segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Independentes das circunstâncias têm que acreditar que podemos tornar sonhos realidades


   Sonhar é o primeiro passo para realizar e isto que diz o depoimento  da jovem Lidia Yuknavitch

   Eu sei que o TED tem a ver com coisas grandiosas, mas quero falar sobre algo bem pequeno, tão pequeno que é uma única palavra: a palavra "deslocado".
É uma das minhas palavras favoritas porque é bem literal, alguém que não consegue se encaixar, que não se encaixa bem, ou: "uma pessoa que não se adapta muito bem a situações e ambientes novos". 
Sou uma deslocada de carteirinha. E estou aqui por causa dos demais deslocados presentes, porque nunca sou a única. Vou contar uma história sobre isso.
Quando eu tinha uns 30 e poucos anos, o sonho de me tornar escritora bateu à minha porta. Na verdade, veio pelo correio: uma carta que dizia que eu tinha ganhado um grande prêmio literário por causa de uma historia que eu tinha escrito. A história era sobre a minha vida como competidora de natação, sobre minha vida sem graça em casa e um pouco sobre como a tristeza e a perda podem levar à loucura. 
O prêmio era uma viagem a Nova Iorque para conhecer grandes editores, agentes e outros escritores. É meio que o sonho de qualquer aspirante a escritor, não? Sabem o que fiz no dia em que recebi a carta? Por eu ser assim, coloquei a carta na mesa da cozinha,tomei uma baita dose de vodka, com gelo e limão, e fiquei sentada lá o dia inteiro, só de roupa íntima, olhando para a carta. 
Fiquei pensando em todas às vezes em que estraguei tudo em minha vida. Quem era eu pra ir a Nova Iorque e fingir ser escritora?Quem era eu? Vou contar a vocês.
Eu era uma deslocada. Como milhares de outras crianças, venho de uma família abusiva, da qual quase não escapei com vida. Eu já vinha de dois casamentos que deram epicamente mal. Tinha abandonado a faculdade não uma, mas duas vezes, e quem sabe até uma terceira vez, sobre a qual não vou falar.
Também tinha passado por uma reabilitação por uso de drogas e tinha duas "adoráveis" passagens pela cadeia. Então, estou no palco certo.
Mas acho que a verdadeira razão de eu ser deslocada é que minha filha morreu no dia em que nasceu e eu ainda não tinha arranjado um jeito de lidar com aquilo.Depois que ela morreu, também passei um bom tempo na rua, vivendo debaixo de um viaduto, numa espécie de "estado-zumbi" profundo, de tristeza e de perda, pelo qual alguns de nós às vezes passam na vida.Talvez todos nós, se vivermos o bastante.
 Moradores de rua são alguns de nossos deslocados mais heroicos, porque eles um dia foram como nós. Então, vejam só, eu era deslocada em quase todas as formas possíveis: filha, esposa, mãe e aluna. E o sonho de me tornar escritora era realmente meio como um pequeno e triste entrave na minha garganta.

  Para conferir todo o depoimento entre no site 

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