O gesto faz bem à saúde, fato
comprovado em pesquisas científicas. Há campanhas de abraços nas ruas; uma guru
indiana já abraçou 26 milhões de pessoas
Abraço amoroso, fraterno, amigável, carinhoso, de consolo e de
alegria… toda forma de abraço é bem vinda. O
que muita gente não sabe é que, segundo estudos, até poucos segundos desse
contato podem ter um efeito terapêutico e trazer benefícios para o corpo e para
a mente.
Diversas
pesquisas levadas a cabo por especialistas – como esta, publicada pela revista Nature America em 2015 –
comprovam o poder do gesto para reverter o estresse e reforçar a
imunidade.
– Há
quem diga que precisamos de pelo menos um abraço por dia – assegura Sylvia
Velo, uma das coordenadoras da Campanha do Abraço em Ourinhos, São Paulo, uma
cidade de 110 mil habitantes. Lá, a campanha começou em 2012
por iniciativa de um grupo de jovens.
Mas quem procura o termo abraços grátis na
Internet recebe um grande número de respostas: há campanhas desse tipo por todo
o país.
A força mundial dos “free hugs” (em inglês, com duplo
significado – “abraço gratuito” ou “abraço livre”) começou com um australiano
conhecido pelo pseudônimo “Juan Mann”.
No website da
campanha, a explicação do início: “em 2004, minha vida estava de cabeça para baixo, tive que voltar de
Londres para minha Sydney natal e ninguém me esperava. Fui para uma esquina
movimentada da cidade com o cartaz FREE HUGS. E tudo começou”.
Depois que
a apresentadora Oprah Winfrey entrevistou o australiano em 2006, a campanha
explodiu mundo afora.
Antes dessa data havia registros de iniciativas parecidas, mas
só a de Juan ganhou destaque mundial – provavelmente, porque a mídia social já
estava em sua curva ascendente.
No Brasil, o site Abraços Grátis ressalta:
“nossa campanha visa compartilhar
abraços entre pessoas comuns, sem o interesse de companhia diária, dinheiro,
promoção, política ou sexo.
O objetivo é fazer com que as pessoas
abraçadas se sintam melhor, pois o abraço diminui a pressão sanguínea, o
batimento cardíaco e o nível de hormônios ligados ao estresse”.
Em Ourinhos, um grupo cada vez maior vem realizando eventos de
abraço grátis por toda cidade.
– Confeccionamos os cartazes e nos encontramos na praça central
da cidade. No começo, a gente fica
tímida, mas depois rola tanta energia positiva e a gente recebe tanta energia
em troca que parece uma fogueira de afeto. No final da campanha você não é mais
você, você é o mundo todo, é uma sensação única – contou Sylvia.
A guru dos abraços
A indiana Amma – Sri Mata Amritanandamayi Devi – ficou
conhecida mundialmente pelos “abraços que curam”. Hoje, sua organização dá
consultoria às Nações Unidas. Ela costuma dizer:
“As pessoas vivem dois tipos de pobreza. Um, pela falta de comida,
roupas e abrigo. Outro, pela falta de amor e compaixão.
Acredito
que o segundo tipo deve ser combatido em primeiro lugar, porque, se temos amor
e compaixão no coração, vamos cuidar de quem precisa de comida, roupa e
abrigo”.
A história de Amma começou quando, bem criança, se ofereceu para
cuidar de toda a família. Aos poucos, descobriu o poder de tocar as pessoas
através do abraço. Segundo se conta, ela jamais se recusa a atender alguém e já
ficou 22 horas sentada, abraçando num só dia 20 mil pessoas. Seu site calcula
que, em 35 anos, ela tenha dado 26 milhões de abraços.
Mas será mesmo que o abraço tem todo esse
efeito terapêutico?
O gesto
de abraçar, com vontade, libera um hormônio muito conhecido pelos casais
apaixonados e mães de recém nascidos: a oxitocina. Essa substância, produzida
no hipotálamo, região central do cérebro, pode proporcionar prazer e promover a
conexão com as pessoas.
Além da
oxitocina, o abraço também pode liberar endorfinas, aquelas substâncias
secretadas por quem segue uma vida fitness ou pelos fãs de um chocolate. As
endorfinas trazem um tremendo bem-estar ao indivíduo. E assim seria o abraço.
Mas nem todo mundo concorda com isso. A psicóloga Christina
Montenegro diz que há certa confusão entre o abraço concreto e com o que
significa o abraço.
– O abraço provoca realmente a produção de oxitocina e
endorfina. Mas não pelo abraço físico e concreto e sim pela sensação de
acolhimento, de formação de vínculos significativos para ela. É isso que faz
bem no abraço – enfatiza Montenegro.
Ela acrescenta ainda que a essa sensação de acolhimento
pode vir de outras formas, não necessariamente através de um abraço.
– Esse abraço é mais do que físico. É um ouvido, um olhar… às
vezes, é alguém dar seu tempo para escutar o outro, em silêncio. Não é
necessariamente sair na rua e abraçar desconhecidos, porque isso é artificial.
Eu não acredito nisso. Com a maior das boas intenções, você pode acabar sendo
invasivo. E isso não é bom em circunstância alguma. Tem que ter uma delicadeza.
É perigoso decretar que gestos bem intencionados terão bons resultados.
Retirado
do link: