segunda-feira, 31 de outubro de 2016

“Temos uma nova geração alienada da natureza”


      Para Richard Louv, as crianças, cada vez mais confinadas, estão sofrendo de "transtorno de déficit de natureza" com consequências tais como obesidade infantil e falta de atenção

                        Dificuldade para concentrar-se, redução do uso dos sentidos, excesso de peso, deficiência de vitamina D, problemas psicológicos e emocionais. Eis alguns dos sintomas que podem evidenciar um ‘transtorno de déficit de natureza’, termo cunhado pelo escritor norte-americano Richard Louv no livro A Última Criança na Natureza.


A obra, que já vendeu mais de 500 mil exemplares, se baseia em uma série de pesquisas e estudos para mostrar os prejuízos de criar toda uma geração alienada dos ambientes naturais e cada vez mais confinada. Segundo o autor, espaços verdes ao ar livre promovem brincadeiras mais criativas, trazem mais interações positivas entre crianças e adultos e aliviam até mesmo os sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção.
Em conversa com Carta Educação, o fundador da Children & Nature Network, que teve suas obras traduzidas para mais de 13 línguas, falou sobre a urgência de reconectar crianças e adultos ao mundo natural para uma vida mais saudável e aprendizagens mais significativas.
“Em educação, para cada dólar gasto no virtual, deveríamos gastar pelo menos outro no real. Pesquisadores têm sugerido que levar mais verde para nossas escolas pode ser um dos mais eficientes métodos para alavancar o desempenho dos alunos”, diz.
Carta Educação: 
Em seus livros, o senhor faz um alerta para a atual alienação que as crianças têm da natureza. Quando isso começou? Quais são os sintomas dessa ausência?
Richard Louv:
 As pessoas têm passado a maioria de suas atividades para dentro de casa desde a invenção da agricultura, da Revolução Industrial e da contínua urbanização. As mudanças sociais e tecnológicas que ocorreram nas últimas três décadas aceleraram essa tendência, tanto em cidades quanto nas áreas rurais.
Entre as dificuldades que temos para nos conectar com a natureza, destaco o design precário dos bairros, casas, escolas e locais de trabalho, a “criminalização” da brincadeira livre, o medo de estranhos amplificado pela mídia e os perigos reais existentes em alguns bairros.
As famílias, escolas e comunidades têm buscado cada vez mais o seguro, criando ambientes “livres de risco”, mas que geram ameaças maiores mais tarde. Eu não estou dizendo que não há perigos por aí, mas precisamos pensar em termos de comparação.
Sim, existe perigo fora de casa, mas há riscos psicológicos, físicos e espirituais maiores em criar toda uma geração sob uma prisão domiciliar protetora. A obesidade infantil é apenas um deles.
CE: O senhor cunhou o termo transtorno de déficit de natureza. O que é exatamente?
RL: Transtorno de déficit de natureza, como eu defini no livro A Última Criança na Natureza, não é um diagnóstico médico, mas um termo útil, uma metáfora, para descrever o que muitos de nós acreditamos  ser o custo humano da alienação da natureza.
Entre eles, a redução da utilização dos nossos sentidos, a dificuldade de atenção, taxas mais elevadas de doenças físicas e emocionais, um aumento da taxa de obesidade infantil e adulta e deficiência de vitamina D. O transtorno de déficit de natureza prejudica as crianças e adultos também.
CE: Qualquer humano – especialmente na infância – precisa de contato com a natureza para se desenvolver e ficar saudável?
RL: Pesquisas que mostram isso têm se expandido muito nos últimos anos. Mas porque os pesquisadores têm se dedicado a esse tópico relativamente há pouco tempo, a maioria das evidências é correlativa, não causal – mas tendem a apontar para uma direção: experiências no mundo natural parecem trazer grandes benefícios para a saúde psicológica e física e para a capacidade de aprender de crianças e adultos.
 As pesquisas sugerem fortemente que o tempo passado em meio à natureza pode ajudar as crianças a aprender a ter confianças em si mesmas; reduzir os sintomas de Déficit de Atenção e Hiperatividade; acalmá-las e ajudá-las a se concentrar. O site The Children & Nature Network Web compilou um amplo acervo de estudos, reportagens e publicações que estão disponíveis para visualização online e download.
CE: Como o contato com a natureza está ligado ao desempenho escolar?
RL: 
Há indicações de que escolas com espaços para brincar com natureza podem reduzir o bullying, a obesidade infantil e o excesso de peso e trazem outros benefícios para a saúde psicológica e física. O tempo despendido na natureza obviamente não cura tudo, mas pode ser de extrema ajuda, especialmente para crianças que estão estressadas por circunstâncias que estão fora de seu controle.
Um estudo que analisou 905 escolas públicas de nível primário em Massachusetts mostrou notas mais altas nos testes padronizados de Inglês e Matemática nas escolas que incorporaram mais natureza ao espaço. Em paralelo, resultados preliminares de um estudo da University of Illinois com mais de 500 escolas de Chicago, que ainda será publicado, mostram descobertas parecidas, principalmente para estudantes com maiores necessidades de aprendizagem. Com base nesse estudo, pesquisadores têm sugerido que levar mais verde para nossas escolas pode ser um dos mais eficientes métodos para alavancar o desempenho dos alunos.
CE: O senhor disse que a grande “revolução” na Educação não são tablets ou computadores, mas jardins e parques. Poderia explicar isso melhor?
RL: Enquanto muitas escolas nos Estados Unidos estão indo na direção de ter menos movimento físico e mais testes e horas dentro da sala de aula, uma tendência contrária está crescendo por meio da criação de jardins e hortas escolares, espaços para brincar com natureza e atividades que tiram as crianças das salas de aula e usam o espaço natural como local de aprendizagem. Em educação, para cada dólar gasto no virtual, deveríamos gastar pelo menos outro no real. Em última análise, é preciso realizar uma mudança cultural profunda.
Precisamos incorporar a natureza à educação e seus benefícios à formação dos professores. Precisamos valorizar os docentes que insistem em expor seus alunos à ela, apesar da tendência no sentido contrário. Escolas e professores, no entanto, não podem fazer tudo sozinhos. Pais, responsáveis por elaborar políticas públicas e toda a comunidade precisam participar.
CE: O senhor disse que quanto mais high-tech nos tornamos, de mais natureza precisamos. Mas como conseguir isso se temos um número crescente de pessoas vivendo em grandes cidades?
RL: Não precisamos viajar para longe para encontrar natureza. Qualquer espaço verde irá providenciar benefícios mentais e físicos de bem-estar. Em áreas urbanas, esse contato com o meio natural pode ser encontrado em um parque, em um canto com uma árvore ou, até mesmo, num lugar tranquilo com vista para o céu e as nuvens. Conectar-se com a natureza deveria ser uma atividade diária e se planejarmos nossas cidades – incluindo nossas casas, apartamentos, espaços de trabalho e escolas – para estar em harmonia com a natureza e biodiversidade isso poderia se tornar um padrão comum.
Isso não quer dizer que sou anti-tecnologia. A tecnologia nos oferece uma série de benefícios. Mas essa imersão eletrônica sem uma força para contrabalancear pode drenar nossa capacidade de prestar atenção, pensar claramente, ser produtivo e criativo.
CE: Há alguma evidência mostrando que crianças que vivem em zonas rurais são mais felizes ou saudáveis do que aquelas vivendo em áreas urbanas?
RL: 
É óbvio que a falta de acesso à natureza é mais sentida pelas crianças das cidades populosas – mas nem sempre. A vida no campo é necessariamente mais rica em natureza? Não, a não ser que a pessoa reconheça e valorize a natureza ao seu redor. Em muitas zonas rurais, as crianças estão vivendo vidas tão conectadas e estressadas quanto a das crianças das cidades.
Nos Estados Unidos, a obesidade infantil atrelada ao estilo de vida sedentário está crescendo rapidamente nas áreas rurais. Tendo dito isso, quando a natureza é reconhecida, a vida fora das cidades pode trazer grandes benefícios. Mas as pessoas não precisam nem devem se mudar para o campo em número esmagador. Criar cidades ricas em natureza deveria ser a grande prioridade.
CE: Transtornos de atenção e hiperatividade podem ser tratados com um maior contato com a natureza?
RL: Ótimas pesquisas relacionam experiências no meio natural com a redução dos sintomas de TDAH. Alguns dos trabalhos mais importantes nessa área foram feitos na Human-Environment Research Laboratory at the University of Illinois por Andrea Faber Taylor, Ming (Frances) Kuo e William C. Sullivan.
Em uma série de estudos, eles acharam que espaços verdes ao ar livre promovem brincadeiras criativas, trazem mais interações positivas entre crianças e adultos e aliviam os sintomas dos transtornos de déficit de atenção. Quanto mais verde o cenário, maior o alívio. Por comparação, atividades dentro de lugares fechados, como assistir TV ou em lugares abertos mas pavimentados, sem verde, as prejudica.
CE: Como começar essa mudança cultural visando uma maior conexão das crianças com o mundo natural?
RL: Muitos adultos estão dando um péssimo exemplo ficando cada vez mais dentro de casa, com dispositivos eletrônicos, e, junto com seus filhos, enfrentando problemas de saúde relacionados ao sedentarismo.
A maioria das crianças e jovens simplesmente não sabe o que estão perdendo. Nunca é muito cedo – ou muito tarde – para ensinar crianças e adultos a apreciar e se conectar com o mundo lá fora. Mesmo em ambientes densamente urbanizados, a natureza muitas vezes pode ser encontrada nas proximidades, em algum lugar da vizinhança. Levar as crianças para fora de casa precisa ser um ato consciente por parte dos pais ou cuidadores. Pais, professores, avós, tios, todos nós podemos passar mais tempo com as crianças na natureza.
                    Retirado do link:
              

Num mundo bombardeado por clichês e estereótipos, seres etiquetados e padronizados, ser livre requer luta e empenho. Empenho diário em ser fiel ao que existe por trás das máscaras


    Ao classificar a realidade, as pessoas e as coisas, colocamos tudo dentro de pequenos cativeiros

      Construímos prisões para os outros e nos encarceramos também. Criamos limites, celas, grades que nos separam daqueles que julgamos diferentes, e portanto, impróprios para o nosso convívio.   

    Etiquetamos nossa cor, nosso colágeno, nossa posição social, nossos bens, nossa reputação, nossa opção sexual "normal", nossa religião perfeita, nossa família ajustada, nosso partido político coerente. Não permitimos mudanças, ponderações, diferenças.

    Somos intolerantes com quem fica "em cima do muro" - como se parar para pensar fosse crime. E assim vivemos, seres perfeitos, imutáveis, imaculados, acima do bem e do mal. Subimos em nossas torres e lá observamos o "mundo perdido", sem perceber que perdidos estamos nós, solitários em nossas celas, aprisionados em nossas máscaras e cheios de opiniões...

                 Autor: Fabiola Simões

Vice Miss Itália ganha atenção e é vítima de gordofobia nas redes sociais


             Bullying motivado por inveja 


                               


        Quem assiste aos concursos de beleza de misses está acostumado a ver mulheres magras, com o corpo definido, ganharem as competições. Na Itália, Paola Torrente quase conseguiu acabar com essa tradição de estereótipos.

      A mulher, que veste 46 e tem um corpo maior que as outras concorrentes, acabou na segunda colocação. Mesmo sem ganhar, ela conseguiu chamar mais atenção que a vencedora, Raquele Risaliti.

   Aos 22 anos, a estudante de engenharia recebeu muitas críticas em redes sociais da web. Nina Moric, modelo croata de 40 anos, escreveu no Instagram: "Paola é muito gorda para vencer. Chegamos ao ponto em que escolhemos uma Miss Itália que é gorda, e tudo em nome da sensibilidade e da aceitação dos outros. Por que não começamos um (concurso) para pessoas com pés feios também?", provocou a croata.

   A mãe de Viviana Vogliacco, a terceira colocada no Miss Itália, disputado em Salerno, juntou-se a Nina e disse que Paola deveria competir em uma versão do concurso destinada a gordas, contou o "Sun".

As declarações provocaram forte discussão. Muitos usuários da rede disseram que Nina e a mãe de Viviana estão com "inveja" e que Paola não pode ser chamada de "gorda". A vice ganhou muitos fãs, que a classificam no Twitter como "obra-prima da natureza". Outros disseram que Paola representa "a verdadeira mulher italiana".

                 Retirado do link :

                    

https://estilo.catracalivre.com.br/beleza/vice-miss-italia-ganha-atencao-mas-e-chamada-de-gorda-nas-redes/


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

‘Inclusão é melhor para todo mundo’, diz Maria Antônia Goulart



        Criadora do Movimento Down compartilhou suas experiências no primeiro dia do Educação 360

                

    Dois professores em sala para respeitar o ritmo dos alunos. Qualquer aluno, tendo ele deficiência ou não.
 Essa é uma das novas ideias defendidas por Maria Antônia Goulart, criadora do Movimento Down, iniciativa que reúne num portal informações voltadas para o desenvolvimento de pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual, além de coordenar uma rede de voluntários que prestam serviços, como fisioterapia ou terapia ocupacional, em cidades onde essas práticas não são encontradas.

     A experiência de Maria Antônia foi]  um dos estudos de caso do Educação 360, que foi  realizado pelos jornais O GLOBO e "Extra", em parceria com o Sesc e a Prefeitura do Rio e apoio da TV Globo e do Canal Futura e da Coca-Cola, na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá, .

  O Movimento Down foi criado em 2011. Você acha que nesses cinco anos a informação sobre síndrome de Down melhorou no Brasil?

 Acho que vem melhorando. Existe um número maior de pessoas com deficiência aparecendo de forma positiva na mídia. Há um número muito maior de pessoas com deficiência entrando na universidade e no mercado de trabalho, mas ainda estamos a anos-luz de distância do que deveríamos estar, tanto em termos de acesso a direitos e serviços quanto da própria construção da imagem da pessoa com deficiência como alguém potente, capaz. Isso ainda é um desafio que vamos demorar longos dez, vinte anos para avançar.


O filme "Colegas" (2013) é um desses exemplos, já que os protagonistas têm síndrome de Down, certo?

Exato. Acho que o cinema é um espaço importante para eles. Quando a pessoa vê um filme no qual o protagonista tem síndrome de Down, inevitavelmente pensa:

  "Essa pessoa teve que decorar essas falas, ensaiar, se preparar, compreender todo o contexto de uma produção cinematográfica e atuar nela". Quer dizer, olha quanta capacidade está envolvida em alguém que, a princípio, poderia parecer uma pessoa menos capaz.

  Como está a legislação sobre a educação inclusiva no Brasil?

  O Brasil vem avançando no cenário internacional de forma muito positiva em relação aos direitos das pessoas com deficiência e, nos últimos dez anos, a perspectiva inclusiva na política de educação tem promovido um avanço bem significativo. Mas há uma dificuldade muito grande no cumprimento da legislação e numa inovação que faça com que a educação inclusiva seja parte de um projeto da escola, e não como uma espécie de concessão ou um fardo que a escola tem que dar conta por causa da legislação. É preciso fazer um esforço muito grande para mostrar que a educação inclusiva faz com que a escola inteira melhore.

   Por quê?


  Se a escola enxergar seu estudante, nas suas dificuldades e possibilidades, e desenvolver estratégias pedagógicas para incluir esse aluno, ela vai dar conta de qualquer estudante, com ou sem deficiência, até mesmo o que tem melhor desempenho do que os outros e acaba ficando desmobilizado numa escola em que o ensino é mais pasteurizado. O grande desafio é conseguir construir essa ideia de que a inclusão é melhor para todo mundo.


    Tem enfrentado muita resistência?

  Tivemos um grande embate após a aprovação da Lei Brasileira da Inclusão (LBI): o Sindicato das Escolas Particulares entrou no Supremo Federal Tribunal com pedido de declaração de inconstitucionalidade dos artigos da LBI que determinavam a responsabilidade das escolas particulares em relação ao aprendizado dos alunos com deficiência sem que fosse cobrado a mais por isso.
As escolas argumentavam que isso não era responsabilidade delas, que o aluno com deficiência é um problema do estado. Então, se a escola aprova um aluno que já está no primeiro lugar, a escola é boa. Se o estudante não aprende, o problema é ele. O STF foi muito claro em dizer que não havia inconstitucionalidade, que a LBI é válida, sepultou qualquer dúvida em relação à legislação.

    Como isso repercute na prática?


 Há um discurso muito cruel que as escolas começaram a construir, de que agora vai ficar mais cara a educação porque vão ter que dar conta dos problemas da educação inclusiva e que isso vai ter que ser financiado pela escola inteira.

  A gente não pode colocar a necessidade de se revisar os processos pedagógicos como se fosse um custo do aluno com deficiência. Estamos num modelo que não atende à demanda dos nossos estudantes. Não são só as crianças com deficiência que não estão aprendendo. A educação inclusiva vem para mostrar com mais clareza que essa escola que a gente tem não funciona.

    E na escola pública?

  Existe uma negativa velada da matrícula. Quando a diretora fala: "É claro, vamos matricular seu filho, ele só não vai aprender. Aqui a gente não está preparado. Mas a gente vai receber". Isso é uma violência institucional absurda, mas ainda é um comportamento muito comum. Não negam, mas desencorajam a matrícula. Mas, em escala, sem dúvida nenhuma, a gente tem mais inclusão de qualidade na rede pública do que na rede privada.

  Pode sugerir alguma prática de inclusão defendida pelo Movimento Down?

   Uma delas é a bidocência. Com dois professores em sala, você não coloca essa necessidade de um professor mediador para cada aluno com deficiência, mas também não deixa o professor regente sozinho.

   Esse esquema, em especial quando há aluno especial, tem possibilitado um trabalho de diversificação das atividades pelos educadores, e não coloca essa marca de que aquele professor a mais é daquele aluno. Ele é de todo mundo, inclusive do aluno com deficiência.

                   Retirado do link:
                   

                 

Em busca da felicidade


         Poema escrito por Gabriel de Lucca

                         Em busca da felicidade


  
       A felicidade é que nem um grão de mostarda é difícil de encontrar.

  
      Aliás, o que é está tal felicidade.
Não sei, ninguém sabe de fato.
Já que ela é muito relativa.
Existem várias felicidades.


   Tem gente que fique alegre com um bem material 
Tem gente que fique alegre de estar com pessoas amadas .


    Outros ficam felizes de estar sozinho 
É ainda existem aqueles que acham que só vivemos pequenas felicidades, que são os momentos gostosos.
Com toda certeza todo o que já foi dito e não dito se chama felicidade.

   Mas também vivemos na busca da felicidade.
Mas ninguém sabe o que está buscando, porque a felicidade não é a gente que busca ela, e ela que encontra a gente.

   A felicidade completa, é uma doce ilusão.
A felicidade é apenas curtir o amanhã e curtir aqueles momentos especiais.

   Entendendo isto você perceberá que a busca é em vão, que a felicidade pode estar bem mais perto do que você pensa.


O olhar do outro



       O seu olhar me olha… O seu olhar melhora o meu…” – Arnaldo Antunes

    Muito antes de sermos capazes de coordenar nossos movimentos no espaço ou organizar o pensamento em linguagem, podemos ver um outro que nos olha e que, como um espelho, nos confirma que somos um, um inteiro no mundo.
  Nessa identificação com a imagem alheia nos constituímos e, ao longo da vida, passamos a buscar nesse outro a validação do que somos e o que queremos ser. É o olhar do outro que nos faz sujeito afirmando nossa existência simbólica, mas que se hora nos liberta, também pode nos aprisionar em uma ideia deturpada de nós mesmos.
  Da filosofia de Sartre à psicanálise de Freud e Lacan, a questão do olhar ocupa lugar primordial na discussão da constituição do sujeito, e ainda que tais teorias caminhem em direções distintas, convergem na ideia de que a dialética do olhar, essa relação do nosso olhar com o do outro é fundamental, e é o que nos constitui enquanto ser.
 É nesse jogo de espelhos, nas identificações que colecionamos, que construímos aquilo que chamamos de “eu”.
 Em uma realidade ultra-conectada, onde a dinâmica das relações adquiriram outra dimensão através da tecnologia, na realidade das redes sociais, das selfies e curtidas, onde vivemos uma cultura do ver e ser visto, talvez, mais do que nunca, a função do olhar se faça presente, determinando a maneira como nos enxergamos e como nos afirmamos no mundo.
O problema é que nesse contexto tal função encontra-se cada vez mais subvertida, deixando de agir como potência criadora em nossas vidas e nos aprisionando em um desejo emulado que insiste em apontar aquilo que nos falta. Com frequência, nos oferecemos ao olhar do outro indiscriminadamente só para termos como resposta o quanto não somos bons o suficiente, bonitos o suficiente, bem sucedidos o suficiente, etc.
Na busca por aprovação, nos expomos a encontros infelizes que esvaziam toda possibilidade de vivermos algo que reafirme nosso valor e, assim, nos alienamos no olhar desse outro que nada tem a nos oferecer além da negativa de amor.
O senso comum concorda que para ser amado é necessário amar a si mesmo antes de tudo. Porém, esse discurso ignora o fato de que na origem do amor a si existe um olhar primeiro de valia que em um determinado momento (mítico que seja) nos fez sentir um ser especial.
A construção da auto-estima não se dá de outra maneira que não pela repetição desse olhar no decorrer de nossas vidas, e assim como nossa identidade só pode ser construída nessa relação com o outro.
Sendo assim, cabe a nós buscarmos dentre esses tantos olhares aos quais nos oferecemos todos os dias aqueles que possam nos trazer algo genuinamente positivo. Cabe a nós buscarmos aí os bons encontros, que a partir de forças agregadoras fomentem na gente tudo aquilo que diz respeito à vida, a união e a ligação.
Olhares que, como diz a música de Arnaldo Antunes, melhoram o nosso olhar… Nosso olhar sobre nós mesmos. São esses que entrarão em nossas vidas promovendo as identificações que como novas peças do mosaico que nos constitui ajudarão a nos tornarmos melhores versões de nós mesmos, das quais poderemos, enfim, nos orgulhar.
               Retirado do link:
                  

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

'Meus fãs me defendem': A primeira youtuber brasileira com síndrome de Down



     Sombra, rímel, batom vermelho, roupas novas e uma peruca. Uma hora depois e Cacai Bauer, de 22 anos, está pronta para gravar um vídeo e dar mais um passo para realizar seu sonho de ser famosa


Em seus vídeos, Cacai fala de Pokémon, relata um pouco do seu dia a dia, faz piada de si mesma e canta paródias de funk ostentação.
Mas nem tudo é tão divertido quando as câmeras desligam e Cacai, a primeira youtuber com síndrome de Down do Brasil, começa a ler os comentários publicados em sua página na rede social. É ali, onde os internautas se expressam sem filtros, que ela conheceu e aprendeu a lidar com os haters - como são conhecidas as pessoas que disseminam ódio na internet.

Em entrevista à BBC Brasil, Cacai relatou que já foi alvo de preconceito diversas vezes em sua página no YouTube. "Eu não apago nenhuma. Eu ignoro. Meus fãs me defendem dos ataques e eu deixo lá para que todos vejam que a melhor forma de combatê-los é ignorando", disse.
Sua mãe, Janaina Lemos, disse que manter os comentários na página é uma forma de a filha conhecer o outro lado da fama, saber que "não são só flores, há também os espinhos". A exceção é quando há mensagens muito agressivas ou palavrões.
Em um dos casos extremos, um fã tomou as dores de Cacai e entrou em contato com os pais de um usuário que fez um comentário agressivo. Os responsáveis pelo menino pediram desculpas e obrigaram o filho a se retratar no mesmo espaço que usara para desrespeitar a youtuber.
Cacai tem namorado, então ignora as cantadas que recebe.
Sete meses após estrear seu canal na rede social, ela já tem quase 6 mil seguidores que assistem aos vídeos publicados religiosamente toda segunda-feira às 18h.
Por enquanto, seus vídeos são gravados com um celular em uma produção caseira. Mas a intenção de Cacai é crescer e comprar sua primeira câmera profissional com o dinheiro que receber da monetização dos vídeos no YouTube. Por enquanto, ela ainda não ganhou nenhum centavo.
Mesmo com vídeos relativamente populares - um deles com mais de 60 mil visualizações -, Cacai ainda não recebeu nada porque as paródias, presentes em grande parte dos vídeos, não têm os direitos autorais liberados por seus artistas originais e, desta forma, não geram dinheiro.

Exemplo

Em pouco tempo, os vídeos de Cacai se tornaram uma fonte de informação e referência para outras pessoas com síndrome de Down. Muitas pessoas comentam na página de Cacai que os vídeos os incentivam a estudar, respeitar os pais e ter vontade de brincar. E ela agradece e responde a maior parte deles.
"Eu acho muito legal ter os seguidores que eu tenho. O que eu sinto é uma conexão maravilhosa quando eu faço os vídeos e vejo depois que eles gostaram", afirma a youtuber.


Familiares de pessoas com síndrome de Down relatam se inspirar nas publicações de Cacai. Em um de seus vídeos, a youtuber conta que tem deveres e obrigações como qualquer outra pessoa. Ela aparece lavando louça, arrumando a cama e limpando a casa.
Mães de pessoas com síndrome de Down entram em contato com Janaina Lemos com frequência para esclarecer dúvidas.
"Uma mãe me ligou esses dias para dizer que o filho dela tem um ano e quatro meses e ela está preocupada porque ele ainda não anda. Eu esclareci que era normal e recomendei que procurasse um médico. Mas esse retorno é maravilhoso", disse.
Cacai estudou numa escola regular até completar o ensino fundamental. Sua mãe quer matriculá-la no ensino médio, mas por enquanto não tem dinheiro para pagar um ensino particular. Ela não queria colocar Cacai em uma escola pública por receio da violência e de uma difícil adaptação com professores.
A mãe de Cacai diz que não tem do que reclamar da educação de sua filha, mas nem sempre foi assim. A youtuber chegou a participar de uma edição do reality showSupernanny , do SBT, que ajuda pais a colocarem regras e educar os filhos.

Cacai foi convidada porque costumava fugir de casa para brincar com os vizinhos. "Mas a Supernanny colocou algumas regras e está tudo bem. Eu era muito arretada mesmo", disse à reportagem.
Durante uma viagem à Argentina, a youtuber descobriu sua paixão na televisão: Violetta . A telenovela argentina despertou em Cacai o sonho de viajar para Orlando, nos Estados Unidos, e conhecer uma área destinada aos fãs da série.
Para tornar Cacai uma "estrela" da internet, o pai, a mãe e os irmãos a ajudam em vários aspectos, da produção até a edição dos vídeos.
O roteiro é feito pelo pai, Dalmo Santos, de acordo com o tema definido pela própria Cacai. A irmã Luiza, de 17 anos, faz a voz das paródias, enquanto o irmão Caio, de 14 anos, é coadjuvante nas filmagens.
A mãe Janaína cuida da iluminação, maquiagem, filmagem e edição.
Cacai ainda conta com a ajuda de amigos youtubers para divulgar seu trabalho e conseguir novos fãs.
O também youtuber baiano Pablo Toneti "foi um anjo da guarda", nas palavras de Janaina, porque deu as primeiras dicas para Cacai, fez um vídeo com ela e o postou no canal dele, alavancando o início da carreira da amiga.

"Mas isso ainda é só um começo. Eu vou ficar bem famosa, você vai ver", conclui a youtuber.
                                
                                   Retirado do link:
                                   

Mãe de garoto que sofreu bullying lança livro infantil sobre preconceito


     "Além do cabelo comprido e cacheado, meu filho fez balé e joga futebol"

Foram essas características-chave de seu filho Teodoro Rodrigues, de nove anos - o qual nunca cortou suas longas madeixas - que escritora e médica paulista Rosana Martinelli escolheu para definir o protagonista de seu livro recém-lançado O Pinguim Azul de Miguel, pela editora Quatro Cantos. 

Com linguagem simples e ilustrações supercoloridas pela artista plástica Mariana Belém, o exemplar busca ajudar as crianças a aceitarem as peculiaridades de cada um - que não necessariamente devem ser motivo de chacota ou discriminação. 

"Meu filho já sofreu bullying na escola por ter longos fios. Em locais públicos ele é sistematicamente confundido com menina por pessoas que não o conhecem", conta a autora sobre as principais motivações para colocar sua ideia no papel


O enredo divertido envolve logo de cara: Miguel, de seis anos, joga futebol num time treinado por uma técnica, a Helena. Seu pai, que não possui uma das pernas, é um corredor que coleciona medalhas - ele também é o encarregado de preparar, diariamente, o almoço da família.

Sua irmã, Vivi, é uma garota acima do peso que sonha em estudar moda e faz as unhas com um manicuro, o Bartolomeu. Ivan leciona artes na escola e também exibe uma longa cabeleira, que estimula o personagem principal diariamente, por ser uma figura masculina presente na área da educação infantil


"Desde que me conheço por gente, não concordo que devam existir 'coisas de menino' e 'coisas de menina'", conta Rosana sobre todas as quebras de padrão inseridas minuciosamente, de forma natural e sem conflitos, na história do pequeno.

 "Sempre tive uma luta pessoal contra o sexismo, porque tenho um irmão gêmeo, então sempre senti na pele os efeitos nocivos da discriminação."


O livro é indicado para aqueles que estão em fase de alfabetização, ou seja, a partir dos 5 anos.

É nesta fase que as crianças tornam-se grandes observadoras e imitadoras do que acontece à sua volta - desenvolvendo, assim, uma melhor consciência do mundo real e imaginário. Por isso a leitura da obra se faz crucial, para que nossos pequenos aprendam, desde muito cedo, que o diferente não é ruim, tampouco deve ser motivo de repúdio.

"Vamos supor que uma criança pequena tenha na família todos os componentes do gênero masculino com cabelos curtos e o mesmo acontecendo no colégio, nenhum dos coleguinhas os tenha longos.

Automaticamente, ele fará a associação que garotos devam ter sempre cabelos curtos." Exemplifica a escritora: "O exemplo pode ser aplicado em qualquer diversidade, e todos nós podemos ser atingidos. Cabe aos adultos ficarem atentos e oferecerem experiências diversas para que essa tese criada seja desfeita.


Mas muita gente deve estar se perguntando o porquê da presença do pinguim no título. A ave faz referência à pelúcia preta e branca que Teodoro dorme todos os dias abraçado à noite. Já a justificativa da escolha do tom surpreende: "

No meu primeiro ano de escola, desenhei toda orgulhosa um lindo cachorrinho azul, que foi alvo de duras críticas por parte da professora, dizendo que eu não deveria tê-lo feito pois esses animais não existem na cor azul." Relembra:

"Fiquei muito triste com o episódio e jamais esqueci o que senti no momento. Mas eu sabia que podia colori-lo como eu quisesse, afinal, eu havia me inspirado no Bidu, personagem dos gibis do Maurício de Sousa que adorava folhear."


Quando questionada sobre a importância de materiais direcionados ao público infantil, Rosana não esconde a sensação de trabalho cumprido: "O Pinguim Azul de Miguel é isso, um tijolinho retirado da parede do preconceito que deixa a gente enxergar pelo pequeno espaço aberto um mundo que explode em cores e formas diferentes de ser."

                    Retirado do link: