segunda-feira, 28 de maio de 2018

Quais as diferenças entre preconceito e bullying?



   Professor do Instituto de Psicologia distingue os dois fenômenos e mostra como encará-los

                                

Como parte do programa Seminários de Ensino de Ciências, da Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) promoveu  palestra sobre a violência escolar. Ministrada pelo professor José Leon Crochik, que coordena o Laboratório de Estudos sobre o Preconceito (LAEP) do Instituto de Psicologia da USP, a exposição discutiu as principais características e diferenças entre preconceito e bullying, assim como suas implicações.
O termo bullying serve para definir a prática, individual ou em grupo, de agressões físicas e psicológicas, durante um período de tempo, sobre vítimas consideradas mais fracas em uma relação de poder e que, portanto, não são capazes de reagir suficientemente para fazer cessar a agressão.
Dados de uma pesquisa empírica coordenada por Crochik entre os anos de 2011 e 2014 em oito escolas de São Paulo demonstram que, diferentemente do que ocorre com o preconceito, as razões que levam os indivíduos a praticarem o bullying não tem relação com medos e inseguranças pessoais projetadas no alvo, mas sim com uma necessidade narcisista de se destacar, dominando e destruindo o outro.
Crochik aponta também que o preconceito tende a produzir justificativas mais demarcadas para sua existência, então, alguém que persegue os judeus, por exemplo, argumentaria que o faz por se tratarem de parasitas, mentirosos, etc. O bullying, por outro lado, não tem um alvo específico, “torna-se vítima quem estiver à disposição para poder ser destruído, para poder ter sua vontade dominada pelo agressor. A ideia é poder humilhar e destruir”, afirma o pesquisador. Essa diferença é importante porque ajuda a explicar o motivo pelo qual o bullying é mais difícil de combater do que o preconceito.
A priori, o preconceituoso é alguém que, de certa forma, idealiza o objeto do seu ódio se apropriando de estereótipos culturais e que, portanto, evita qualquer contato com ele para que essa idealização não seja confrontada com a realidade. Nesta medida, pode-se afirmar que “a experiência é o antídoto do preconceito”. Por outro lado, a natureza menos racional do bullying sequer permite que esse tipo de confronto seja usado na solução do problema.
Cyberbullying

O cyberbullying pode ser praticado uma única vez, mas, por poder ser divulgado para uma multidão de pessoas por infinitas vezes, tem uma intensidade momentânea muito maior. Esse aspecto colabora para torná-lo, em muitos casos, mais danoso, uma vez que escapa aos ambientes específicos de convivência da vítima, tornando-se algo mais constante e amplo. Para José Leon Crochik, “a vítima se sente humilhada frente a um universo de pessoas conhecidas e desconhecidas”.
Como enfrentar o bullying

Crochik lembra que vivemos em uma sociedade que estimula a competição e que, portanto, instiga a divisão entre fracos e fortes, o que gera tensão. “A vontade de destruição surge para poder eliminar essa tensão”. Para ele, um passo importante rumo ao combate do problema é sua discussão no âmbito escolar. “A ideia é a de poder pensar o ridículo da competição. Se vivemos juntos, é ótimo que o outro também tenha habilidades, porque precisamos dele. Quando não quisermos dominar ou vencer quem quer que seja, poderemos viver em paz e tranquilos”, afirma.
Em curto prazo, é importante que o alvo do bullying encontre meios de reagir para que as agressões parem. Conversar sobre o que acontece com seus pais, professores ou orientadores pode ajudar.
Apesar de não ter um programa específico voltado para o atendimento de vítimas de bullying, o IPUSP oferece atendimento psicológico, psicoterapia e outros serviços em sua clínica-escola. Os interessados podem entrar em contato por telefone para pedir informações adicionais.
IPUSP
Av. Prof Mello Moraes, 1721 -Bloco D – Cidade Universitária – São Paulo – SP
Site: http://www.ip.usp.br/
Telefones: (11) 3091 8248 / 8223

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Como os pais podem ajudar os filhos a enfrentar o bullying



   Psicopedagoga diz que a família não deve nunca pedir para a criança ignorar a agressão

                         
Como os pais podem ajudar filhos vítimas de bullying? 

Muitas famílias nem se dão conta de que esse tipo de violência está acontecendo. Antes de tudo, é preciso criar em casa um ambiente de confiança para que a criança sinta-se à vontade para conversar sobre seus sentimentos.




Falar é fácil, colocar em prática talvez exija mudanças de atitude. A recomendação da psicóloga Thais Moraes para que os pais formem esse laço de confiança é demonstrar interesse genuíno pelos assuntos que importam ao filho


“É importante que os pais conversem, promovendo uma cultura familiar em que as emoções são levadas a sério. Medidas como essa criam um ambiente em que a criança se sente segura para se expressar e relatar seus sofrimentos e dificuldades”, afirma Thais, uma das criadoras do método ‘Treinamento de Pais’.
Uma vez que a criança sente segurança para contar em casa que é vítima de bullying, os pais não devem nunca pedir que ignore a agressão. “Não adianta orientar o filho negar o que está acontecendo, dizer que não liga, fingir que não está vendo”, afirma a psicopedagoga Elizabeth Monteiro.













Os pais também não devem minimizar a dor do filho dizendo que é apenas uma ‘besteira’, uma ‘brincadeira de mau gosto’ e que vai passar. “Sempre valide os sentimentos de seu filho. Expressões que negam a experiência emocional são desoladoras por si só, ainda mais num contexto em que a criança já se sente sozinha e desamparada. Aquele sentimento é a realidade concreta da criança”, diz Thaís.
Para Elizabeth, uma forma de ajudar o filho é investigar o motivo do bullying. “Precisa descobrir o que está acontecendo. É por que o filho tem espinha, orelha de abano, é muito irritadinho? Se é porque tem espinha, leva ao médico para fazer um tratamento.”
Para a psicopedagoga, existem questões que podem ser minimizadas com medidas práticas. “Se está sofrendo e quer ajuda, é a melhor maneira é ajudar a resolver o que está causando dor”, diz ela.
Mas e se o filho não conta aos pais que é vítima de bullying?
Thaís afirma que o filho dá sinais de que algo vai mal. “Uma dica é observar mudanças repentinas de comportamento. De repente, a criança que adorava ir à escola, não quer mais. Ou se isola ou se torna agressiva demais. Além disso, podem ocorrer problemas de insônia, falta de apetite, queda do rendimento escolar, tristeza ou ansiedade persistentes.”
Na escola

Thaís diz que muitas crianças vítimas de bullying sentem medo de envolver os pais no problema e piorarem a situação. Mas isso não é motivo para os pais não entrarem no assunto.
“Ouça os medos e anseios da criança, não torne a experiência ainda mais difícil para ela. A mensagem que deve ser passada é que ela não está sozinha e que, juntos, encontrarão uma solução”, afirma a psicóloga.
Thaís e Elizabeth afirmam que os pais devem procurar a escola para buscar uma solução para o problema.

“É preciso acompanhar junto à escola quais medidas serão adotadas para garantir a segurança e o bem-estar da criança. Devem prestar atenção novamente às mudanças comportamentais, se há retorno do interesse pela escola, melhora do rendimento escolar, nível adequado de socialização e melhora do humor”, afirma a terapeuta.
A morte de dois estudantes por um jovem de 14 anos na em Goiânia (GO) chocou o país. O garoto disse à polícia que era vítima de bullying na escola e que inspirou nos tiroteios de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio, antes de levar uma arma para o colégio e disparar contra vários colegas de classe.
O pai do jovem, um major da Polícia Militar, disse que não sabia que o menino sofria bullying. A mãe de um dos alunos mortos, apontado como desafeto do atirador, pediu que o filho não fosse julgado.

   Retirado do link:


Marcas do bullying vão de baixa autoestima a tentativa de suicídio


    A fobia escolar de Lívia, de 12 anos, chegou ao ponto de a menina não conseguir segurar um lápis

                           

    O uniforme, os livros, o caderno, tudo a fazia passar mal. Suava, entrava em pânico, dizia que era melhor morrer. Ameaçou se jogar da janela e pular de um carro em movimento.
A menina foi alvo de bullying em vários momentos da vida, até desenvolver uma grave depressão no ano passado, conta a mãe, a pedagoga Maria Clara, os nomes foram trocados para preservar a identidade das duas.


Após os pensamentos suicidas, a menina foi afastada da escola por recomendação médica e perdeu os anos letivos de 2016 e 2017.
O bullying, segundo especialistas, afeta não somente a criança e o adolescente, mas também suas famílias e, em casos mais graves, deixa marcas por toda a vida.
No ano passado , um estudante atirou contra colegas em uma escola em Goiânia e matou dois deles. Ele disse ter sido vítima de bullying, o que reacendeu o debate sobre o tema.
No caso de Lívia, o preconceito racial foi um componente importante. Ela é negra e foi adotada por pais de classe média alta em Belo Horizonte. Em dois anos, passou por quatro colégios. Alguns de elite, com maioria branca, e outros mais diversos, onde o problema persistiu.
"A sociedade é tão racista que basta a criança ser um pouco mais clara para se achar no direito de chamar o mais escuro de macaco, gorila", conta Maria.
Lívia foi hostilizada e agredida fisicamente. Ninguém queria fazer trabalhos com ela nem a convidava para atividades. "Talvez eu nunca saiba direito o que aconteceu com a minha filha na escola. Muita coisa ela fez questão de esquecer", diz a mãe.
Além da exclusão em sala, a menina foi atacada por mensagens na internet, que incluíam incitação ao suicídio.
De acordo com especialistas, o cyberbullying pode ser ainda mais danoso. "É pior, porque nem no fim de semana a criança consegue escapar", diz a pedagoga Cleo Fante, autora do livro "Fenômeno Bullying".
Os primeiros sintomas da depressão de Lívia apareceram em 2016: irritabilidade, desânimo, falhas na memória e dificuldade de concentração. Dois meses depois, após ser chamada repetidas vezes de "monstro", ela deu um tapa em uma menina.
Depois disso, não conseguiu mais retornar ao colégio. A depressão se agravou. Vieram as ameaças de suicídio, a fobia escolar. A menina passou 40 dias sem sair de casa, trancada em um quarto.
"Nesse momento veio também à compulsão alimentar. Ela engordou 17 quilos em um mês", conta a mãe. Hoje Lívia está estável, mas toma quatro remédios, faz terapia três vezes por semana e tem aulas particulares em casa, para tentar vencer o medo.
Em muitos casos, as consequências do bullying aparecem com mais força na vida adulta. O eletricista Marcos, 30, cujo nome também foi trocado, largou a escola por não suportar a perseguição.
Ele faz tratamento para depressão e tentou se suicidar. "Foram várias tentativas, mas amigos conseguiram me impedir. Com a psicóloga, notei que isso vem desde a infância, pelo bullying", conta ele, que levava chutes, socos e tapas no colégio, no interior de Minas Gerais.
Atualmente, os remédios psiquiátricos dificultam o trabalho de eletricista .ele não pode usar certas máquinas, como furadeiras. Assim como Lívia, Marcos é negro e diz que a questão racial foi um dos motivos para o bullying. "Não adiantou mudar de escola, a perseguição continuava."
Para Lucas, que também pediu para não ser identificado, trocar de colégio ajudou. Mesmo assim, o bullying teve consequências graves.
Com 25 anos, o produtor faz terapia e já teve crises de ansiedade. Lucas diz que o bullying na escola, em Goiânia, tinha motivação homofóbica.
"Era empurrado, intimidado. As professoras fingiam não ver esse bullying homofóbico, para ver se a criança 'se corrigia'", diz. A experiência o deixou com um profundo medo de rejeição, o que prejudica sua autoestima e relacionamentos atuais.
A especialista em neuropsicologia Nadia Bossa afirma que o bullying pode afetar a saúde física e mental. "É uma situação de extrema tensão, que provoca um desequilíbrio celular e psíquico. As consequências disso ao longo do tempo são severas", explica.
Lucas lembra ainda que, se reclamasse com adultos, a situação piorava. "Os alunos ameaçavam me bater", diz.
"Contar para o adulto pode ser um terror, por isso eles param de contar. A ação dos próprios alunos é 75% mais eficaz do que a intervenção de adultos. O colega, que está de espectador, pode falar: 'Para, nada a ver isso'", explica a pedagoga Telma Vinha, professora da Unicamp.
O advogado Alexandre Saldanha, 33, passou pela mesma experiência de contar para uma diretora e se arrepender. Ele afirma ter superado os dez anos de perseguição na escola ao se tornar um especialista no tema.
O curitibano começou a estudar o bullying na faculdade e hoje dá palestras, lidera grupos de apoio e processa colégios na Justiça. "Só sendo obrigadas a pagar indenizações que as escolas vão se preocupar com a prevenção", diz.
O promotor e assessor em educação do Ministério Público de SP, Antonio Carlos Ozório Nunes, afirma que é preciso cuidado com a judicialização do problema. "Primeiro os pais devem esgotar todas as possibilidades de diálogo com a escola. A solução deve ser mais pedagógica", afirma.
Alexandre conta que foi perseguido durante toda a vida por ser "gordinho e desajeitado". A falta de coordenação motora era resultado de uma paralisia branda de um lado do corpo.
Ele mudou de escola sete vezes, mas os apelidos de "aberração", "coisa" e "Gardenal" o seguiram. Aos poucos, Alexandre se tornou introspectivo, acuado. Passava o recreio na biblioteca, lendo, para fugir dos agressores.
"Não era por incapacidade minha de socializar ou de lidar com a frustração, como dizem algumas pessoas. Era incapacidade de lidar com a humilhação todos os dias."
Especialistas alertam que, nesses casos, é importante acolher a vítima, e não culpá-la. "Ela não é responsável pelo bullying. Há crianças que são um alvo frágil, por isso se trabalha a autoestima, a assertividade, mas sem culpabilizar", diz Vinha, da Unicamp.
Por ser um alvo recorrente, Alexandre conta que sentia muita raiva. Mas conseguiu, segundo ele, dar vazão aos sentimentos por meio de música, poesia, desenho e o esporte. "É normal sentir raiva, mas é o que você faz com isso que importa", defende.
Na vida adulta, ele afirma que ajudar vítimas de bullying foi a sua forma de seguir adiante e "se curar". "O bullying foi o período mais escuro da minha vida, mas hoje eu encontrei o meu caminho."
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ENTENDA
Como identificar o bullying e o que fazer
Bullying X conflito

No bullying, os ataques são intencionais, repetitivos e têm como objetivo maltratar e humilhar; não há justificativa evidente para as agressões. Ele é realizado entre pares –ou seja, entre alunos, mas com uma desigualdade de poder– e na presença de 'espectadores'
Vítimas mais comuns

Quem é considerado mais frágil, seja pela renda, orientação sexual, religião, origem, cor ou aparência. Pessoas tímidas ou com baixa autoestima também são alvos, assim como alunos que se destacam por coisas positivas, como beleza e boas notas
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COMO IDENTIFICAR
Possíveis sinais de que a criança sofre bullying
Na escola
- Mostra-se triste frequentemente
- É a última a ser escolhida em atividades e fica isolada ou perto de adultos no recreio
- Tem piora nas notas
- Anda com ombros encurvados, cabeça baixa e não olha no olho
Em casa
- Usa desculpas para faltar à aula
- Tem mudanças extremas de humor
- Gasta mais dinheiro que o habitual na cantina para dar lanche aos outros
- Aparece com hematomas após a aula
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COMO AGIR
O que a escola deve fazer?
- Capacitar funcionários e orientar pais
- Explicar as consequências, para que alunos não achem graça
- Estar junto no recreio para criar confiança
- Acionar os pais e discutir soluções, ouvindo a opinião da vítima
- Em casos graves, acionar autoridades
O que os pais devem fazer?
- Observar os filhos
- Acionar a escola e discutir soluções
- Não dizer coisas do tipo "ignore" ou "não ligue"
- Estimulá-los a perceber suas habilidades para resgatar a autoestima
- Se preciso, buscar a ajuda de psicólogos
Como proceder com o agressor?
- Repreender suas ações e mostrar o mal que ele está causando ao outro
- Fazer com que ele conserte o dano causado
- Trabalhar valores como respeito às diferenças
Fontes: Cartilhas do CNJ e do Ministério Público e especialistas

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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Bebê ajuda a prevenir bullying em escola no Canadá


   Objetivo de visitas de Naomi, de sete meses, é elevar capacidade emocional e social de alunos; aulas fazem parte de programa que acontece em outros sete países


                             
                             



   Naomi tem apenas sete meses, mas já tem um "emprego". E seu trabalho é sério. O bebê ensina empatia a crianças de nove e dez anos de uma escola no Canadá. 

O objetivo é elevar a capacidade emocional e social dos alunos. 
Naomi faz parte de um programa chamado "Roots of Empathy" ("Raízes de Empatia"). 


"Ela é vulnerável. Ela é mais vulnerável do que eles são e temos muitas crianças vulneráveis nas salas de aula. Isso faz com que eles aprendam a ter cuidado com ela", diz Kathy Kathy, instrutora do 'Roots of Empathy'. 

Para a fundadora do programa, Mary Gordon, as crianças se tornam cidadãs melhores. 

Mas por que usar um bebê? 

   "Eles se dão conta desse universo de que 'todo mundo no mundo sente a mesma coisa que eu. Não estamos tão desconectados uns dos outros'. É muito difícil odiar uma pessoa se você perceber que elas têm sentimentos como você. 

   É muito difícil praticar bullying se você perceber isso." 
As aulas do 'Roots of Empathy' acontecem no Canadá e em outros sete países. 
Estudos mostram que elas reduzem o bullying e a violência dentro da escola.


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As 7 doenças que estão matando nossa humanidade


    Nem toda superstição é religiosa, e uma das superstições mais perigosas de nosso tempo nada tem de mística. Ela consiste na crença de que o desenvolvimento da sociedade sempre é algo positivo, e que na busca pelo progresso deixamos para trás apenas o que é obsoleto

                       
                              

   Sete das mentes mais criativas dos últimos tempos atacaram essa superstição. É verdade, a tecnologia e a evolução dos costumes podem transformar nossas vidas aqui na Terra em um paraíso.
Mas é possível que nesse processo deixemos para trás algumas das condições necessárias para uma vida plena, feliz e amorosa – uma vida com sabedoria, em outras palavras. Se desejamos rumar até o paraíso, precisamos saber distingui-lo do inferno.
Para sete pensadores, nossa sociedade está na enferma, e eles diagnosticaram as sete doenças que a acometem.


1- A ESPETACULARIZAÇÃO DE NOSSAS VIDAS
Em 1967, o filósofo francês Guy Debord escreveu A Sociedade do Espetáculo, em que propõe que no mundo moderno somos induzidos a preferir a imagem e a representação da realidade à própria realidade concreta.
Para Debord, as imagens, apenas sombras do que existe, contaminaram nossa experiência cotidiana, levando-nos a renunciar à vivência da realidade tal como ela é. Toda a vida em sociedade virou um acúmulo de espetáculos individuais e coletivos, tudo é vivido apenas enquanto representação perante os outros.
Compartilhar status, instagrams, tweets: os palcos e as plateias mudaram, a encenação ficou cotidiana. Na sociedade do espetáculo em que estamos submersos, mesmo os relacionamentos são conduzidos pela mediação de imagens.
 Passando a intermediar as relações com imagens e simulacros de sentimentos moldados pelas redes sociais, voluntariamente renunciamos à qualquer tentativa de reconhecer os aspectos difíceis e desafiadores dos relacionamentos verdadeiros.
Debord entendia que o real envolvimento em relacionamentos humanos foi trocado por uma identificação passiva com a posição de espectadores recíprocos. Nesse esquema, cada um assiste, curte e compartilha o outro em seu palco particular, aguardando a sua vez de ser assistido, curtido e compartilhado.
Há, assim, um gradual empobrecimento das relações humanas. Isoladas, as pessoas tornam-se intimamente mais inseguras, e portanto mais fragilizadas. Essa fragilização torna os indivíduos mais influenciáveis e facilmente manobráveis.
2- A MENTIRA ENQUANTO NARRATIVA
O filósofo e neurocientista norteamericano Sam Harris escreveu em 2013 o livro Lying (Mentindo), na verdade um ensaio em que ele demonstra que a mentira é o pecado que pavimenta todos os demais pecados da modernidade.
Estimular socialmente a necessidade da mentira é uma decorrência lógica de uma sociedade do espetáculo, em que mentir é muito mais do que ocultar a verdade. A mentira chega ao ponto de desconstruir a verdade ao confundi-la com uma narrativa – algo que serve, portanto, ao próprio espetáculo.
Dizer tudo é relativo é um slogan ultrapassado. Agora, tudo é narrativa, e passamos a acreditar que não há nenhum fato que não possa ser redefinido como uma forma de narrativa do protagonista.


Após séculos identificando Deus como A Verdade e o diabo como O Pai da Mentira, a sociedade atual encara o conceito de “verdade” com ironia e ceticismo. Uma das características de nosso tempo é a ideia de que a verdade é relativa, e de que tudo depende do ponto de vista do sujeito. O relativismo moral é uma mentira cuidadosamente elaborada para que ela própria pareça uma verdade.
O problema é que a linha moral entre verdade e mentira é a única que separa nossa caminhada coletiva do rio negro da barbárie e da superstição. E nem precisamos apelar para as virtudes morais do leitor: já está provado que a melhor solução de qualquer conflito humano é a colaboração e a confiança mútua. Assim, a posição de vantagem perceptível a curto prazo torna-se uma enorme derrota logo adiante.
3- O PROTAGONISMO
O produtor britânico Adam Curtis idealizou o documentário The Century of the Self (O Século do Eu). Nessa obra imperdível (disponível aqui legendado), ele demonstra como a publicidade utilizou as teorias psicológicas sobre o funcionamento da mente humana para tentar manipular o desejo do público e induzir todos ao consumo.
Não havia lugar para sutilezas. Um pouco comicamente, algo banal como vender carro na TV utilizava estratagemas que tentavam invocar alguns dos desejos sexuais mais primitivos do espectador. Era cômico, mas eficiente: a venda de carros aumentava. A realidade humana é que talvez seja meio engraçada. Podia-se, portanto, dar um passo além.
Assim, a seguir houve uma evolução menos ingênua e grosseira dessa publicidade, uma forma de explorar os medos e anseios do público para além do comercial de automóveis fálicos. Afinal, porque tentar associar o produto com os desejos íntimos do consumidor se era possível, pela indústria de entretenimento, influenciar e talvez até determinar esses desejos íntimos?
A partir de 1960, o movimento da contracultura ensinou às grandes multinacionais e agências de publicidade que dava lucro desenvolver e disseminar entre a pessoas a noção de individualismo como um estilo de vida.
Daquele momento em diante, os meios de comunicação de massa (cinema, televisão, música popular) passaram a vender a seguinte ideia: somos todos nós indivíduos únicos, especiais, e temos todos o direito de explorar a riqueza luminosa de nossa individualidade.
Disso surgiu o protagonismo. Afinal, numa sociedade em que tudo é espetáculo, a decorrência lógica é que todos, estimulados em seu individualismo, considerem-se protagonistas.
As redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter e Tumblr só querem uma única coisa de nós: que as utilizemos cada vez mais, que as tornemos uma parte indispensável de nossa vida. E o que fazem para isso é criar espaços em que podemos construir nossa imagem pessoal perante os outros de forma que pareçamos protagonistas de uma narrativa interessante.


O protagonismo estimulado pela nossa sociedade torna, subjetivamente, todas as outras pessoas meros coadjuvantes de nossa história pessoal. Todos os outros seres humanos ao nosso redor são considerados apenas na exata medida em que colaboram ou não com o desenvolvimento dessa pequena novela que repetimos a nós mesmos em nossa cabeça.
E um dos aspectos mais nocivos disso é a ideia de protagonismo social, muito difundida no ativismo das redes sociais. Segundo essa proposta, apenas aqueles que se enquadram em determinada categoria minoritária ou oprimida poderiam lutar ativamente contra as condições de opressão. Todos os demais indivíduos deveriam, portanto, permanecer passivos diante da luta, em estado de aprovação bovina.
 Assim, somente mulheres poderiam protagonizar o combate ao machismo, somente afrodescendentes poderiam protagonizar o combate ao racismo. Segmentando ainda mais a sociedade, essa proposta impede que todos os seres humanos, unidos, lutem contra tudo aquilo que for um problema fundamentalmente humano – como o são os preconceitos.
4- AS RELAÇÕES LÍQUIDAS
Muito já se falou da teoria do sociólogo polonês Zygmunt Bauman sobre a sociedade líquida. Por “líquida” entende-se uma sociedade em que não há papeis sociais rígidos nem certezas sólidas. Tudo, portanto, é fluído e não somos obrigados a assumir um compromisso duradouro com qualquer papel social ou pessoa.
Que emprego escolher, com quem nos casar, que estilo de vida adotar: não há qualquer orientação sobre o que é certo e errado diante de duas escolhas, e tudo o que nos é dito é que temos total liberdade para decidir. O problema é que cada escolha por um caminho implica na renúncia de outro, e disso irremediavelmente surgem dúvidas e a sombra do arrependimento.
Essa liberdade, inserida no contexto da sociedade que impõe ao indivíduo a obrigação de espetacularizar sua vida e expressar uma suposta individualidade de protagonista bem sucedido, é sentida como um fardo. O resultado são indivíduos acometidos de ansiedade constante, inseguros, fragilizados. E pessoas fragilizadas são mais facilmente influenciáveis.
Transportando isso para os relacionamentos, Bauman salienta que a facilidade com que hoje podemos abandonar uma relação, transitando de um envolvimento afetivo para o outro, sempre na busca de uma idealização inalcançável do sujeito amado e do próprio amor, traz também ansiedade e acarreta o empobrecimento das relações humanas.
Atualmente nós desfazemos nossos elos com os outros com a facilidade de quem desfaz uma amizade no Facebook: basta um clique. Em um planeta superpovoado, parece que sempre há a nossa disposição outras tantas pessoas com as quais estabelecer conexão – o problema é que no final nunca estabelecemos conexões verdadeiras com ninguém.
Em Mal-estar na atualidade, o psicanalista brasileiro Joel Birman alerta que a racionalização das práticas sociais usurpou dos indivíduos o controle do seu tempo. A forma como utilizamos nosso tempo pessoal está cada vez mais sendo pré-determinada pelas demandas sociais, impondo que vivamos em um frenesi initerrupto.
Hoje em dia, estamos sempre super atarefados. A sociedade nos seduz com o sonho de sermos protagonistas de nosso espetáculo privado, mas o caminho para esse sonho está ladrilhado com tarefas, microtarefas e toda espécie de atividade que exige nossa constante atenção. Isso consome praticamente todo o nosso tempo desperto.


Como resultado, embora estejamos hoje em dia sempre atarefados, parece que jamais fazemos o suficiente. Disso vem a sensação estranha de que estamos vitimizados pela procrastinação: nunca temos tempo de fazer tudo o que precisamos para cumprir com a promessa de que seremos protagonistas excepcionais.
O problema é que um ponto central de qualquer projeto de vida é a possibilidade de revisarmos nossas decisões e estratégias com atenção e tranquilidade, refletindo detidamente sobre aquilo que estamos fazendo. A pressa nos impede de analisar quais coisas são realmente importantes para nós e quais são as nossas prioridades.
Sem tempo o suficiente para investigar a motivação por trás de cada tarefa cotidiana, desperdiçamos muito de nosso tempo em atividades que podem ser valorizadas socialmente, mas que intimamente significam muito pouco para nós. Mais que isso, sem podemos nos dar ao luxo de perder tempo, deixamos de ter direito ao ócio necessário à criatividade e à fruição dos prazeres.
6- O HIPERCONSUMISMO
O filósofo francês Gilles Lipovetsky cunhou o termo hiperconsumo. Seríamos, neste momento da história, não meros consumidores, mas hiperconsumidores. Em uma estrutura na qual o crescimento econômico depende do consumo crescente da população, estamos todos inseridos numa dinâmica social baseada na compra contínua. Se pararmos de consumir febrilmente, há um colapso da economia.
Não há nada de essencialmente errado com o consumo. O mercado de consumo tem sim seus espaços legítimos de atuação. Porém, a partir de 1970, segundo Lipovestky, ingressamos na fase do hiperconsumo. Trata-se de uma fase essencialmente subjetiva, pois os indivíduos desejam adquirir objetos não pela sua utilidade ou necessidade, mas para aliviarem sua ansiedade de aceitação e integração na coletividade.
Os produtos são consumidos enquanto ato de expressão da individualidade e do estilo de vida do hiperconsumidor. Compramos produtos, mas estamos em busca de sensações, vivências e a construção de uma imagem social que nos traga prestígio.


Gastamos pequenas fortunas em smartphones para não utilizarmos sequer 20% de sua capacidade computacional. Olhamos para as avenidas engarrafadas de nossas cidades e vemos potentes utilitários transportando apenas uma pessoa, o motorista. A construção social da moda e da tendência garante que roupas ainda em perfeito estado sejam enfiadas no fundo do guarda roupa, obrigando-nos a comprar novas roupas que nos protejam da ridicularização social.
O conceito de obsolescência programada, a noção de desvalorização dos bens de consumo adquiridos e o status social associado a novas versões dos mesmos produtos assegura que tenhamos que trocar de carro, smartphone, televisão e computador com uma frequência que é conveniente ao sistema de produção atual, mas irracional do ponto de vista do consumidor e da capacidade de exploração do meio ambiente.
7- A IRONIA
“Não se engane, a ironia nos tiraniza”, vaticinou o escritor americano David Foster-Wallace em seu ensaio E Unibus Pluram. E seu alerta precisa ser levado a sério.
Ironia consiste essencialmente em querer dizer coisa distinta daquela que está sendo expressamente dita, causando o efeito de humor. Portanto, a ironia flerta com a mentira e, ao lado do conceito de narrativa, é outra forma eficaz de deteriorar socialmente o valor da verdade em nossa sociedade.
Mas a ironia é ainda mais nociva, pois não para seu trabalho corrosivo por aí – a ironia mina a própria capacidade do indivíduo vivenciar e expressar socialmente sentimentos verdadeiros e significativos.
Não apenas a sinceridade e a paixão estão hoje fora de moda, alerta Foster-Wallace, mas atualmente é sinal de distinção social e de inteligência estar levemente entediado e ostentar uma leve, cínica, desconfiança sobre todas as coisas: expressões faciais, gestos e comentários que informam, com ar de superioridade, que “já vi de tudo nesse mundo”, que “sei que nada é o que parece ser” e que “acho tudo isso que você leva tão a sério muito engraçado”.
A ironia que começou como um espírito de vanguarda no passado, do qual dotadas as pessoas mais inteligentes e sagazes, tornou-se agora uma cultura de massa. Os meios de comunicação, segundo Foster-Wallace, utilizam elementos do pós moderno como a metalinguagem, o absurdo, o sarcasmo, a iconoclastia e a rebelião e os modela para fins de consumo.
A partir de então, a ironia, que antes era um instrumento fortalecedor do espírito contra os dogmas e as crenças sacralizadas mas opressoras, tornou-se uma força debilitante do próprio espírito humano. Pois a ironia é a forma irreverente de o desprezo anunciar que está chegando.
Citando o poeta americano Lewis Hyde, Foster-Wallace expõe que “a ironia tem uma utilidade apenas emergencial, e estendida no tempo, torna-se a voz do prisioneiro que passou a gostar de sua cela”. Ela perde seu potencial contestador e torna-se uma forma sarcástica de conformar-se e adaptar-se a tudo aquilo que nos limita. Pois a ironia também atinge as aspirações a gestos heróicos e elevados sentimentos.
A ironia, embora realmente prazerosa, tem uma função essencialmente negativa, pois é crítica e desconstrutiva, “boa para limpar o terreno”. Porém, a ironia, após seu trabalho de destruição e depuração, é incapaz de construir algo verdadeiro, é inábil em propor a criação de algo que substitua, e para melhor, aquilo que ajudou a destruir.
             Retirado do link :
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