"Além do cabelo comprido e cacheado, meu filho fez balé e
joga futebol"
Foram essas
características-chave de seu filho Teodoro Rodrigues, de nove anos - o qual
nunca cortou suas longas madeixas - que escritora e médica paulista Rosana
Martinelli escolheu para definir o protagonista de seu livro
recém-lançado O Pinguim
Azul de Miguel, pela editora Quatro Cantos.
Com linguagem simples e
ilustrações supercoloridas pela artista plástica Mariana Belém, o exemplar
busca ajudar as crianças a aceitarem as peculiaridades de cada um - que não
necessariamente devem ser motivo de chacota ou discriminação.
"Meu filho já sofreu bullying na escola por ter longos
fios. Em locais públicos ele é sistematicamente confundido com menina por
pessoas que não o conhecem", conta a autora sobre as principais motivações
para colocar sua ideia no papel
O enredo divertido envolve logo
de cara: Miguel, de seis anos, joga futebol num time treinado por uma
técnica, a Helena. Seu pai, que não possui uma das pernas, é um corredor que
coleciona medalhas - ele também é o encarregado de preparar, diariamente, o
almoço da família.
Sua irmã, Vivi, é uma garota
acima do peso que sonha em estudar moda e faz as unhas com um manicuro, o
Bartolomeu. Ivan leciona artes na escola e também exibe uma longa cabeleira,
que estimula o personagem principal diariamente, por ser uma figura
masculina presente na área da educação infantil
"Desde que me conheço por gente, não concordo que devam
existir 'coisas de menino' e 'coisas de menina'", conta Rosana sobre todas
as quebras de padrão inseridas minuciosamente, de forma natural e sem
conflitos, na história do pequeno.
"Sempre tive uma
luta pessoal contra o sexismo, porque tenho um irmão gêmeo, então sempre senti
na pele os efeitos nocivos da discriminação."
O livro é indicado para aqueles
que estão em fase de alfabetização, ou seja, a partir dos 5 anos.
É nesta fase que as crianças tornam-se grandes observadoras e
imitadoras do que acontece à sua volta - desenvolvendo, assim, uma melhor
consciência do mundo real e imaginário. Por isso a leitura da obra se faz
crucial, para que nossos pequenos aprendam, desde muito cedo, que o diferente
não é ruim, tampouco deve ser motivo de repúdio.
"Vamos supor que uma
criança pequena tenha na família todos os componentes do gênero masculino com
cabelos curtos e o mesmo acontecendo no colégio, nenhum dos coleguinhas os
tenha longos.
Automaticamente, ele fará a
associação que garotos devam ter sempre cabelos curtos." Exemplifica a
escritora: "O exemplo pode ser aplicado em qualquer diversidade, e todos
nós podemos ser atingidos. Cabe aos adultos ficarem atentos e oferecerem
experiências diversas para que essa tese criada seja desfeita.
Mas muita gente deve estar se
perguntando o porquê da presença do pinguim no título. A ave faz referência à
pelúcia preta e branca que Teodoro dorme todos os dias abraçado à noite. Já a
justificativa da escolha do tom surpreende: "
No meu primeiro ano de escola, desenhei toda orgulhosa um lindo
cachorrinho azul, que foi alvo de duras críticas por parte da professora,
dizendo que eu não deveria tê-lo feito pois esses animais não existem na cor
azul." Relembra:
"Fiquei muito triste com o episódio e jamais esqueci o que
senti no momento. Mas eu sabia que podia colori-lo como eu quisesse, afinal, eu
havia me inspirado no Bidu, personagem dos gibis do Maurício de Sousa que
adorava folhear."
Quando questionada sobre a
importância de materiais direcionados ao público infantil, Rosana não esconde a
sensação de trabalho cumprido: "O
Pinguim Azul de Miguel é isso, um tijolinho retirado da parede
do preconceito que deixa a gente enxergar pelo pequeno espaço aberto um mundo
que explode em cores e formas diferentes de ser."
Retirado do link:
Nenhum comentário:
Postar um comentário