segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Se, um poema de sabedoria e dor


   Poema traz conselhos para o filho do poeta e para nos 


  Em 1909, o poeta indo-britânico Rudyard Kipling (1865-1936) tinha no currículo o Prêmio Nobel de literatura, conquistado dois anos antes, mas nem por isso considerava a sua obra concluída.  Foi para o seu filho caçula, John, então com apenas 12 anos, que Kipling escreveu naquele ano um poema que entraria para a galeria de seus textos mais célebres.

  Se, uma reunião de conselhos enfileirados com ternura e sabedoria para o menino, também ele destinado a morrer de forma trágica e prematura. John seria abatido aos 18 anos no front da Primeira Guerra Mundial, sem talvez chegar a ser o homem com que o pai sonhou ao assinar o poema.

       Se’, em tradução de Guilherme de Almeida

       Se és capaz de manter a tua calma quando

      Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

     De crer em ti quando estão todos duvidando,

     E para esses no entanto achar uma desculpa;

   Se és capaz de esperar sem te desesperares,

   Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,

  Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,

  E não parecer bom demais, nem pretensioso;

 Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires,

 De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores.

 Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires

 Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

  Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas

  Em armadilhas as verdades que disseste,

  E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,

 E refazê-las com o bem pouco que te reste;

 Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

 E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,

 Resignado, tornar ao ponto de partida;

 De forçar coração, nervos, músculos, tudo

  A dar seja o que for que neles ainda existe,

 E a persistir assim quando, exaustos, contudo,

 Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”

 Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes

 E, entre reis, não perder a naturalidade,

 E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

 Se a todos podes ser de alguma utilidade,

 E se és capaz de dar, segundo por segundo,

 Ao minuto fatal todo o valor e brilho,

 Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

 E o que mais – tu serás um homem, ó meu filho!

              Rudyard Kipling
                  
               Retirado do link:

Nenhum comentário:

Postar um comentário