Rafael Correa, diagnosticado com Esclerose Múltipla em 2010,
decidiu contar através de quadrinhos a sua convivência com a doença
“Em 2010 fui diagnosticado com
esclerose múltipla, uma doença autoimunitária que ataca o sistema nervoso. Aqui
contarei, em forma de quadrinhos autobiográficos, um pouco desta experiência.
” É com essa descrição crua
e direta que o cartunista Rafael Correa, 39 anos, deu à luz seu projetoMemórias de um Esclerosado ,
uma página na internet para transformar sua enfermidade em expressão artística.
“Antes de mais nada, sou um
contador de histórias, comecei a desenhar para isso. Quando vi que tinha uma
grande história nas mãos resolvi transformá-la em quadrinhos, que é a arte que
eu domino. Se eu fosse um cineasta certamente faria um filme”, conta Rafael,
sem autocomiseração.
“É uma ideia que vem
amadurecendo desde o diagnóstico, mas como é um assunto delicado e às vezes
dolorido, eu fui empurrando com a barriga”, relata. “A ideia inicial era fazer
um livro, mas é tanta coisa para falar.
Aí um amigo me deu a ideia de
fazer uma web série, ir produzindo e publicando aos poucos, e isso tirou o peso
das minhas costas. decidi que já era hora de mostras essa história para as
pessoas.”
Gaúcho de Rosário do Sul
radicado em Porto Alegre, Rafael começou a sentir os sintomas da esclerose
múltipla em 2008. Sentia-se muito cansado após atividades físicas e caminhadas.
O neurologista que ele
consultou pediu alguns exames e constatou que ele não tinha nada de anormal.
Vida que segue.
Humor e melancolia
Rafael começou a desenhar aos dez anos e a esta altura já sabia
que queria ser cartunista quando crescesse. Aos 14, publicou sua primeira
tirinha em um jornal de Rosário e, aos 17, passou a exercer o ofício
profissionalmente.
“Hoje, só consigo
desenhar por meia hora, depois disso minha mão cansa e preciso dar um tempo”,
conta Rafael. “Só caminho com auxílio da Rita, minha bengala, e mesmo com ela
não consigo ir muito longe por causa da fadiga”, relata, sem perder humor, que
é a matéria-prima de seu trabalho.
“Minha obra está marcada pelo humor. Sou uma pessoa bem humorada
e isso herdei do meu pai, que é um cartunista que não desenha”, define. “Não
vai ser diferente nesse novo projeto, embora eu alterne momentos de melancolia
e tristeza.”
Rafael mantém seu trabalho
como ilustrador e designer e desenvolve outros projetos autorais além do
Memórias de um Esclerosado, que pretende reunir em livro. “Mas como vou fazer
uma ou duas páginas por semana isso, vai demorar um pouco. Pelos meus cálculos,
daqui a dois anos”, conta. Seus trabalhos anteriores já lhe
renderam prêmios em diversos países, entre os quais Itália, Espanha, Turquia e
Armênia.
Autorretrato
Não é de hoje que Rafael usa a si próprio como personagem de
suas histórias. “Já tinha feito algumas HQ curtas me colocando como personagem,
isso não é nenhuma novidade, vários quadrinhistas fazem o mesmo”, explica. “mas
tenho certeza que com o Memórias vai ser mais intenso.”
Ele define a experiência do Memórias de um Esclerosado como “uma
jornada de autoconhecimento” e ao mesmo tempo uma aventura na mão de um
contador de histórias com vontade de narrá-las.
“É mais uma necessidade de colocar para fora sentimentos e até
entender o que está acontecendo. Se isso vai ajudar as outras pessoas, ótimo,
mas não é o que está me motivando nesse momento.”
Rafael garante que tratar de um
tema tão sério com uma linguagem que é essencialmente ligada ao humor não é um
problema.
“É a maneira como escrevo, não sei fazer de outra maneira. Não tenho
essa preocupação. A preocupação é de narrar uma história interessante para o
leitor”, resume.
Curtidas e experiências compartilhadas
O Memórias de um Esclerosado foi ao ar há uma semana. No segundo
dia já havia ultrapassado as 2.000 curtidas no Facebook .
O autor conta que estimava umas 200 a 300 curtidas. “Muita gente me procurou
compartilhando experiências, gente me parabenizando por colocar em desenhos o
que também sentem”, afirma. O desenhista se alegra ao citar um rapaz que o
procurou.
“Ele é desenhista e devido à esclerose múltipla ficou cego por
um tempo. Agora recuperou a visão e está muito feliz e desenhando como nunca”,
conta. “Fiquei feliz por ele”.
Rafael relata que a cada seis meses sente pioras provocadas pela
doença. “Tipo, isso eu conseguia fazer o ano passado, aquilo era mais fácil
etc.”
Por enquanto, os tratamentos que tentou não surtiram efeito.
“Atualmente estou tomando Colecalciferol (ou Vitamina D3). Tenho acompanhado
pacientes que usam e tiveram ótimos benefícios, mas comigo ainda não”,
diz o cartunista. “Estou em busca”, completa.
Retirado do link
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