segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Depressão: reconhecer a própria dor é o primeiro passo


  A depressão está no topo da lista dos principais problemas de
 Saúde em todo o mundo, inclusive entre educadores brasileiros


Saiba mais  sobre esse transtorno mental e sobre a importância
de cuidar do próprio sofrimento.

                     
"Falto eu mesmo, e essa lacuna é tudo"
(Machado de Assis, Dom Casmurro)

Certa vez, uma educadora e colega de profissão me confidenciou que

 temia que algumas pessoas do trabalho soubessem que ela sofria
de depressão. O medo, segundo ela, é que achassem que ela não
 daria conta das exigências de gerir a própria sala de aula, que não
seria capaz de cumprir todas as suas demandas e, até mesmo, que
 poderia não ser promovida a coordenadora de área.

Tinha pavor que achassem que ela era frágil demais e temia ainda
mais ter que tomar remédio anti-depressivo por toda a vida. A palavra 
depressão, pronunciada por ela em voz baixa e com expressão
 envergonhada, ilustrou o grande estigma que esse tema fundamental
e saúde mental carrega.

O mal-estar, o tédio, a angústia e a tristeza são inerentes à nossa
 condição humana. De tempos em tempos, essas emoções podem nos
 visitar e nos convidar a momentos de recolhimento, de validação do
 que estamos sentindo e análise do momento presente.

 A própria vida, em certos instantes, envolve o sentimento de estarmos
 fora de lugar e distantes de nós mesmos, e esse mal-estar pode
 assumir a forma de sofrimento intenso que pode evoluir para quadros
 mais graves.

Entretanto, depressão não é uma simples tristeza
 passageira que podemos controlar ou contar com o tempo como
fator de cura. Segundo dados da
 Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgados em 2017, a
 depressão estava no topo da lista dos principais problemas de saúde
em todo o mundo, atingindo mais de 300 milhões de pessoas. Em
 consonância com os dados publicados pela OMS, a pesquisa 

A saúde do educador brasileiro, realizada em junho de 2018 pela Nova
 Escola, aponta que a depressão é o principal problema de saúde
 enfrentado por educadores de todo o país, seguido por ansiedade e
estresse.

A depressão, segundo o DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual
 of Mental Health), é um transtorno mental multifatorial
caracterizado
 por tristeza persistente, perda de interesse em atividades antes
 consideradas prazerosas, perda ou ganho excessivo de peso,
 alteração significativa de apetite, sensação de fadiga e de falta de
 energia, diminuição da habilidade de concentração, inquietação,
culpa,
 desesperança, sentimento de inutilidade, ideação suicida e
 pensamentos de autolesão.

Para o diagnóstico efetivo de depressão, o indivíduo deve apresentar
 cinco ou mais desses sintomas por, no mínimo, duas semanas.
Os sintomas de depressão afetam significativamente a qualidade de
 vida do indivíduo e podem trazer grande comprometimento social,
interferindo na vida pessoal e profissional. Além disso, a ausência de
debate sobre o tema, a falta de informação e de apoio às pessoas com
depressão, juntamente com o peso do estigma sobre o transtorno
mental, impedem muitas pessoas de buscarem tratamento médico,
psicológico e demais redes de apoio.

No ano passado, em uma palestra sobre angústia e depressão com
 um dos mais importantes psicanalistas da atualidade, compreendendo
 que a tristeza é um sentimento comum a todos nós, um dos
espectadores fez uma pergunta inquietante: “Mas afinal, como
você cuida da sua angústia, doutor?” Concluo que para além
 da importância de pensar naquilo que nos faz felizes, devemos
considerar de maneira bastante criteriosa como cuidamos da nossa
angústia, do nosso sofrimento e das nossas fraquezas, pois tais
sentimentos são sobretudo humanos e merecem ser reconhecidos.

 Não acolher o nosso sofrimento, ou seja, deixar de compartilhar o
 que estamos sentindo, não reconhecer a própria dor e não buscar
 apoio, pode ser um elemento definidor para que a depressão assuma
 papel central em nossas vidas. Frente a números alarmantes, embora
essencial, a necessidade chave de reduzir o estigma associado à
depressão e compreender que ela é tratável, é apenas o começo.
Sobretudo, é urgente que serviços de saúde mental sejam acessíveis
 a todos e que momentos de fragilidade não sejam vistos como sinal
de fraqueza, abrindo espaço para que cada vez mais possamos falar
 abertamente sobre o tema.

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