projeto Bullying ,tem como objetivo conscientizar ,coibir e ajudar as pessoas que sofrem ou sofreram o bullying para que passe por esta situação da melhor forma possivel e também dar dicas a pais e educadores como perceber se um filho ou um aluno está passando por esta situação .
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
Recupere sua força
Tarde de sábado. Você está
esparramado no sofá, ainda de pijama, com um balde de pipoca e assistindo ao
mesmo filme pela enésima vez, apesar do dia ensolarado e do convite para
encontrar os amigos. É que a vida lá fora parece seguir um ritmo dissonante do
seu.
Além disso, você está machucado, frustrado, se
sentindo um fracasso. Os motivos que o levaram para esse lugar podem ser
variados: o fim de um relacionamento (longo, intenso ou que deveria ser “para
sempre”); uma demissão ou aquela promoção que não aconteceu; a aposta no próprio
negócio que ruiu e onde você havia apostado todas as fichas; ou a sua decisão
errada que afetou uma porção de gente.
Levar um tremendo tombo, cair com
a cara no chão e não saber como se reerguer acontece com todo mundo, mesmo! Mas como encontrar forças
para se levantar? Pois é, esse é o problema. Não sabemos ou tentamos nos
levantar de maneira tão brusca que a próxima queda pode vir logo em seguida.
Entender como é possível seguir em frente
depois de um tombo da vida foi o mote do último livro da pesquisadora americana
Brené Brown – e que chegou há pouco mais de um mês por aqui. Em Mais
Forte do que Nunca (Sextante), Brené vai até o chão e conversa de igual para
igual. “Estou aprendendo que o processo
de lidar com a dor e superá-la tem tanto a nos oferecer quanto o de agir com
coragem. É na hora de recuperar a estabilidade emocional em meio às
dificuldades que nossa coragem é testada e nossos valores são forjados.
Dar a volta por cima depois de uma queda é a
maneira de cultivar uma vida plena, além de ser o processo que mais ensina
sobre nós mesmos”, escreve nas primeiras páginas
e já adiantando muito do que o livro traz. Ela mesma, inclusive, conta algumas
de suas quedas, o que sentiu em cada uma delas e como conseguiu sair da
situação colecionando bons aprendizados – e essa abertura para expor seus
fracassos, por si só, já é linda.
Vamos falar sobre
isso?
Brené Brown dedicou mais de dez
anos de sua carreira para pesquisar, pela Universidade de Houston (EUA), a
vulnerabilidade ou por que fugimos de emoções como medo, mágoa, decepção. Ela
se tornou mundialmente conhecida depois que falou sobre isso no
TEDxHouston conferência que tem como objetivo disseminar boas ideias, em
2010.
A palestra já foi assistida por mais de 25
milhões de pessoas e está entre os maiores sucessos do TED. Seu último livro,
Mais Forte do que Nunca, é um desdobramento dessa ampla pesquisa sobre a
vulnerabilidade. Nele, ela esmiúça nossos tombos e, já nas primeiras linhas, revela algo que faz
muito sentido: não sabemos como lidar com nossos fracassos porque não falamos
sobre isso. Por exemplo, quando lemos ou tomamos conhecimento de histórias de
superação, em geral, ficamos com a impressão de que todo mundo cai, mas sempre
se levanta num passe de mágica.
É
a história de alguém que emagreceu muitos quilos, com imagens do “antes”
(uma foto no seu pior ângulo) e “depois” (feliz e bem-vestido). Mas ninguém
sabe como foram os dias em que aquela pessoa quis colocar tudo a perder; como
se sentiu solitária em meio ao desânimo ou onde buscou energia para seguir em
frente com as mudanças na alimentação, seu esteio emocional, e no estilo de
vida.
Trazendo
isso para mais perto, sabe aquele seu amigo que era diretor de uma
multinacional e foi demitido? Pior, depois de meses de incerteza, ele conseguiu
um novo emprego, só que em um cargo e com um salário menor (mas a gente não
deveria sempre andar para a frente?). Certamente nem você – nem ninguém –
conversou com ele.
Como sobreviveu à incerteza? E o que está
sentindo agora: frustração, mágoa? Ninguém sugere algo como: “Quer conversar
sobre isso? Estou aqui para ouvi-lo...” Provavelmente, nem o amigo nem você vão
se sentir à vontade com esse diálogo. Ninguém está imune ao fracasso, a cair
com a cara no chão da vida e machucar dolorosamente a alma. Todo mundo pode
passar por isso – incluindo eu e você – muitas e muitas vezes ao longo da
jornada.
A
questão é que existe uma diferença enorme entre aprender com esse momento e
sair dele mais forte ou fingir que o tombo não doeu e passar o resto dos dias
usando curativos para estancar o sangramento (somos craques em camuflar a dor).
“Nada é perfeito, mas é possível usar nossas inevitáveis falhas para inspirar a
inovação.”
É isso o que acredita a canadense Ashley Good,
que criou uma organização chamada, veja só, Fail Forward (Fracasse para a
Frente, em tradução livre). O trabalho de Ashley é ajudar pessoas e empresas a
expor seus fracassos. Segundo ela, é através dessa aceitação – sim, nós
falhamos, erramos, nos demos mal em relação às nossas escolhas – que vamos
conseguir sair de tudo isso mais fortes.
No caso das empresas, é uma forma
de chegar à almejada inovação. Ashley percebeu, na prática, que, quando um
líder assume seus erros, em vez da temida chacota, recebe em troca uma equipe
mais próxima que percebe ali não um chefe infalível, mas uma pessoa como eu e
você.
E
isso muda tudo. Ashley ajudou a fundar um site bem interessante, o AdmittingFailure.com (admita seu fracasso), no qual é
possível compartilhar casos de insucesso e as lições tiradas de cada um deles.
Os tombos que levamos por aí são também o mote do livro da americana Sarah
Lewis O Poder do Fracasso (Sextante).
“Com certo distanciamento crítico, somos
capazes de ver que muitas de nossas conquistas mais grandiosas – desde
descobertas recentes do Prêmio Nobel, passando por clássicos da literatura, das
artes plásticas e da dança, até empreendimentos inovadores, revolucionários –
foram, na verdade, não proezas revolucionárias, mas correções graduais, ajustes
incrementais, com base na experiência adquirida depois do disparo da flecha
anterior”, escreve Sarah.
Ao
longo dos capítulos, ela conta casos reais de fracasso, que ela prefere chamar
de aprendizado ou aprimoramento (e talvez esteja certa em fazer isso). O mais
bacana é que ela lança um olhar humano em relação aos nossos tombos, dizendo,
por exemplo, que falhar pode ser o fim de algo ou o início de possibilidades
infinitas. E é essa forma de encarar as coisas com compaixão, aceitação das
fraquezas e erros – e da gente ser quem realmente é – que nos torna aptos a
superar fases assim como pessoas, e não como heróis.
Medo do quê?
A americana Brené Brown costuma
dizer que quando caímos somos tomados pelo medo: do lugar onde fomos parar
(perde-se o chão), de expor nossas falhas e imperfeições.
O psiquiatra e professor de
psicologia da PUC-SP Alexandre Saadeh explica o que acontece nesses momentos de
crise. “Saímos
da zona de conforto para um lugar onde tudo se perde. É difícil não sentir seu
impacto, porque é uma situação de perda. Lamentamos pelo que estava garantido,
que era uma certeza e foi perdido.” E completa: “É natural lamentar por aquilo
que se perdeu, mas é necessário buscar um novo lugar, ter a disponibilidade de arriscar
outras possibilidades. É nessas horas que medimos a capacidade que temos de nos
adaptar a situações novas, de fazer uma reavaliação e mudar”. Quando caímos é
como se alguém apagasse todas as luzes e tivéssemos que tatear um caminho
desconhecido na escuridão. O psicólogo
americano Timothy Butler, da Universidade de Harvard, escreveu sobre isso em
Como Sair do Impasse: Como Transformar Crises em Oportunidades (Campus).
“Temos a sensação de que a vida
está fluindo ao nosso redor, mas que somos como uma rocha em um rio, ansiando
para sermos levados e transformados pela energia do rio. Quando estamos presos
em um impasse, esquecemos que a próxima coisa que nos despertará e nos
energizará profundamente já está em movimento, se deslocando na direção de nossa
consciência.
Quando
atingimos um beco sem saída, algumas vezes deixamos de perceber que se trata de
uma crise necessária. Sem ela não podemos crescer, mudar e, mais cedo ou mais
tarde, viver plenamente em um mundo mais amplo”, explica ele. Essa sensação foi experimentada pela empresária e
designer digital Gabriela Rodrigues, há dois anos. Como qualquer estudante, ela
começou a faculdade cheia de empolgação, certa de que assim que colocasse as
mãos no diploma pelo menos uma grande empresa reconheceria seu talento e lhe
daria um bom cargo. Antes do que pensava conseguiu um estágio na área de
criação em uma das maiores editoras do país.
Mas sua alegria acabou junto com
a graduação. Gabi foi demitida porque a empresa estava passando por cortes. E
ela engrossou, de uma hora para outra, a rotina de milhares de brasileiros que
procuram emprego todos os dias. Durante um ano, usou todas as suas manhãs para
enviar currículos até perder a conta de quantos. Depois de muito esperar
por uma resposta positiva, participar de infindáveis entrevistas e ouvir sempre
o mesmo “não”, sentiu-se profundamente abalada, mesmo contando com o apoio do
marido.
“Passei a acreditar que eu não
sabia fazer nada. Me esforcei para pagar por todo aquele conhecimento e ele
agora não servia para nada.
Acreditei
que tudo havia sido em vão”, conta. Sentimentos como os descritos por Gabi são
bem normais. Quando fracassamos – ou quando algo não sai exatamente da maneira
como imaginávamos – a sensação é de que “somos” aquilo: um grande fracasso. E é
nesse momento em que tudo parece péssimo que precisamos compartilhar nossos
sentimentos com outras pessoas. Pode ser com alguém da família (cônjuge, irmão,
primo querido) ou um amigo próximo. Um terapeuta também pode ajudar nessa fase.
Recorrer à espiritualidade é outra alternativa de grande valia. E isso não se
restringe a uma crença religiosa.
A espiritualidade de que estamos falando é
aquela que alimenta a alma. Tem gente que encontra esse refúgio para o espírito
em uma atividade esportiva, como a corrida, o ciclismo, uma arte marcial, ou em
outras variações, como a jardinagem, a pesca, a pintura, a culinária.
Cada
um sabe o que traz calma para a mente e aconchego para o coração. A americana Julie Powell, protagonista de Julie
& Julia (Record), que depois ganhou versão para o cinema, encontrou na
cozinha seu refúgio para entender o que havia dado de errado em sua vida. Num
momento de profunda insatisfação com a carreira – ela se sentia um completo
fracasso, principalmente em comparação às amigas –, decidiu refazer, receita
por receita, o livro da incrível culinarista Julia Child, que teve papel
importante na gastronomia americana.
A comida, nesse caso, a salvou. Mas não pense
que foi algo fácil no estilo “do fracasso ao sucesso”. No meio do percurso, ela
teve várias outras quedas, com direito a lágrimas e crises: o casamento ficou
por um fio, teve algumas decepções consigo mesma e com os outros, e precisou
enfrentar seu medo de começar o projeto de cozinhar e escrever um blog, onde
postava suas experiências ao preparar as receitas,
Trajetória não muito diferente
foi a da também americana Cheryl Strayed, registrada no best seller Livre
(Objetiva). Aos 22 anos, a mãe, a pessoa mais importante de sua vida, morreu
após um câncer devastador. Cheryl se viu sem chão. Mas ao invés de procurar
apoio, se fechou e optou por não expor a dor. Acabou se afastando da família e
do marido, de quem se separou depois. Aos 26, estava sozinha e em um poço
bastante fundo. Foi quando decidiu, como última cartada, percorrer a Pacific
Crest Trail (PCT), uma trilha de 1.770 km, sozinha.
Ela acreditava que na solidão
iria conseguir encontrar as repostas que buscava. Sim, ela ficou só em muitos
trechos, enfrentou momentos de dor física e emocional.
Também pagou o preço por suas
decisões equivocadas, da mochila pesada ao tênis apertado, mas foi com as
pessoas que conheceu pela trilha que aprendeu mais sobre a PCT e sobre si
mesma.
Ou seja, para se reerguer é
preciso silenciar para ouvir onde dói ou perceber em qual direção o caminho
aponta. Para Cheryl foi a diferença entre passar a vida olhando para o chão, se
sentindo a pior pessoa do mundo, ou para a frente e perceber que o universo é
bem mais amplo, cheio de estrelas e de possibilidades de estradas para trilhar.
Silenciar para ouvir
A psicóloga e escritora americana Barry
Stevens é autora de um livro conhecido mundo afora, Não Apresse o Rio – Ele
Corre Sozinho (Summus). Nele, ela se utiliza da citação zen que dá título a
obra para falar sobre algo que precisamos aprender e que cabe muito bem aqui:
“Deixar-se ir
junto com a vida, sem tentar fazê-la ir para algum lugar, sem tentar fazer com
que algo aconteça, mas simplesmente ir, como o rio. E, sabe, o rio, quando
chega nas pedras, simplesmente se desvia, dá a volta. Quando chega a um lugar
plano, ele se espalha e fica tranquilo. Simplesmente vai se movendo junto com a
situação em torno, qualquer que seja ela”.
Uma das
inspirações de Barry foi observar como os índios americanos extraíam das
dificuldades recursos internos para se desenvolver como pessoas e para
aprimorar o trabalho. É preciso calma e também confiança nos movimentos da
vida.
As crises nos
levam diretamente ao desespero. Por sua vez, o desespero dá um nó nos
pensamentos e tira a nossa capacidade de refletir em relação às atitudes,
sentimentos e escolhas.
“As pessoas são
criadas com a ideia de que tudo vai continuar garantido, que a segurança nunca
vai faltar. Isso é ruim, porque sempre vai acontecer alguma coisa para nos
desestabilizar. Quando levantamos da cama e saímos, já estamos expostos a
riscos. Ou nos arriscamos ou nos contentamos com a vida do jeito que está. Ou
acreditamos na nossa capacidade de escolher ou seremos sempre aquela figura
frágil, que a vida escolhe o que quer”, afirma Alexandre Saadeh. Lembram da Gabriela Rodrigues, a designer cuja
história foi compartilhada na página anterior? Ela se sentiu fracassada por
algum tempo e também envergonhada. Mas soube buscar ajuda – o marido foi
incrível nisso e os amigos também –, expor suas fraquezas e traçar, aos poucos,
uma nova rota. Voltou ao passado e ao passatempo antigo de fazer trabalhos
manuais para presentear pessoas queridas e enxergou ali uma oportunidade.
Procurou a ajuda do Sebrae, fez cursos diversos e
optou por algo bem familiar em tempos de instabilidade econômica: montou um
negócio próprio, uma loja virtual onde vende objetos decorativos produzidos com
materiais reutilizados, como garrafas, CDs e discos de vinil.
Em poucos meses de atividade, já participou de
feiras de rua, foi convidada para oficinas e exposições e recebe encomendas
pelo site e redes sociais. “Me senti capaz de novo, embora a parte financeira
ainda não esteja equilibrada. Mas estou pessoalmente realizada. Às vezes fico
frustrada quando não vendo como gostaria, mas transformo o desapontamento em
aprendizado”, diz.
Não existem garantias
de que o negócio de Gabi vai dar certo. Se, por acaso, as coisas desandarem,
ela com certeza já saberá lidar com a situação com mais sabedoria. Ela, afinal,
aprendeu algo que boa parte de nós derrapa para compreender: perdemos tempo
demais evitando nossas histórias difíceis, dores e fracassos. E não percebemos
que são exatamente os ensinamentos dos caminhos mais complicados que nos trazem
força para chegar aonde desejamos, de verdade.
·
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário