os argumentos
 supostamente baseados em dados concretos, e subestima o valor
desse processo interno tão sutil e subjetivo, prejudicando a nossa
 conexão com o que é mais profundo e interno. O erro é tido como
 sinal de fracasso e então somos sempre chamados a decidir da
 forma mais acertada, clara, produtiva e certeira. Aí, os dados e as
informações lógicas se tornam elementos mais sedutores para nos
ajudar a fazer a suposta melhor escolha.

“Somos seres complexos, mente, corpo e espírito. E, quando há
 pressão, tendemos a nos focar na parte racional, e aí nos fechamos.
Se não podemos olhar dentro de nós mesmos, não podemos usar
 nossas maiores capacidades e jamais deixaremos nossa intuição fluir
. Acho que, num nível mais alto, todas as decisões são intuitivas.
Se não fossem, poderíamos procurar qualquer resposta no
computador, e estaria tudo lá”, observa o professor da Universidade
 de Harvard, Bill George, no documentário Innsaei, que aborda o
 poder da intuição e da empatia.

 “Temos visto o predomínio do pensamento racional, que domina
 muito de nossas instituições acadêmicas e a mídia, mas que afasta
 a capacidade de avançar com habilidade intuitiva. Mas acho que é
dela que grandes decisões e grandes ideias vêm”, ele diz. 

É curioso pensar que Albert Einstein, um dos cientistas mais
importantes de todos os tempos, tenha se apoiado tanto na própria
intuição para avançar em seus experimentos e descobertas.
 Ele disse: “A mente intuitiva é um dom sagrado, e a mente racional
é um criado fiel. Nós criamos uma sociedade que honra o criado e
esqueceu o sagrado”. Em uma conversa com o professor alemão
 William Hermanns registrada no livro Einstein and the Poet (
Einstein e o Poeta, em tradução livre), o cientista diz o quanto
escuta sua voz interior.

 “Se eu não tivesse fé absoluta na harmonia
da criação, não teria tentado durante 30 anos expressá-la em
 uma fórmula matemática”, disse, sobre a equivalência que fez entre
 energia e matéria. Mauro, o psiquiatra italiano, defende que mesmo
no campo das ciências a intuição é valiosa. E que as nossas escolhas
não teriam o mesmo efeito se fossem tomadas apenas de forma lógica.

 “O que nos leva a conclusões
eficazes não são raciocínios cansativos, mas sensações viscerais,
emotivas, instintivas. São elas que resolvem nossas indecisões e nos
 fazem dizer: “Muito bem, agora eu sei o que fazer!”. Por acaso a
lógica poderia nos dizer com quem devemos nos casar, em quem
confiar, qual trabalho escolher?
É preciso ouvir e confiar A terapeuta paulista Larissa Souza passou a
 considerar mais a sua voz interna quando terminou um relacionamento
 abusivo, anos atrás. Na época, Larissa estava acostumada a tomar
 decisões muito mais sob o chamado aspecto racional. “Eu era
 engenheira, e fui adquirindo muito essa mente pensante, de
classificar e colocar tudo em caixinhas. Eu estava mal no meu
 relacionamento e não sabia como terminar. Aí, senti que precisava
 deixar meu coração falar.

Percebi que ainda não tinha terminado porque a minha mente estava
racionalizando demais, com muitos medos”, ela lembra.
“Viajei sozinha para os Estados Unidos e, durante aquele mês,
 aprendi a me ouvir e a me amar mais. Como eu estava em um lugar
 onde não sabia como me locomover, eu fechava os olhos e deixava
a resposta vir sobre qual direção tomar, e seguia, confiando na
 minha intuição. Não ficava me perguntando se aquilo era verdade
ou não”, lembra. Mais tarde, quando deixou a engenharia e se
tornou terapeuta, Larissa escutou de uma professora o quanto ela
era intuitiva.

“Aí eu entendi que naqueles momentos que vivi era a minha intuição
funcionando”, ela diz. Larissa acredita que sua voz interna a ajuda
 em todas as decisões. Desde a roupa que escolhe até na hora de
 atender a um paciente novo. Ela vê que o racional, aprendido com
a engenharia, não precisa ficar longe do seu trabalho intuitivo, e
sim que um pode se tornar aliado do outro na hora de decidir.

“Entendo que pessoas muito racionais precisam refletir sobre a
intuição antes de sair agindo. No caso de uma decisão muito
 importante, você escuta a sua intuição, mas, se quiser, pode
colocar em um papel os prós e os contras”, ela sugere. “Aí, respire
profundamente algumas vezes, buscando esvaziar a mente. Ao
 olhar para os lados negativos da decisão, veja se aquilo que é
negativo pode trazer experiências valiosas.

Em vez de olhar para o lado negativo com olhos de negativo,
procure ver com olhos de aprendizado”, diz. Isso ajuda a refletir
 sobre aquela questão que prejudica ouvir nossa voz interna, que é o
medo de errar e fracassar. De onde isso vem? “Você pode sentir se
é um temor verdadeiro, se foi algo que a sociedade impôs ou mesmo
uma crença que veio dos seus pais. Consciente desses padrões,
você se torna capaz de tomar a decisão que vem do coração”,
bserva Larissa.

Desenvolvendo a intuição Talvez uma das grandes questões de
quem decide ouvir a sua intuição é ter a certeza de que, de fato,
está ouvindo essa voz, ou se tudo não passa de emoções confusas,
 medos e ansiedades girando em nossa cabeça.

Como saber se estamos mesmo escutando a coisa certa?
Fiz essa pergunta ao escritor e palestrante Bruno J. Gimenes,
com livros publicados sobre autoconhecimento. “Intuição é o
que somos em essência. E o ego ou a mente confusa é o que nos
 tornamos de acordo com o mundo que a gente tem que enfrentar”,
observa. “Não que o ego seja uma coisa ruim, mas se ele trabalhar
sozinho virá carregado de sentimento de exclusão, de comparação.

Dentro da intuição, você faz parte de algo maior, de um todo. No ego,
 você pensa de forma escassa, que aquilo não vai dar.

 Para identificarmos esses conflitos, é importante reconhecer o que é
 “pressão interna” e “pressão externa”. “A pressão interna é o que
 você pensa, sente e acredita. É a sua espiritualidade.

A pressão externa é o que o mundo fala, o que as pessoas esperam,
o que a sociedade impõe. Se você é capaz de ouvir mais a sua
 intuição, você vence a pressão externa e dá voz ao que está dentro
de você”, diz.

Assim, pode ser que algo lá no fundo diga que você precisa tomar
determinada decisão ou se mover em uma direção, mas a pressão
externa ainda o esteja impedindo de seguir essa voz. Aí, vale
observar se faz mesmo sentido e se vale a pena deixar de manifestar
 o que você acredita pelo medo de aquilo não ser condizente com o
 que acha que a sociedade quer. “Quando a pessoa se conecta com o
 novo, acredita que pode ser loucura, e entra no medo, no escuro.
Achando que não vai dar certo. Confie em si, saia dessa caixinha
que diz que não pode fazer isso porque não vai dar certo”, observa
 Larissa.

“Quanto mais você exerce a intuição, mais se aproxima dessa
 sabedoria universal e consegue seguir o fluxo.” Mauro Maldonato
 também reforça essa ideia. “Precisamos perceber que a essência
verdadeira se encontra no fluxo.

Por isso, a consciência deve prestar atenção àquilo que é mais
profundo e primordial. A intuição, como voz interna, muitas vezes
 é inexplicável”, diz. “Mesmo quando sofremos de incerteza e
hesitação, é preciso prosseguir aprendendo a ouvi-la.”

Bruno também sugere uma prática simples (mas poderosa): respirar
 profundamente por dez vezes. E, de olhos fechados, fazer uma
pergunta para si: “Qual inspiração eu tenho agora?”, ou “Que forças
 eu posso ativar para resolver isso?”. “Espere. Não exija que a
resposta venha imediatamente.

 É o treino que fará com que a sua intuição comece a aflorar”, diz.
Distanciar-se de muitos ruídos e estímulos externos que nos fazem
 permanecer em constante distração também nos aproxima da
 intuição.

Quando a ilustradora Amanda Mol sente que precisa se alinhar
 melhor com essa voz dentro de si, busca se recolher e desacelerar.
“Fico menos tempo em eletrônicos, evito o computador e o celular.

Não levo isso para o quarto. Antes de dormir faço leituras, escuto
músicas e peço nas minhas orações que eu receba respostas para
o que preciso. Fico nessa frequência mais calma e nos dias seguintes
 eu me sinto mais reconectada.” A prática fez com que Amanda
 ganhasse mais segurança sobre quando a voz da intuição aparece.

 “Eu reconheço os momentos em que os insights chegam. São sempre
 pela manhã, como se fossem um soprinho de vento. É a partir disso
 que guio o meu trabalho e a minha vida”, conta a ilustradora.
Aprender a desaprender Innsaei, nome do documentário que contei
no início desta reportagem, é uma palavra que traduz a filosofia
islandesa cuja proposta é conectar as pessoas através da empatia e
da intuição. É ver de dentro para fora. É enxergar um mar de
respostas dentro de nós mesmos.

A americana Marti Spiegelman, xamã e coach espiritual, sugere a
 seus pacientes que busquem experimentar um momento na natureza
através dos cinco sentidos, sem racionalizar. “As pessoas modernas
 em geral não estão em contato com a intuição. Temos que deixar
nossa consciência à deriva do mundo que nos rodeia. Do mundo das
 formas, dos mapas, do A ao B, ao C. O mundo da estratégia, das
 marcas. Dos prazos e dos pontos-finais.

” É preciso estar desperto para dados sensoriais e outras tantas
 dimensões da vida, Marti afrma.
Durante nossa jornada para nos aproximarmos da intuição,
encontraremos dúvidas, descrenças ou mesmo uma necessidade de
encontrar lógica em tudo o que essa voz disser.

Nesse sentido, abrir
 o nosso portão intuitivo terá muito mais a ver com desaprender e
desconstruir. Nem sempre tudo precisa fazer sentido, e podemos
aprender a ver a beleza disso. “Há um salto da consciência,
chamemos isso de intuição ou do que quer que seja, e a solução
surge à sua frente, sem que você saiba como e porquê”, disse
Einstein, o que me sugere acreditar na própria mágica por trás da
vida. Se a nossa essência sempre vai nos levar pelos caminhos que
forem certos para a gente, a intuição definitivamente nunca poderá
estar errada.