"Perna de saracura". "Gordinha". "Cabelo sarará". Para adultos, esses tipos de expressão podem ser apenas brincadeiras fofas, sem maldade. No ouvido e mente de uma criança ou adolescente, no entanto, comentários sobre sua aparência podem ganhar repercussões duradouras
Nossa autoimagem é formada na infância e o modo que nossos familiares
nos tratam ajudam a criar isso, seja de forma positiva ou negativa",
explica a psicóloga Laís Oliveira, especializada em autoestima de pessoas
gordas.
"Os pais são, para esses indivíduos em formação, como um espelho.
Se a criança não se sente amada pelos pais, ela não deixa de gostar dos
progenitores, mas de si mesmo."
Por isso, a brincadeira inocente que os adultos fazem com uma criança pode se tornar, a longo prazo, um trauma que afetará a autoestima a vida toda. "A melhor maneira de evitar isso é se policiando sobre a forma que você vai falar com uma criança. Se os pais querem que o filho se arrume, é bom incentivá-lo de maneira positiva, não criticar o estado atual", aconselha Laís Oliveira.
Para Universa, mulheres contam como certos comentários sobre sua
aparência impactam, até hoje, sua autoestima. Veja:
"Ganhei uma cinta para segurar a barriga aos 7 anos de idade" "Foi uma tia que me deu. Comecei a chorar imediatamente por causa da cinta. Minha mãe a chamou na hora e questionou o porquê daquele presente. Ainda disse que, se pudesse, encheria minha tia de porrada.
Depois disso, escondida
da minha mãe, ela vinha falar comigo para me convencer de que eu precisava
usá-la, que era bom para segurar a barriga e me "acinturar", se
fazendo de boazinha, mas reforçando que eu estava gorda. Até hoje, nos meus
aniversários, ela me dá roupas GG e EXG".
Diziam tinha cabelo
de mendigo" "Eu tinha o cabelo cacheado e penteava como se fosse
liso, então ele ficava muito armado, aí meus familiares diziam que meu cabelo
parecia 'de mendigo'. Fiquei sete anos fazendo progressiva porque demorou muito
tempo para eu me reconhecer como cacheada. Para mim, era só cabelo 'de mendigo'
mesmo."
"Cresci ouvindo que estava 'ficando forte'" "Meus familiares falavam isso porque era uma adolescente bem alta e gorda. De tanto ouvir que era muito alta, passei a andar curvada, lembro que até flexionava um pouco os joelhos e isso piorou quando namorei um menino mais baixo do que eu.
Até hoje tenho
problemas sérios nas costas e odeio minha postura, mas aprendi a lidar com
isso. Hoje em dia, mesmo que não seja o meu sapato favorito, eu uso salto alto
numa boa. Porém, às vezes me pego pensando que se fosse mais baixa as coisas
seriam mais fáceis, não sei exatamente o porquê."
"Que eu não podia usar shorts por ter a perna grossa demais" "Meus pais diziam isso quando eu queria usar um short, saia ou vestido. Uma vez comprei alguns shorts toda feliz para o verão. Experimentei para eles verem e falaram tanto que estava feio por conta da perna grossa que eu até troquei um deles.
Hoje em dia eles não falariam algo do tipo
porque evoluíram muito nesse sentido, mas ficou essa marquinha. Até hoje, na
maior parte das vezes que vou usar um short, saia ou vestido, uso com
meia-calça. Mas aos pouquinhos vamos nos acertando".
"Falavam que eu parecia o Piu Piu" "Cresci em um ambiente muito amoroso, mas toda a minha família falava que eu tinha um testão, que parecia o Piu Piu. Às vezes era de forma carinhosa, fizeram até uma festa de aniversário esse tema, mas ainda assim mexeu com a minha autoestima.
Quando era mais nova, nunca deixava de ter
franja, porque ela ajudava a esconder a testa grande. Às vezes suava e ficava
com a franja horrível, grudada na cara, mas eu não mostrava a testa de jeito
nenhum. Só agora mesmo que venho superando essa neura."
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