Fora do circuito olímpico, surdos disputam evento próprio
No dia 7 de setembro, o Rio de
Janeiro recebe os Jogos Paralímpicos 2016 que reunirá 4.350 atletas com
deficiência de 175 países na disputa por 528 medalhas de ouro.
No meio da festa, uma categoria
de atletas está de fora: os surdos. Eles vão esperar até 2017 para disputar os
Jogos Mundiais, já que não participam das Paraolimpíadas. Chamado de
Surdolimpíadas (Deaflympics), o evento acontecerá de 18 de julho a 30 de julho
de 2017, em Samsun, na Turquia.
A
ausência dos atletas surdos se deve ao fato do Comitê Paralímpico seguir as
diretrizes do IPC (International Paralympic Committee) para classificação de
atletas. Na opinião do IPC, os surdoatletas não se enquadram na categoria
paralímpica, uma vez que podem participar de disputas convencionais. Outra
justificativa é a de que o Comitê Internacional de Desportos de Surdos (ICSD)
não é filiado ao Comitê Olímpico Internacional (COI) ou ao IPC.
Quem quiser conferir ainda este
ano os surdoatletas, entre os dias 19 a 24 de julho de 2016 será realizada uma
Surdolimpíada nacional, em Blumenau (SC).
“O evento contará com diversas
modalidades esportivas e tem como objetivo selecionar os melhores surdoatletas
para treinamentos e possível participação nos jogos Pan-Americanos e nas
Surdolimpíadas de 2017”, conta Deborah Dias, vice-presidente da Confederação
Brasileira de Desportos dos Surdos – CBDS.
Os surdos podem disputar com
atletas ouvintes ou nas suas próprias competições. Este é o caso de Daniela Guidugli, surdoatleta do vôlei de praia e de
quadra. Ela também joga em uma equipe de ouvintes e diz não sofrer
discriminação, mas afirma que nada se compara a jogar com surdos: “O sentimento
de equipe é mais forte e a comunicação mais fácil, eu espero sempre jogar com
eles”, diz.
História
Organizada pelo Comitê
Internacional de Desportos de Surdos – ICSD e com periodicidade de quatro anos,
a Surdolimpíada surgiu na França com o nome de Jogos Internacionais Silenciosos
em 1924. Desde 2000, adotou-se o nome Surdolimpíadas.
Ao todo, são disputadas 20 modalidades na competição.
Além de provas que estão nos programas olímpico e paralímpico, também há
esportes como caratê, wrestling (estilo de luta parecido com o a luta
olímpica), boliche e a corrida de orientação (esporte em que o atleta precisa
cumprir um percurso em uma área natural tendo apenas mapas e bússolas como
referência), que não estão nas Olimpíadas ou Paralimpíadas.
O Comitê Olímpico Internacional
(COI) reconhece o ICSD desde 1955, como entidade máxima desportiva
internacional para surdos.
A primeira vez que o Brasil
enviou representantes para a Surdolimpíada foi em 1993, em Sofia, na Bulgária.
Na ocasião, dois nadadores disputaram 11 provas e chegaram perto do pódio, em
quarto ligar. Desde então, a natação brasileira é a modalidade mais presente no
evento, tendo ficado de fora apenas da edição de 2005, em Melbourne (Austrália).
A primeira medalha conquistada
pelo país foi em 2009 nas Surdolimpíadas de Taipei, em Taiwan. Alexandre Soares
Fernandes fez história ao conquistar a medalha de bronze no judô, categoria até
81 kg.
Na última competição em Sofia,
na Bulgária, em 2013, houve a maior participação da Delegação Brasileira
contando com 19 surdosatletas e oito dirigentes. Com o aumento da delegação, o
país garantiu quatro medalhas: Três medalhas na natação com o atleta Guilherme
Maia (uma prata e dois bronzes) e uma medalha de bronze no karatê com Heron
Rodrigues.
Apesar
de ser pouco conhecido no Brasil, o esporte para surdos está em ascensão. Em
novembro do ano passado o país conquistou o vice-campeonato mundial de futsal
feminino para surdos. Na ocasião, a brasileira Stefany Krebs foi premiada como
a melhor atleta do mundial.
Os
principais atletas em ascensão no esporte surdo brasileiro são: Guilherme Maia,
na natação; Heron Rodrigues, no karatê; Alexandre Soares, no judô; Stefany
Krebs, no futsal; Vanderléia Gonçalves, no futsal; Vaneza Wons, no futsal;
Laelen Cássia Brizola, no futsal; Lucas Bonnalume, no voleibol; Guilherme
Westerman, no voleibol; e Toríbio Malagodi, no voleibol.
Invisibilidade
Apesar dos avanços, a
Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos - CBDS ainda busca
reconhecimento. Uma das reclamações da confederação é que os esportes surdos
ficam fora da agenda de notícias, normalmente voltada só para as Olimpíadas e
Paralimpíadas.
Segundo a vice-presidente da
CBDS, Deborah Dias de Souza, seria positivo para os esportes surdos serem
incluídos nas Paralimpíadas, desde que os surdoatletas participassem de
competições próprias para eles. Seria uma forma de “pegar carona” no evento
para conseguir maior visibilidade e apoio para esses atletas.
Por não ser filiada aos
comitês, a CBDS precisa arrecadar sozinha recursos para treinamento, preparação
das equipes e participação nos eventos. A CBDS conta com o apoio do Ministério
dos Esportes apenas para o projeto de vôlei, por meio da Lei de Incentivo ao
Esporte, além do benefício do Bolsa Atleta para 17 atletas. Para financiar a
participação no mundial de futsal dos surdos na Tailândia, as atletas
organizaram uma “vaquinha” online.
O
número de atletas brasileiros presentes nas Surdolimpíadas Internacionais no
ano que vem depende do apoio do governo federal. Caso exista patrocínio, a
estimativa é de que participem entre 100 a 150 surdoatletas. Entretanto, se não
conseguirem o financiamento, participarão da competição 60 surdoatletas, que
terão que arcar com os custos com recursos próprios.
A Confederação Brasileira de
Desportos dos Surdos explica que os surdos que desejarem ser atletas devem
procurar uma Associação de Surdos na sua cidade e tornarem-se sócios.
A pessoa surda deve participar
dos eventos nacionais por meio de seus clubes ou federações desportivas. Deverá
participar dos treinamentos da Seleção Brasileira, representada pela CBDS. Após
esse processo, a comissão técnica da seleção da modalidade escolhida convoca os
melhores surdoatletas.
Para comprovar a surdez, o
atleta deverá se submeter a uma audiometria que acuse uma perda de audição
acima de 55dB nos dois ouvidos. Para participar nos eventos internacionais, há
um formulário no padrão internacional, fornecido pelo ICSD. Uma vez aprovada, a
pessoa será considerada surda e não será necessário repetir os exames de
audiometria.
Retirado
do link
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