Como
adaptar a forma de análise para mensurar o aprendizado do aluno com deficiência
Olhar as especificidades de cada estudante é uma premissa básica
quando o assunto é o respeito ao direito de aprender de crianças e
adolescentes, incluindo aqueles com necessidades educacionais especiais (NEE),
que somam 620.777 em escolas regulares do Brasil, segundo o Censo Escolar 2012.
As dificuldades enfrentadas
pelos docentes ao lecionar para esse público são diversas. O acesso ao
Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a recursos de tecnologia assertiva
ajuda a superar barreiras de aprendizagem, mas isso não significa que todos
irão se desenvolver da mesma forma. Com isso, uma dúvida persiste: como avaliar
o desempenho desses alunos?
Para
medir o conhecimento deles, os mecanismos de análise e os indicadores de
aprendizado devem variar conforme as possibilidades de cada um. Ou seja, é
preciso flexibilizar o modo de avaliar. "Se a escola é para todos, temos
de pensar na perspectiva da diversidade, não na homogeneidade.
Dessa forma se realiza uma avaliação distinta conforme
a potencialidade de cada criança, rompendo com um modelo unificado", diz
Lino de Macedo, docente aposentado do Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo (USP).
Augusto Galery, pesquisador
do Instituto Rodrigo Mendes e coordenador do projeto Diversa, ressalta que não
é só o aluno com deficiência que enfrenta barreiras na hora de aprender. "Cada estudante tem seu próprio ritmo.
Além
disso, ele pode ter problemas em uma disciplina e não em outra. Por exemplo, há
quem tenha dificuldade em Matemática, outros em Arte. Por isso o melhor é
colocar ênfase no processo de aprendizagem em vez de focar no conteúdo
lecionado. Isso com relação a qualquer aluno."
Não existe fórmula. Em determinadas situações, adequações nas ferramentas avaliativas são suficientes para permitir ao estudante mostrar o que aprendeu.
"O instrumento é uma escolha feita pelo bom senso, na interação com o
aluno", diz Rossana Ramos, pedagoga e autora do livro Inclusão na Prática (128
págs., Ed. Summus, tel. 11/3872-7476, 29,90 reais). É possível, por
exemplo, usar um notebook com leitor de tela para que um estudante cego escute
textos e perguntas em uma prova de História. As respostas também podem ser
gravadas por ele.
Para
avaliar o aluno João Victor da Silva Piza, 12 anos, que tem transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a professora Adriana Foltran, do 4º
ano, dá tempo extra a ele e o ajuda a manter a atenção durante a resolução das
questões, entre outras estratégias ."As perguntas são as mesmas
apresentadas ao restante da classe", esclarece.
Há determinadas condições,
porém, que limitam o acesso da criança ao conhecimento. Nesses casos, além de
adaptar o instrumento, é preciso ainda se preocupar com os objetivos previstos
e os indicadores de aprendizagem levando em conta o potencial dela.
Os critérios avaliativos que a
professora de Educação Física Patrícia Soldateli estabeleceu para o estudante
André Plates Santos, 11 anos, foram diferentes daqueles traçados para o
restante da turma do 6º ano.
O garoto tem dificuldades motoras decorrentes da
síndrome de Torg-Winchester. "Ele participa de todas as propostas com a
sala, incluindo os jogos coletivos, mas combinamos os movimentos que ele irá
fazer, de acordo com suas particularidades", afirma a docente
"Nesse caso, a avaliação toma como referência o
próprio aluno e as condições afetivas, cognitivas e físicas dele para responder
à demanda escolar", afirma Macedo. Isso não significa facilitar a proposta ou cobrar menos.
"O professor deve
desafiar o estudante com atividades que acrescentem algum grau de dificuldade
ao que ele já sabe e verificar essa evolução, estabelecendo expectativas de
resultado condizentes com suas especificidades", diz Maria da Paz Castro,
orientadora de Práticas Inclusivas da Escola da Vila, em São Paulo.
A pergunta que o educador precisa fazer a si mesmo no momento de
avaliar um aluno com deficiência é: quão ótima essa criança pode ser com as
características que ela tem? A comparação deve ser feita com base na observação
atenta e do estudante com ele mesmo, levando em conta seus avanços - não com os
demais alunos da turma.
"André Plates Santos tem
11 anos e nasceu com síndrome de Torg-Winchester, uma doença que afeta ossos e
músculos, diminuindo os movimentos. Ele é cadeirante e mexe braços e mãos com
dificuldade. Apesar das limitações, André aprende com base nos mesmos objetivos
traçados para a sala do 6º ano, mas as metas estabelecidas para ele respeitam
suas possibilidades.
A educadora Cleusa Haetinger,
da Sala de Recursos Multifuncionais da escola, me auxilia no trabalho. Ao
ensinar vôlei, conversei com o aluno e, juntos, pensamos em como ele poderia
participar.
Na atividade em duplas para exercitar o toque, foi André que sugeriu
usar a cabeça em vez das mãos. Para sacar, utilizava os pés, por ter mais força
com eles. Também abaixei a rede e usei bolas mais leves no início, para que ele
enfrentasse desafios, mas tivesse condições de superá-los.
Para avaliá-lo, observei
sua evolução ao longo do processo. André sempre chamava a atenção de colegas
para o uso da manchete quando a bola era baixa, o que demonstra aprendizado dos
fundamentos do esporte, que tinham sido apresentados no decorrer das aulas.
Na hora do jogo, ele podia
chutar a bola, cabeceá-la ou arremessá-la com as mãos. No fim, notei que André
avançou nos gestos que fazia e até conseguiu passar a bola por cima da rede na
altura padrão."
Patrícia Soldateli, professora de Educação Física da EMEF
Taufik Germano, em Cachoeira do Sul, RS
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