A depressão está no topo da lista dos
principais problemas de
Saúde em todo o mundo, inclusive entre
educadores brasileiros
Saiba mais sobre esse transtorno mental e sobre a
importância
de cuidar do próprio sofrimento.
"Falto eu mesmo, e essa lacuna é tudo"
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
Certa vez, uma educadora e colega de profissão me confidenciou que
temia que algumas pessoas do
trabalho soubessem que ela sofria
de depressão. O medo, segundo ela, é que achassem que ela não
daria conta das exigências de
gerir a própria sala de aula, que não
seria capaz de cumprir todas as suas demandas e, até mesmo, que
poderia não ser promovida a coordenadora
de área.
Tinha pavor que achassem que ela era frágil demais e temia ainda
mais ter que tomar remédio anti-depressivo por toda a vida. A
palavra
depressão, pronunciada por ela em voz baixa e com expressão
envergonhada, ilustrou o grande
estigma que esse tema fundamental
e saúde mental carrega.
O mal-estar, o tédio, a angústia e a tristeza são inerentes à nossa
condição humana. De tempos em
tempos, essas emoções podem nos
visitar e nos convidar a momentos
de recolhimento, de validação do
que estamos sentindo e análise do
momento presente.
A própria vida, em certos
instantes, envolve o sentimento de estarmos
fora de lugar e distantes de nós
mesmos, e esse mal-estar pode
assumir a forma de sofrimento
intenso que pode evoluir para quadros
mais graves.
Entretanto, depressão não é uma simples tristeza
passageira que podemos
controlar ou contar com o tempo como
fator de cura. Segundo dados da
Organização Mundial de Saúde
(OMS) divulgados em 2017, a
depressão estava no topo da lista
dos principais problemas de saúde
em todo o mundo, atingindo mais de 300 milhões de pessoas. Em
consonância com os dados
publicados pela OMS, a pesquisa
A saúde do educador brasileiro, realizada em junho de 2018 pela Nova
Escola, aponta que a
depressão é o principal problema de saúde
enfrentado por educadores de todo
o país, seguido por ansiedade e
estresse.
A depressão, segundo o DSM-5
(Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Health), é um transtorno mental
multifatorial
caracterizado
por tristeza persistente, perda de interesse
em atividades antes
consideradas prazerosas, perda ou ganho
excessivo de peso,
alteração significativa de apetite, sensação
de fadiga e de falta de
energia, diminuição da habilidade de
concentração, inquietação,
culpa,
desesperança, sentimento de inutilidade,
ideação suicida e
pensamentos de autolesão.
Para o diagnóstico efetivo de depressão, o indivíduo deve apresentar
cinco ou mais desses sintomas
por, no mínimo, duas semanas.
Os sintomas de depressão afetam significativamente a qualidade de
vida do indivíduo e podem trazer
grande comprometimento social,
interferindo na vida pessoal e profissional. Além disso, a ausência de
debate sobre o tema, a falta de informação e de apoio às pessoas com
depressão, juntamente com o peso do estigma sobre o transtorno
mental, impedem muitas pessoas de buscarem tratamento médico,
psicológico e demais redes de apoio.
No ano passado, em uma palestra sobre angústia e depressão com
um dos mais importantes
psicanalistas da atualidade, compreendendo
que a tristeza é um sentimento
comum a todos nós, um dos
espectadores fez uma pergunta inquietante: “Mas afinal, como
você cuida da sua angústia, doutor?” Concluo que para além
da importância de pensar naquilo
que nos faz felizes, devemos
considerar de maneira bastante criteriosa como cuidamos da nossa
angústia, do nosso sofrimento e das nossas fraquezas, pois tais
sentimentos são sobretudo humanos e merecem ser reconhecidos.
Não acolher o nosso sofrimento,
ou seja, deixar de compartilhar o
que estamos sentindo, não
reconhecer a própria dor e não buscar
apoio, pode ser um elemento
definidor para que a depressão assuma
papel central em nossas vidas.
Frente a números alarmantes, embora
essencial, a necessidade chave de reduzir o estigma associado à
depressão e compreender que ela é tratável, é apenas o começo.
Sobretudo, é urgente que serviços de saúde mental sejam acessíveis
a todos e que momentos de
fragilidade não sejam vistos como sinal
de fraqueza, abrindo espaço para que cada vez mais possamos falar
abertamente sobre o tema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário