Cientistas
descobriram onde se localiza a bondade no cérebro humano e como funciona. O
neurocirurgião João Lobo Antunes concorda, mas atira: "Sim a bondade é
contagiosa, o problema é haver tanta gente vacinada contra ela!"
Bondade já tem um “sítio” foi localizada no cérebro, assim como o
sentimento que lhe é associado quando essa área registra atividade: “elevação
moral”. Além disso, percebeu-se que esta é “contagiosa”, ou seja, ao
assistirmos a atos de bondade, somos impelidos a fazer o mesmo e ajudar.
Publicado na revista “Biological Psychiatry”, um estudo levado a cabo pela
psicóloga Sarina Saturn, da universidade de State Oregon (EUA), mediu a
atividade cerebral e o ritmo cardíaco de estudantes universitários enquanto
assistiam a vídeos com imagens de atos heróicos ou humorísticos.
Quando viam as
imagens heróicas, os sistemas nervosos simpático e parassimpático dos
estudantes atingia um pico, o que constitui “um padrão muito invulgar” segundo
a psicóloga. “Os dois sistemas são recrutados para uma só emoção” – e isso é
incomum, porque combinam uma reação de luta, e outra, posterior de calma.
Isto pode explicar-se assim: assistir a um ato de compaixão implica
testemunhar o sofrimento de outra pessoa – o que desencadeia uma resposta de
stresse, e ativa o sistema nervoso simpático.
Depois, ao vermos
esse sofrimento aliviado acalmamos, e o sistema parassimpático é ativado. Na
zona média do córtex pré-frontal (a área relacionada com a empatia), também
foi registrada atividade. E é nessa área precisamente que o
neurocirurgião João Lobo Antunes julga poder residir o cerne da questão.
“É possível que a
capacidade de responder positivamente aos bons exemplos, como a generosidade ou
altruísmo, conduzindo ao que alguns chamam 'elevação moral', dependa também da
porção mais 'social' do cérebro humano, particularmente o córtex pré-frontal
(como tem sido proposto por vários neurocientistas, entre os quais António
Damásio)”, defende.
O professor recorda que, em termos muito simples, “as experiências
emocionais são apreciadas por áreas anteriores do lobo frontal, particularmente
no córtex pré-frontal (o sítio que Egas Moniz elegeu como alvo no tratamento de
certas doenças mentais); mas também na amígdala, que permite reconhecer os
vários tipos de expressão facial, amigável ou não”, e acaba por ser muito
importante no relacionamento social entre pessoas.
“Muito mais complexa é a questão do juízo moral, que é estudado através
dos modelos experimentais, como o célebre ‘caso das linhas de comboio e do
homem gordo’”. Lobo Antunes explica “estes dois dilemas”.
No primeiro, um comboio percorre um trajeto que depois se bifurca – num
sentido irá atropelar uma pessoa, no outro três pessoas. Nós temos a capacidade
de mudar o trajeto por meio de uma alavanca (“agulha”). Conseguiríamos causar a
morte de uma, para salvar três?
No segundo dilema, a vida de três pessoas seria salva se empurrássemos
para a linha um homem gordo que se encontra na ponte sob a qual passa o
comboio. Seríamos capazes de fazê-lo? “De fato, a maior parte de nós não teria
hesitação em manejar a “agulha”, mas já não seria capaz de empurrar o homem
gordo, e as áreas cerebrais envolvidas nesta decisão não são idênticas”.
“Curiosamente, as áreas envolvidas em juízos morais são também áreas
integradoras das emoções”, continua Lobo Antunes. “Esta teoria tem sido
particularmente defendida por Haidt, que considera que o juízo moral é
primariamente intuitivo ou emocional. Ele distingue dois sistemas, um antigo,
rápido, automático, que instintivamente nos faz julgar se um ato é “bom” ou
“mau” - e neste caso, inspira-nos “repugnância”.
A este sistema antigo, com mais de 5 a 7 milhões de anos, junta-se outro
mais recente (100.000 anos), mais lento e que implica um juízo mais
deliberado”. O médico conclui que “sim, a bondade é contagiosa – o problema é
haver tanta gente vacinada contra ela…”
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