Uma companhia Teatral que discute as questões do preconceito e do Bullying sofrido pelos GLBT e por todo mundo e tem como identidade básica a inclusão
Silvero Pereira é autor, ator, diretor e dramaturgo. O ofício do ator é transformar-se. Questionei Silvero Pereira se existe espaço para o ator transexual atualmente.
Quantas vezes por dia você é Silvério, em vez de Silvero ?
Sempre acontece, levo isso de forma divertida porque acredito ser um
problema cultural e educacional. Aprendemos na escola sobre Inconfidência
Mineira o nome Silvério e isso, creio eu, fica na cabeça das pessoas.
Quais são as
memórias de sua infância ligadas à transexualidade?
Quando pequeno três
coisas chamaram muito minha atenção. A primeira foi o fato de me apaixonar por
uma colega de sala e quando ela descobriu fui humilhado no pátio da escola na
frente de todo mundo, chorei muito, daí um amigo me ajudou, sentou ao meu lado
e conseguiu me acalmar. Então me apaixonei por ele.
Segundo, eu tinha
um colega de sala que era muito afeminado e todos o discriminavam como eu tinha
medo de me assumir, acabei rejeitando a amizade dele e isso ainda hoje me
machuca muito. O terceiro caso foi que na minha infância ouvia muito falar do
“Barbozinha”, único travesti da minha cidade (Mombaça- CE), ele era taxado como
uma aberração e isso sempre me fascinou e me fazia querer me aproximar e
conhece-lo melhor.
Você se lembra de
quando se sentiu tocado por uma manifestação artística, atribuindo à
experiência algo transformador em sua vida?
Trabalhei numa comunidade na região metropolitana de Fortaleza durante
12 anos numa ONG camada Parque do Tapuio, lá tive a oportunidade de ensinar
arte para jovens e adolescentes, foi então que percebi a enorme capacidade de
mudança que a arte tem. Ao longo de 12 anos de trabalho vi crianças se tornarem
grandes pessoas, tudo isso porque tiveram contato com a arte, coisa que demorei
muito para ter.
Como o teatro
surgiu para você?
O Teatro me salvou, digo isso sempre que posso. Eu fazia ensino médio no
Instituto Federal (na época Escola Técnica Federal do Ceará) e foi nas aulas de
teatro que descobri pessoas fundamentais para minha formação humana e
profissional.No espetáculo Br Trans , você relata sua vivência na ala gay do
pavilhão do presídio central de Porto Alegre, realizando oficinas de teatro.
Você acha que quem
vive no sistema carcerário do Brasil pode cultivar algum sonho?
Depende das oportunidades oferecidas. Minha experiência na ala de
travestis e seus companheiros no me fez perceber a importância do trabalho de
instituições como a igualdade-RS e somos –RS que lutam em defesa dos direitos
LGBTS e do respeito. Assim, tendo essas condições acredito ser totalmente
possível realizar, mais do que sonhar.
Algum travesti ou
transexual deu continuidade ao trabalho de ator após sua oficina?
Com a minha
pesquisa da “Travestilidade como Performatividade do Ator” onde trabalhávamos
na oficina jogos de improvisação, criação de personagens, a partir da
construção do corpo do trans foi possível quebrar o preconceito de achar que
transformismo não é arte, ou que travestir-se pode também ser uma máscara
cênica e não apenas uma discussão de gênero e diversidade. Assim, consegui ver
algumas meninas que passaram por minhas oficinas se engajarem no teatro, u
mesmo hoje estarem num curso superior de Artes Cênicas.
BR Trans vai virar filme. Quando se iniciam as filmagens?
BR Trans vai virar filme. Quando se iniciam as filmagens?
Começamos em novembro no Rio de Janeiro e seguimos, como primeira etapa,
para o Cariri cearense. O Filme conta com a direção de Tatiana Issa e Rafhael
Alavrez (Dzy Croquetes).
Qual é sua
expectativa em relação ao filme?
Que o BR–TRANS
enquanto filme possa atingir um número maior de espectadores e que consiga com
isso quebrar preconceitos, levar mais informação sobre este universo, sobre a
violência, a discriminação, falta de oportunidades e a crueldade como uma
sociedade cheia de regras pode ser capaz de destruir vidas pelo simples fato de
não aceitar o próximo como ele é, não reconhecer sua felicidade.
O teatro tem dificuldade de circulação, requer mais custos, creio que o
filme poderá divulgar melhor meu trabalho, minha pesquisa e assim mudar um
pouco os conceitos de marginalização da travesti.
De quem é o
roteiro?
O roteiro parte do próprio texto do espetáculo que escrevi em parceria
com a diretora Jezebel De Carli. Entretanto, a adaptação para o cinema ficou na
responsabilidade da Issa e do Alvarez.
Qual é o mercado
para o ator trans no Brasil?
O de qualquer outro
ator. Não entendo porque muitos acham que atores héteros podem fazer travestis
e que atores trans não podem fazer qualquer papel. O ofício do ator é se
transformar. Assim, não existe mercado diferenciado, pra mim, se é ator, é
trans.
Que canção define
Silvero?
Shake It Out – Florence and the MachinePrincipalmente quando diz:
“procurando o paraíso, encontrei um demônio em mim”/ “É bem mais difícil dançar
quando o demônio está nas suas costas. Então, livre-se dele”
Retirado do link :
Entrevista com ele
para o canal papo de Segunda sobre preconceitos sofridos:
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