Eduardo
Gontijo, cavaquinista de 24 anos ignorado em 17 escolas por causa de sua
síndrome de Down, tem instrumento autografado por Chico Buarque e acalenta o
sonho de tocar para Roberto Carlos
Ser igual aos outros músicos é
o sonho maior de Eduardo Gontijo, de 24 anos. Não vai ser fácil para Dudu do
Cavaco, porém, permanecer no mesmo patamar dos colegas. Sua carreira solo
promete ser ainda mais especial.
Na verdade, o jovem está prestes a se tornar o primeiro músico
com síndrome de Down no Brasil (e talvez no mundo) a lançar um CD.
Na no estúdio Na Trilha, na
Serra, ele estreia um pocket show como líder do grupo Dudu do Cavaco e Banda.
Haverá também exibição de um trecho do documentário 'No compasso do amor', a
respeito de sua trajetória, com assinatura do estúdio Na Trilha Produções.
No curta, Dudu do Cavaco é
visto à frente da bateria no Sambódromo, ajudando a abrir o desfile das escolas
de samba campeãs do Rio de Janeiro.
Em outra cena, o estreante toca chorinho no
palco da Rio Scenarium, numa apresentação que deixa o público emocionado. Em mais de 20 shows fora de Minas, em nove
estados, ele já se apresentou ao lado de Jota Quest, Monobloco e Thiago
Delegado. Em Belo Horizonte, Dudu costuma tocar no Trem dos Onze, com outros 10
músicos.
Nenhum desses encontros seria
mais marcante do que tocar cavaquinho para Chico Buarque, num intervalo
de jogo do Polytheama, o time do cantor, em fevereiro
último, no Rio de Janeiro.
“Foi um encontro informal entre
músicos. Dudu ficou muito emocionado, e Chico Buarque o tratou de igual para
igual. O respeito mútuo que existiu entre os dois foi singular”, observa a
produtora Lilian Machado, do estúdio que prepara o documentário a respeito do
cavaquinista.
“Ele é o mais disciplinado entre os músicos do Na Trilha Produções. Já
chega para gravar com repertório definido, músicas ensaiadas e o tom certo”,
elogia o produtor musical Marcio Brant, que ainda busca patrocínio para
completar o orçamento do filme.
Chico e Dudu já se
encontraram no passado. Um dos maiores compositores brasileiros, Chico Buarque já havia sido procurado para
autografar o cavaquinho do Dudu, confeccionado sob medida para seus dedos pelo
luthier Mario Machado.
Mais tarde, a assinatura de
Chico no instrumento ganharia a companhia das de Hamilton de Holanda, Jorge
Aragão e Alcione.
“Tenho duas músicas do Chico no
meu repertório, 'Cotidiano' e 'Pelas tabelas', mas essas são bem facinhas”,
afirma Dudu do Cavaco, que não tira onda da proximidade com o letrista de olhos
ardósia. Com a pureza característica dos portadores de Down, explica que há composições
mais complicadas de Chico. “Não sei tocar outras músicas. Estou treinando”,
entrega.
O cavaquinho é o instrumento que Eduardo mais gosta de tocar,
mas não é o único. Ele também toca pandeiro, banjo e repique e se refere ao
instrumento preferido como o “meu neném”. “O cavaquinho é responsável pela
autonomia cada vez maior conquistada pelo Eduardo.
Ele hoje já é famoso, mas só
recentemente aprendeu a atravessar a rua sozinho e a tomar um táxi para voltar
dos shows”, diz Leonardo Gontijo, de 36 anos, empresário, irmão e maior
incentivador da carreira, autor do livro 'Mano Down, relatos de um irmão
apaixonado'. Com base no tema superação, ele e o irmão já encabeçaram mais de
70 palestras motivacionais no país.
Formado em engenharia civil e
em direito, o professor universitário Gontijo passou a ser chamado de “irmão do
Dudu do Cavaco”.
A situação era impensável no nascimento de Eduardo, quando ele
foi diagnosticado com uma mutação no par de cromossomos 21. Em razão da herança
genética, estava fadado ao fracasso, tendo sido rejeitado em 17 escolas da
capital.
“Se os pais não tiverem um projeto de vida para o deficiente, ele vai
se acomodar, já que ninguém espera nada dele. Dudu se tornou uma referência e
está ajudando a quebrar uma série de preconceitos existentes em relação a
portadores da síndrome”, afirma o irmão, que se prepara para
lançar o terceiro livro sobre a relação com Dudu, agora voltado para a fase da
juventude e do desenvolvimento da carreira artística dele.
Que ninguém duvide das
aspirações de Dudu do Cavaco. Sua última novidade foi manifestar publicamente a
vontade de tocar para o Rei Roberto Carlos, que, assim como Chico, costuma ser
avesso a esse tipo de homenagem.
Em seus shows, uma das canções
de maior repercussão na plateia é a consagrada 'Como é grande o meu amor por
você'. “Gosto de fazer a galera chorar.
Quando estou tocando, pego
minha emoção e jogo no cavaquinho”, conta ele, apontando para o instrumento
deitado no colo. “Através dele, jogo minha emoção para todo o mundo”, diz. Nos
shows, ele faz isso, literalmente, unindo os dedos em forma de coração.
Em seguida, improvisa uma
flecha e lança os gestos em direção às garotas mais belas da plateia. Dudu é
mesmo especial.
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