Sri Prem Baba é vegetariano, mas chegou a trabalhar
num frigorífico, teve uma vida religiosa eclética, criou um monastério na Índia
e se tornou um mestre espiritual conhecido por seguidores mundo afora
Nascido
no bairro da Aclimação, em São Paulo, Janderson Fernandes de Oliveira desde
cedo foi ligado na busca espiritual. Criado pelos avós e fã de Bruce Lee,
encontrou na yoga o sossego. “
Um dia
um amigo me falou de uma prática chamada yoga, na qual se aprendia a dominar o
corpo através da mente. Aquilo me estimulou muito e eu quis experimentar. Me
apaixonei pela prática e passei a me dedicar exclusivamente a ela”.
Aos 32
anos, teve uma visão que transformou sua vida. Um velhinho de barbas brancas o
chamava para ir a Rishikesh, na Índia. Considerou o sonho uma espécie de sinal,
e decidiu visitar o lugar.
Lá encontrou seu guru, Sri Hans Raj Maharajji,
e tempos depois se transformou-se em Sri Prem Baba. Prem significa ‘amor divino’ e Baba, ‘pai’, o que resultou em ‘Pai do
amor divino’. Depois disso iluminou-se.
Com um
séquito mundo afora, entre eles famosos como Reynaldo Gianecchini, Isis
Valverde, Marcio Garcia e Giovanna Antonelli, o líder espiritual lançou
recentemente o livro ‘Propósito – A coragem de ser quem somos’ (editora
Sextante), onde aborda questionamentos e aponta caminhos que auxiliam na busca
pelo sentido da vida, resgatando a fonte de entusiasmo e motivação que nos
permite seguir em paz.
Prem
Baba é um pouco de tudo e vai conquistando pessoas por onde passa. Brasileiro,
se tornou psicólogo e indiano por afinidade. Além de pai, é um buscador
espiritual incessante. E guru em pleno Ocidente. Da Índia, onde mora, conversou
com A GAZETA.
Por que escrever um livro sobre
“propósito” neste momento?
Percebo
que a crise generalizada pela qual estamos passando é devido à inconsciência em
relação ao propósito da vida. As pessoas
estão cada vez mais desorientadas, sem saber como lidar com os desafios desse
momento. Muitas estão completamente perdidas, sem saber o que fazer da vida.
Elas se deixam influenciar por crenças sociais e familiares e acabam se
desconectando completamente de si mesmas.
O que o senhor espera com o livro?
Que ele
possa ser um farol para iluminar o caminho daqueles que estão em busca de um
sentido para a vida. Que possa servir ao propósito maior do despertar da
consciência coletiva que encontra-se tão adormecida. Que possa ajudar a todos que estão sofrendo sem saber o que vieram
fazer aqui, nem que seja para ajudar a pessoa a levantar da cama pela manhã.
Que possa iluminar a lembrança de quem somos, pois somente isso poderá nos
salvar do colapso.
Estamos no limite de um modelo de
sociedade?
Sinto
que já temos provas suficientes de que o modelo de sociedade que escolhemos
viver não funciona mais. Talvez ele tenha servido em algum momento da nossa
história mas chegou ao seu limite.
Me
refiro ao modelo materialista, baseado na competição, na busca desenfreada pelo
dinheiro e reconhecimento social. Esse desespero nasce justamente do
esquecimento de quem somos e do que viemos fazer aqui. Vivemos correndo atrás
do dinheiro mas, muitas vezes, nem sabemos pra quê. Tal distorção tem nos
conduzido ao fracasso. Enquanto indivíduos e sociedade, nos encontramos
frustrados e cansados.
Queremos mais do que a sobrevivência. A saída
é nos voltarmos para dentro para buscar a felicidade no lugar certo. A
verdadeira felicidade só pode nascer daquilo que é real. E aquilo que é real
nasce da plenitude interior. Plenitude é quando nos sentimos completos por
sermos o que somos e consequentemente realizamos o nosso propósito. Esse é o
verdadeiro sucesso.
Qual é a maior queixa das pessoas que o
procuram?
As
pessoas estão buscando um sentido para vida. Elas querem saber o que vieram
fazer aqui. Querem alegria, liberdade e prosperidade. Querem ganhar dinheiro
com o que gostam de fazer, mas muitas delas nem sabem o que gostam de fazer.
Algumas conseguiram um certo grau de realização material e outras ainda nem
começaram, mas todas estão buscando um sentido, uma motivação para viver.
Acredita que os seres humanos estão
perdendo a capacidade se vincular?
De
certa forma, sim. Vejo que os seres humanos estão cada vez menos inspirados a
se vincular. E isso ocorre por diversas razões. Essa tendência faz parte da
desconstrução desse modelo de sociedade falido. Estamos ressignificando tudo,
até mesmo a forma de nos relacionar.
O ser
humano encontra-se seriamente estressado e traumatizado por tantas eras de
sofrimento na forma da guerra, do abuso do poder, da traição, da corrupção e
dos infinitos desdobramentos do egoísmo. Mas, apesar dessa tendência de não
se vincular ser um produto desse conjunto de traumas (que gerou imagens e
crenças profundamente arraigadas no inconsciente coletivo), vejo que,
atualmente, uma das principais razões disso é a nossa incapacidade de lidar de
forma saudável com a tecnologia.
Ainda
estamos no início de uma era tecnológica, aprendendo a conviver com as
inovações na área da comunicação. A internet está revolucionando as relações
humanas, em todas as áreas da vida. Nesse momento, ainda estamos muito
deslumbrados e até hipnotizados com essa novidade. E todo o sistema é
construído para nos deixar cada vez mais hipnotizados.
Estamos perdendo o nosso tempo e a nossa
presença, que é o que proporciona a possibilidade de nos vincular afetivamente
com os outros seres humanos. Acredito que precisaremos de mais tempo para
aprender a utilizar essas tecnologias sem ferir a nossa humanidade.
O senhor diz que os pais criam muros que
separam os filhos dos propósitos que vieram realizar. Como preparar as novas
gerações para enfrentar o mundo?
Eu
sinto que somente uma grande reforma na educação poderá melhorar essa situação.
Mas essa reforma precisa começar agora, com a reeducação dos adultos - pais e
professores. A educação é fundamental na formação da personalidade e no
processo de expansão da consciência do ser humano, porém, ela pode facilitar ou
dificultar esse processo.
E para que ela possa ser uma facilitadora, ela
precisa trazer autoconhecimento. Porque, na medida em que nos conhecemos, vamos
nos libertando de nossas crenças limitantes e nos tornamos capazes de apoiar o
desenvolvimento sustentável da personalidade infantil, o que implica em não
projetar nossas misérias nas crianças e dar força para que elas possam revelar
sua visão e sabedoria para o mundo.
Precisamos
primeiro curar nossas mazelas para que possamos educar nossos filhos
adequadamente. Cada um precisa fazer a sua parte. Nós desenvolvemos uma metodologia de ensino que já está sendo aplicada
em algumas escolas do interior de São Paulo. Essa metodologia tem a proposta de
ancorar uma nova educação, que é baseada em valores humanos e espirituais; que
incentiva a expressão natural dos dons e talentos das crianças e,
consequentemente, a manifestação do propósito das suas vidas.
No que estamos errando como Humanidade?
Temos errado de infinitas maneiras e por
isso estamos à beira de um colapso generalizado. São muitos os erros, mas
talvez o principal deles (aquele que dá origem a todos os outros) seja a crença
de que a felicidade está fora de nós.
Essa é uma distorção que abre as portas para
uma série de conflitos, internos e externos. Por conta dessa crença, deixemos
de assumir responsabilidade por aquilo que acontece nas nossas vidas e com isso
não tomamos as rédeas do nosso próprio destino.
Isso faz com que nos coloquemos na posição de
vítimas: do governo, do patrão, do vizinho, da sociedade, da vida! É daí que
nasce todo o jogo de acusações e toda guerra, quer seja entre indivíduos, quer
seja entre nações. Eu sinto que essa é a raiz do nosso sofrimento.
Como cada um pode identificar seu
propósito na vida?
Uma
forma simples, mas muito poderosa de iniciar esse processo de identificação do
seu propósito é fazer uma pergunta a si mesmo: “Se eu não tivesse que me
preocupar com dinheiro; se não tivesse que agradar a ninguém, o que eu estaria
fazendo? Onde eu estaria nesse momento?” A sugestão, em outras palavras, é você
se permitir entrar em contato com os seus sonhos e identificar o que você
realmente quer para si mesmo.
Permita-se
lembrar da sua infância, especialmente dos momentos felizes, nos quais você
pôde ser você mesmo. O que você queria ser quando crescesse? Quais eram as
pessoas que você admirava? Quais eram os seus heróis? Então veja se isso, de
alguma maneira, se relaciona com os seus desejos atuais ou com a sua vida
atual. Com certeza, existe alguma conexão.
Com
isso, não estou dizendo para você ser irresponsável e deixar o que está
fazendo. Estou apenas sugerindo que você comece a mapear a sua vida. Faça um
check-up em todas as áreas: relacionamentos, profissão, dinheiro, saúde,
amizades, família e espiritualidade.
Avalie
e identifique o que você gostaria que fosse diferente; aquilo que está te
perturbando e gerando angústia. Aos poucos, você poderá identificar o que te
impede de realizar aquilo que gostaria de realizar. Você entrará em contato com
as suas limitações ou crenças, que são vozes internas dizendo que você não pode
fazer o que gostaria de fazer.
Você
entra em contato com os seus nãos e consequentemente com as suas contradições
internas: por um lado você quer, por outro você não pode. Existe um sim e um
não atuando ao mesmo tempo no seu sistema.
O senhor nasceu em São Paulo e foi criado
pelos avós. O que seus pais faziam?
Conheci
meu pai quando tinha 18 anos de idade. Minha mãe era corretora, trabalhou na
área comercial de diferentes empresas. Minha avó era do lar e meu avô
trabalhava na área de manutenção de uma companhia de cinema. Eram pessoas muito
simples.
Aos 14 anos, o senhor foi trabalhar num
frigorífico, mesmo já sendo vegetariano. Parece um pouco contraditório. Como
foi esse período de sua vida?
Foi o
meu primeiro emprego, o único que consegui naquele momento. Eu precisava muito
trabalhar, pois não queria depender financeiramente da minha família. Por um
lado foi um período muito difícil. Tomei
contato com a crueldade com a qual os animais são tratados neste mundo e isso
reforçou a minha compaixão por eles e a minha convicção no vegetarianismo. Por
outro lado, consegui a independência que buscava. Aprendi muito sobre as coisas
do mundo. Sou muito grato por essa experiência.
Quando o senhor se torna guru?
Ser um
mestre não é algo que você decida ser, é algo que acontece. Tudo que aconteceu
na minha vida me levou a ser o que sou hoje por que esse era o programa da
minha alma, o meu propósito. E, como disse anteriormente, meu mestre fez de mim
um mestre. Ele apareceu para mim em uma visão quando eu era adolescente, quando
ouvi pela primeira vez um mantra hindu; e voltou a aparecer mais tarde para me
lembrar que eu precisava ir para a Índia quando completasse 33 anos.
Então,
quando chegou o momento, eu fui. E após uma peregrinação por diversos ashrams,
eu o encontrei, em Rishikesh. Ele me guiou para a experiência que eu precisava
ter para libertar minha mente e ancorar a presença.
Alguma mensagem para este ano?
Eu sinto que é o ano do alinhamento com
o propósito maior. Então eu rezo para que possamos nos comprometer com isso.
Que
possamos lembrar daquilo que somos e do que viemos fazer aqui. Que possamos
realizar o programa das nossas almas para finalmente nos tornarmos elos na
cadeia da prosperidade. Que nos tornemos canais do amor.
Retirado
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