O bullying é um problema social mundial que acontece, na maioria das vezes, com crianças e dentro do ambiente escolar. O que quase ninguém sabe é que as relações familiares podem influenciar diretamente no envolvimento de estudantes com o bullying
Uma pesquisa da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto (EERP) da USP apontou as relações ruins dentro de casa como um
dos fatores que afetam o comportamento das crianças e adolescentes dentro da
sala de aula.
Segundo o psicólogo Wanderlei Abadio de Oliveira,
pesquisador responsável pelo estudo, tanto as crianças que sofrem bullying quanto as que praticam têm histórico de más
relações familiares.
“Essas relações são
marcadas pela falta de diálogo saudável e de envolvimento emocional. Também
está presente nessas famílias a má relação conjugal entre os pais/cuidadores e,
ainda, as punições físicas exercidas pelos pais/cuidadores.”
O exemplo vem de casa
A pesquisa
foi feita com 2.354 estudantes com idade entre 10 e 19 anos de escolas públicas
de Uberaba, Minas Gerais. Oliveira aplicou questionários para identificar a
qualidade da interação familiar e a ligação com situações de bullying na
escola.
Os resultados mostraram
que os estudantes sem envolvimento com o bullying tinham melhores interações familiares, demonstradas
pelo cuidado, afeto e boa comunicação com os pais que, por sua vez, mantinham
boa relação conjugal. Além disso, os pais desses estudantes estabeleciam regras
dentro de casa, como também supervisionavam seus filhos, sabendo onde eles
estavam nos tempos livres.
De acordo com o pesquisador, as famílias dos estudantes
envolvidos com bullying são consideradas menos funcionais. Isso quer dizer
que elas não colaboram com o crescimento dos sentimentos positivos, não
realizam boa comunicação entre os moradores da casa, assim como não auxiliam
nas tomadas de decisões de forma saudável, ou seja, tendo como base a troca de
ideias de forma conjunta ao invés da imposição. “No caso das vítimas, essas
crianças não pedem ajuda ou suporte para enfrentamento da questão”, completa.
Oliveira
ainda destaca o quanto bons momentos em família são importantes: “Para que haja
funcionalidade nas famílias é preciso valorizar o tempo que pais e cuidadores
passam juntos com os filhos, não em termos de quantidade, mas de qualidade
afetiva”.
Nesse sentido, a pesquisa mostra que o comportamento das
famílias, como o incentivo aos estudos e a já mencionada boa comunicação, podem
ajudar a acabar com o bullying, assim como
ensinar os filhos a terem pensamentos de tolerância e respeito às diferenças.
Estratégia Saúde da Família
Como forma
de resolução do bullying, o
pesquisador destaca a importância da Estratégia Saúde da Família (ESF). A
equipe da ESF exerce atividades junto às famílias e às crianças na casa e na
escola. Nas casas, a tarefa da equipe é estimular os laços familiares e a
imposição de regras.
Já nas escolas as
equipes conversam com os estudantes e buscam identificar relatos de má relação
familiar. “Esses aspectos são considerados protetivos em relação ao bullying e
podem ser trabalhados em grupos nas unidades de saúde ou por meio de visitas
domiciliares.”
As equipes
de saúde podem, inclusive, orientar pais sobre como identificar comportamentos
ligados ao bullying, tanto para
a criança agressora, quanto para a vítima. O pesquisador sugere, ainda, que os
pais passem a observar o comportamento dos seus filhos dentro de casa, uma vez
que esses comportamentos podem indicar envolvimento com o bullying na
escola, tanto como agressor, quanto como vítima.
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