Criadora
do Movimento Down compartilhou suas experiências no primeiro dia do Educação 360
Dois professores em sala
para respeitar o ritmo dos alunos. Qualquer aluno, tendo ele deficiência ou
não.
Essa é uma das novas ideias defendidas por
Maria Antônia Goulart, criadora do Movimento Down, iniciativa que reúne num
portal informações voltadas para o desenvolvimento de pessoas com síndrome de
Down e deficiência intelectual, além de coordenar uma rede de voluntários que
prestam serviços, como fisioterapia ou terapia ocupacional, em cidades onde
essas práticas não são encontradas.
A experiência de Maria Antônia foi] um dos
estudos de caso do Educação 360, que foi realizado pelos jornais O GLOBO e
"Extra", em parceria com o Sesc e a Prefeitura do Rio e apoio da TV
Globo e do Canal Futura e da Coca-Cola, na Escola Sesc de Ensino Médio, em
Jacarepaguá, .
O Movimento Down foi criado em
2011. Você acha que nesses cinco anos a informação sobre síndrome de Down
melhorou no Brasil?
Acho que vem melhorando. Existe
um número maior de pessoas com deficiência aparecendo de forma positiva na
mídia. Há um número muito maior de pessoas com deficiência entrando na universidade
e no mercado de trabalho, mas ainda estamos a anos-luz de distância do que
deveríamos estar, tanto em termos de acesso a direitos e serviços quanto da
própria construção da imagem da pessoa com deficiência como alguém potente,
capaz. Isso ainda é um desafio que vamos demorar longos dez, vinte anos para
avançar.
O filme "Colegas" (2013) é um desses
exemplos, já que os protagonistas têm síndrome de Down, certo?
Exato. Acho que o cinema é um
espaço importante para eles. Quando a pessoa vê um filme no qual o protagonista
tem síndrome de Down, inevitavelmente pensa:
"Essa pessoa teve que decorar essas falas, ensaiar, se preparar,
compreender todo o contexto de uma produção cinematográfica e atuar nela".
Quer dizer, olha quanta capacidade está envolvida em alguém que, a princípio,
poderia parecer uma pessoa menos capaz.
Como está a legislação sobre a
educação inclusiva no Brasil?
O Brasil vem avançando no
cenário internacional de forma muito positiva em relação aos direitos das
pessoas com deficiência e, nos últimos dez anos, a perspectiva inclusiva na
política de educação tem promovido um avanço bem significativo. Mas há uma
dificuldade muito grande no cumprimento da legislação e numa inovação que faça
com que a educação inclusiva seja parte de um projeto da escola, e não como uma
espécie de concessão ou um fardo que a escola tem que dar conta por causa da
legislação. É preciso fazer um esforço muito grande para mostrar que a educação
inclusiva faz com que a escola inteira melhore.
Por quê?
Se a escola enxergar seu
estudante, nas suas dificuldades e possibilidades, e desenvolver estratégias
pedagógicas para incluir esse aluno, ela vai dar conta de qualquer estudante,
com ou sem deficiência, até mesmo o que tem melhor desempenho do que os outros
e acaba ficando desmobilizado numa escola em que o ensino é mais pasteurizado.
O grande desafio é conseguir construir essa ideia de que a inclusão é melhor
para todo mundo.
Tem enfrentado muita
resistência?
Tivemos um grande embate após a
aprovação da Lei Brasileira da Inclusão (LBI): o Sindicato das Escolas
Particulares entrou no Supremo Federal Tribunal com pedido de declaração de
inconstitucionalidade dos artigos da LBI que determinavam a responsabilidade
das escolas particulares em relação ao aprendizado dos alunos com deficiência
sem que fosse cobrado a mais por isso.
As escolas argumentavam que
isso não era responsabilidade delas, que o aluno com deficiência é um problema
do estado. Então, se a escola aprova um aluno que já está no primeiro lugar, a
escola é boa. Se o estudante não aprende, o problema é ele. O STF foi muito
claro em dizer que não havia inconstitucionalidade, que a LBI é válida,
sepultou qualquer dúvida em relação à legislação.
Como isso repercute na prática?
Há um discurso muito cruel que
as escolas começaram a construir, de que agora vai ficar mais cara a educação
porque vão ter que dar conta dos problemas da educação inclusiva e que isso vai
ter que ser financiado pela escola inteira.
A gente não pode colocar a necessidade de se revisar os
processos pedagógicos como se fosse um custo do aluno com deficiência. Estamos
num modelo que não atende à demanda dos nossos estudantes. Não são só as
crianças com deficiência que não estão aprendendo. A educação inclusiva vem
para mostrar com mais clareza que essa escola que a gente tem não funciona.
E na escola pública?
Existe uma negativa velada da
matrícula. Quando a diretora fala: "É
claro, vamos matricular seu filho, ele só não vai aprender. Aqui a gente não
está preparado. Mas a gente vai receber". Isso é uma violência
institucional absurda, mas ainda é um comportamento muito comum. Não negam, mas
desencorajam a matrícula. Mas, em escala, sem dúvida nenhuma, a gente tem
mais inclusão de qualidade na rede pública do que na rede privada.
Pode sugerir alguma prática de
inclusão defendida pelo Movimento Down?
Uma delas é a bidocência. Com
dois professores em sala, você não coloca essa necessidade de um professor
mediador para cada aluno com deficiência, mas também não deixa o professor
regente sozinho.
Esse esquema, em especial
quando há aluno especial, tem possibilitado um trabalho de diversificação das
atividades pelos educadores, e não coloca essa marca de que aquele professor a
mais é daquele aluno. Ele é de todo mundo, inclusive do aluno com deficiência.
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