segunda-feira, 25 de junho de 2018

Peça de Beckett é protagonizada por atriz com síndrome de Tourette



   'Não Eu' é usada para discutir inclusão e deficiência ao ser encenada para surdos



                     

       A nova encenação de Not I (Não Eu),de Samuel Beckett, vem se somar a um movimento crescente de atores e diretores inserindo a surdez ou a deficiência física em suas peças teatrais. 
O papel do Auditor é comumente omitido nas produções do espetáculo Não Eu. O dramaturgo irlandês nunca encontrou uma maneira de esse personagem silencioso, agitado, que gesticula muito, atuar junto com o monólogo da Boca incorpórea, suspensa na escuridão dois metros e meio acima do palco.

Mas tendo um intérprete da Linguagem de Sinais Britânica (BSL na sigla em inglês) no papel, a nova representação da peça no Battersea Arts Centre em Londres pode ter conseguido.
Jess Thom, dramaturga e atriz que sofre da síndrome de Tourette (vivenciando milhares de tiques vocais e motores diariamente), decidiu encenar Não Eu em parte pelo desejo de mostrar a Boca como um personagem com deficiência. Frustrada com o número limitado de teatros acessíveis a artistas e ao público com deficiência, Jess Thom decidiu encenar o texto de Beckett.


Ela, seu diretor Matthew Pountney, e o diretor do BSL, Deepa Shastri, trabalharam com Charmaine Wombwell numa tradução de Não Eupara a linguagem de sinais. “É preciso encontrar o equilíbrio certo entre expressar o significado do texto de Beckett para um público de surdos e reter um elemento fundamental do monólogo: o fato de ele ser falado tão rápido que há pouca esperança de entender tudo de qualquer maneira.

A Boca (como personagem) vive em total isolamento e silêncio, salvo algumas ocasiões em que é consumida e fragilizada por uma “torrente de palavras” em que “sua boca pega fogo”. Algo com que Jess se identifica, já que sofre com a síndrome de Tourette, mas que é importante também para muitas plateias, incluindo o público surdo. Para ela, Não Eu tem a ver com “comunicação, linguagem e exclusão”. 
A análise das nuances da tradução do BSL enriqueceu ainda mais suas ideias sobre esta peça tão complexa e raramente encenada.
A produção de Jess Thom tem a marca distintiva da chamada “estética de acesso”, ou o uso criativo do acesso para públicos com deficiência, dentro da estética do teatro, e que envolve discussões sobre o acesso e leva artistas surdos e com deficiência a tomar decisões criativas desde o início de um projeto. Em vez de se fixar apenas na interpretação da linguagem dos sinais, a audiodescrição, ou legendas explicando o fato são técnicas consideradas ferramentas tão fundamentais para a narrativa quanto a luz, o som e o guarda-roupa. 
Agora generalizada entre os artistas com deficiência e aqueles que fazem teatro para um público também com deficiência, esta maneira de trabalhar nasceu da necessidade e a pioneira foi a diretora Jenny Sealey, ao assumir o comando da Graeae, companhia de teatro administrada por deficientes,

no final dos anos 1990. Ela não podia pagar intérpretes BSL ou de audiodescrição para sua produção, então optou por gravar antes e projetar os sinais. Sua peça foi um sucesso e nas quase duas décadas depois disto ela continua a inovar. Seu musical Reasons to Be Cheerful(2010), baseado em músicas de Ian Dury & The Blockheads é um exemplo.

Apresenta legendas no estilo dos slides usados na década de 1970 que são úteis para os espectadores surdos e ao mesmo tempo incentiva o acompanhamento do público, trazendo a atmosfera de um concerto de rock para a peça. 

Fundamental para a estética de acesso é a ideia de que uma maior diversidade no palco e na plateia é benéfica não apenas para artistas surdos e deficientes, mas para a cultura em geral. Fazer teatro é contar histórias e quanto mais experiências forem narradas melhores são as histórias. O mundo do teatro tradicional está acordando para as possibilidades oferecidas por esse enfoque. Seis teatros liderados pelo New Wolsey,

em Ipswich, participam do Ramps on the Moon, programa de trabalho em que eles se alternam para produzir um espetáculo itinerante em grande escala cujo elenco e equipe de criação são formados 50% por surdos e pessoas com alguma deficiência. A produção este ano, no Nothingham Playhouse é Our Country’s Good, de Timberlake Wertenbaker, sobre um grupo de presos ensaiando uma peça em uma colônia penal na Austrália.

Alguns dos seis atores surdos do elenco apresentam suas falas em inglês e na linguagem de sinais, ao passo que outros assinam suas frases enquanto outros atores as enunciam. De qualquer maneira, a interpretação é concebida para ter sentido dentro da estrutura lógica dos relacionamentos na peça. O envolvimento dos atores surdos enriquece a produção artisticamente. 
Reforçando tudo isto está o que chamamos de “modelo social” da deficiência, resultado do movimento pelos direitos das pessoas com deficiência nas décadas de 1980 e 1990, cuja tese é de que os indivíduos são incapacitados não pelas suas deficiências, mas porque a sociedade não leva em conta a diferença.
Entender esse modelo social transformou a maneira como Jess Thom se via. “É uma ideia radical para uma pessoa com deficiência, quando repentinamente percebe que ela não é o problema”, disse ela. Em vez de se concentrar em “corrigir” ou “curar” as pessoas incapacitadas, a sociedade tem de remover as barreiras comportamentais, estruturais e ambientais que as impedem de participar dela. 
O programa Ramps on the Moon pretende exatamente isto, ampliando os caminhos para a arte para surdos e deficientes e buscando uma mudança estrutural nas organizações de cultura.

 O projeto recebeu um financiamento do Arts Council England para a segunda metade do programa, o que significa que haverá mais três espetáculos dos teatros participantes, como também mais três anos de trabalho duro fora do palco para a inclusão se tornar elemento básico dentro dessas instituições.

Se o projeto for bem sucedido, o público de teatro verá muito mais peças baseadas na “estética do acesso” e um grupo mais diversificado de artistas no palco. / Tradução de Terezinha Martino

 Retirado do link :

https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,peca-de-beckett-e-protagonizada-por-atriz-com-sindrome-de-tourette,70002220707

CIÊNCIA PROVA QUE ABRAÇOS CRIAM A MESMA RESPOSTA QUE MEDICAMENTOS


      ABRAÇOS fazem bem a saúde 


           

 

  1. Reduzir o medo da mortalidade


O que é muito interessante! Pesquisa publicada na revista Psychological Science mostra que abraços e simplesmente tocar em alguém reduz seu medo de mortalidade, acalmando os temores existenciais.
 “Toque interpessoal é um mecanismo tão poderoso que até mesmo objetos que simulam toque pode ajudar a incutir nas pessoas um sentido de significado existencial”, escreveu o pesquisador-chefe Sander Koole no estudo.


2. Abraçar diminui o seu ritmo cardíaco



Em um experimento realizado na Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill descobriu que os participantes que não tiveram qualquer contato com os seus parceiros, desenvolveram uma taxa de 10 batimentos mais rápida por minuto. Comparativamente, as batidas do coração daqueles que fizeram contato com os seus parceiros não foram tão rápidas


3. Os bebês que são abraçados, experimentam menos estresse quando adultos



Se você quer ajudar o futuro, abrace um bebê! Um estudo da Universidade de Emory descobriu que, em ratos, toque e alívio de estresse estão conectados, especialmente no início da vida. O estudo descobriu que o mesmo vale para os seres humanos, notando que os bebês lidaram melhor com o estresse quando adultos quando mais abraçados


4. Melhoria da função imunológica



Nova pesquisa mostra que os hormônios do abraço são o que chamam de imunorreguladora. Basicamente, esses hormônios têm um impacto profundo na forma como nosso sistema imunológico funciona. Isto está de acordo com a natureza relaxante de abraços. Se você quiser um sistema imunológico mais forte, abrace!

   Retirado do link :


https://osegredo.com.br/ciencia-prova-que-abracos-criam-a-mesma-resposta-que-medicamentos/

‘A Base De Um Cérebro Saudável É A Bondade’ – Richard Davidson



   Richard Davidson, PhD em neuropsicologia e pesquisador na área de neurociência afetiva:


                               

    Nasci em Nova Iorque e moro em Madison, Wisconsin (EUA), onde sou professor de psicologia e psiquiatria na universidade. A política deve basear-se naquilo que nos une. Só assim poderemos reduzir o sofrimento no mundo. Acredito na gentileza, na ternura e na bondade, mas temos que nos treinar nisso.



Eu estava investigando os mecanismos cerebrais ligados à depressão e à ansiedade. Quando eu estava no meu segundo ano na Universidade de Harvard, a meditação cruzou o meu caminho e fui para a Índia investigar como treinar a minha mente. Obviamente, meus professores disseram que eu estava ficando louco, mas aquela viagem marcou meu futuro.
Descobri que uma mente calma pode produzir bem-estar em qualquer tipo de situação. E quando me dediquei a investigar, por meio da neurociência, quais são as bases para as emoções, fiquei surpreso de ver como as estruturas do cérebro podem mudar em tão somente duas horas. Hoje podemos medir com precisão. Levamos meditadores ao laboratório; e antes e depois da meditação, tiramos uma amostra de sangue deles para analisar a expressão dos genes.
E a expressão dos genes muda?
Sim. E vemos como as zonas com inflamação ou com tendência à inflamação tinham uma abrupta redução disso. Foram descobertas muito úteis para tratar a depressão. Contudo, em 1992, conheci o Dalai Lama e minha vida mudou. “Admiro seu trabalho – ele me disse -, mas acho que você está muito centrado no estresse, na ansiedade e na depressão. Nunca pensou em focar suas pesquisas neurocientíficas na gentileza, na ternura e na compaixão?”.
Fiz a promessa ao Dalai Lama de que faria todo o possível para que a gentileza, a ternura e a compaixão estivessem no centro da pesquisa. Palavras jamais citadas em um estudo científico.
O que você descobriu?
Que há uma diferença substancial entre empatia e compaixão. A empatia é a capacidade de sentir o que sentem os demais. A compaixão é um estado superior.
É ter o compromisso e as ferramentas para aliviar o sofrimento. E o que isso tem a ver com o cérebro? Os circuitos neurológicos que levam à empatia ou à compaixão são diferentes.
E a ternura?
Forma uma parte do circuito da compaixão. Umas das coisas mais importantes que descobri sobre a gentileza e a ternura é que se pode treiná-las em qualquer idade.
Os estudos nos dizem que estimular a ternura em crianças e adolescentes, melhora os resultados acadêmicos, o bem-estar emocional e a saúde deles.
E como se treina isso?
Primeiro, levando a mente deles até uma pessoa próxima, que eles amam. Depois, pedimos que revivam um momento em que essa pessoa estava sofrendo e que cultivem o desejo de livrar essa pessoa do sofrimento. Logo, ampliamos o foco para pessoas não tão importantes e, por fim, para aquelas que os irritam. Estes exercícios reduzem substancialmente o bullying nas escolas.
Da meditação à ação há uma distância. Umas das coisas mais interessantes que tenho visto nos circuitos neurais da compaixão é que a área motora do cérebro é ativada: a compaixão te capacita para agir, para aliviar o sofrimento.
Agora você pretende implementar no mundo o programa Healthy Minds (mentes saudáveis).
Esse foi outro desafio que o Dalai Lama me deu, e temos elaborado uma plataforma mundial para disseminá-lo. O programa tem quatro pilares: a atenção; o cuidado e a conexão com os outros; o contentamento de ser uma pessoa saudável (fechar-se nos próprios sentimentos e pensamentos é uma das causas da depressão)…
…É preciso estar aberto e exposto.
Sim. E, por último, ter um propósito na vida. Que é algo que está intrinsecamente relacionado ao bem-estar. Tenho visto que a base para um cérebro saudável é a bondade. E treinamos a bondade em um ambiente científico, algo que nunca tinha sido feito antes.
Como podemos aplicar esse treinamento em nível global?
Por meio de vários setores: educação, saúde, governo, empresas internacionais…
Por meio desses que têm potencializado este mundo de opressão em que vivemos?
Tem razão. Por isso, sou membro do conselho do Foro Econômico Mundial de Davos. Para convencer os líderes de que é preciso levar às pessoas o que a ciência sabe sobre o bem-estar.
E como convencê-los?
Por meio de provas científicas. Tenho mostrado a eles, por exemplo, o resultado de uma pesquisa que temos realizado em diversas culturas diferentes: se interagirmos com um bebê de seis meses usando fantoches, sendo que um deles se comporta de forma egoísta e o outro de forma amável e generosa, 99% dos bebês prefere o boneco que coopera.
Cooperação e amabilidade são inatas.
Sim, mas são frágeis. Se não são cultivadas, se perdem. Por isso, eu, que viajo muitíssimo (o que é uma fonte de estresse), aproveito os aeroportos para enviar mentalmente bons desejos a todos com quem cruzo no caminho, e isso muda a qualidade da experiência. O cérebro do outro percebe isso.
Em apensa um segundo, seguem o seu exemplo.
A vida é só uma sequência de momentos. Se encadearmos essas sequências, a vida muda.
Hoje, mindfulness (atenção plena) tornou-se um negócio.
Cultivar a gentileza é muito mais efetivo do que se centrar em si mesmo. São circuitos cerebrais distintos. A meditação em si não interessa para mim. O que me importa é como acessar os circuitos neurais para mudar o seu dia-a-dia, e sabemos como fazer isso.
Ciência e Gentileza
A pesquisa de Richard Davidson está centrada nas bases neuronais da emoção e nos métodos para promover, por meio da ciência, o florescimento humano, incluindo a meditação e as práticas contemplativas. Ele fundou e preside o Centro de Investigação de Mentes Saudáveis na Universidade de Wisconsin-Madison, onde são realizadas pesquisas interdisciplinares com rigor científico sobre as qualidades positivas da mente, como a gentileza e a compaixão.
Richard Davidson já acumula prêmios importantes e é considerado uma das cem pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time. É autor de uma quantidade imensa de pesquisas e tem vários livros publicados. Ele conduziu um seminário para estudos contemplativos em Barcelona.
      Retirado do link :


segunda-feira, 18 de junho de 2018

A primeira vez de Duda no parquinho não teve lá muita alegria. O irmão mais novo brincou e ela ficou só de olho


   Não havia brinquedos que acolhessem Maria Eduarda do jeitinho que ela é


                          

A mãe se incomodou. Coração de mãe – não é segredo – tem amor igual por cada pequeno.
– A vida das crianças com deficiência é terapia, internação. E o lazer? É brincando que a criança se desenvolve, mas as crianças com deficiência são privadas do lazer! Eu não podia deixar a infância da Duda passar.
Selma Nalini resolveu que era preciso mudar. E arregaçou as mangas.
Foi preciso, aliás, muito arregaçar e um caminho feito de desafios e burocracia.
O projeto Duda Nalini – que não tinha outro nome para existir – foi protocolado em 2016.
Em junho de 2017, Selma, e seus parceiros da iniciativa privada, inauguraram o primeiro parque público acessível de Ribeirão Preto: Uber Sul, localizado na zona Sul.
Nos dois espaços os brinquedos são feitos para crianças com e sem deficiência brincarem juntas, a qualquer dia e hora. Há balanços com colete de segurança, gira-gira com espaço para cadeira de rodas, gangorra com trava e assento diferenciados, painel acessível.
– A ideia é transformar os espaços públicos em acessíveis, e fazer uma cidade inclusiva. Quando uma criança com deficiência brinca junto com uma criança que não tem deficiência, a gente iguala o ser humano.
Além dos dois parques em funcionamento, há projeto para a inauguração de mais três ainda neste ano. E a ideia se espalha e contagia outras iniciativas a nascer.
Agora, Duda pode dividir o brinquedo com o irmão mais velho. Esvoaçar os cabelos pretos no gira-gira e no balanço.
Solidária que é, não quis essa alegria só para si. Os parques que levam seu nome estão sempre cheios de crianças e pais vivendo a alegria – tão única – do brincar.
– Quando você tem um filho, você sonha em ensiná-lo a andar de bicicleta, passear no parque. Aqui, acontece a inclusão. Todo mundo tem seu direito respeitado.


Duda é a primeira filha de Selma Nalini e do marido. Foi esperada e cuidada desde o primeiro ultrassom.
– Eu já soube logo no primeiro ultrassom que ela teria má formação.
A gravidade, os pais só souberam depois do nascimento.
Não havia, no discurso médico, expectativa de vida para Maria Eduarda. Ela nasceu com uma má formação congênita chamada agenesia cerebelar.
O cerebelo é a parte do cérebro responsável por movimentos motores, pela aprendizagem motora, a fala.  Duda, caso raríssimo, não tem o cerebelo.
– Para os médicos, ela não tinha sobrevida.
Em outubro do ano passado, mês em que o segundo parque do projeto Duda Nalini foi inaugurado, a pequena completou 10 anos de vida, desafiando a ciência.
Duda não anda, não fala, usa sonda. Acompanha, porém, a mãe com os olhinhos e fica brava quando a foto demora a terminar. Respira sem aparelhos e sorri quando a mãe pede.
– Ela está muito além das expectativas. É um exemplo de vida para nós.
Quando a filha nasceu, Selma, que tinha 23 anos, deixou a faculdade e o estágio de Direito e passou a viver seus dias pela Duda.
Foi assim que, durante as internações constantes da filha, ela conheceu outros pais de crianças com deficiência e suas histórias. E passou a estudar, pesquisar e lutar pelos direitos dessas pessoas.
– Eu via as dificuldades das famílias… Umas não tinham alimentação, outras não tinham transporte ou fralda. Algumas, tinham tudo isso sobrando.
Começou, então, a ajudar essas famílias buscando o que sobrava em uma casa e levando para a outra. Buscando auxiliar, orientar, encaminhar para serviços de assistência.
A falta de lazer, entretanto, continuava a incomodar.
– Fora essa ajuda, eu me preocupava com o lazer. Muitas mães não saíam de casa para evitar os olhares preconceituosos ou porque não tinham aonde ir.
Começou, então, a organizar festas. Alugava salões, montava estrutura de enfermaria, contratava serviços e comemorava, com essas famílias, a festa junina, o Dia das Crianças e outras tantas datas. Chegou a juntar mais de 100 pessoas!
Mesmo assim, porém, não se sentia feliz. Percebia que muitas mães não podiam ir à festa por problemas com transporte ou porque naquele dia a criança não estava bem.
Quando o filho mais novo veio, a certeza de que era preciso mudar ficou mais forte. Coração de mãe despedaça quando a alegria não é a mesma para todos seus pequenos.
– A vontade de garantir a participação das crianças em lazer e cultura ficou muito forte. O João brincava, mas a Duda não.
A implantação do projeto Duda Nalini levou três anos. Selma tinha a ideia, mas precisava de formas para fazê-la virar realidade. Além disso, era preciso ultrapassar as burocracias.
Buscou parcerias com a iniciativa privada e conseguiu as autorizações necessárias da prefeitura, para a reforma do espaço público que, pela lei, já deveria ser acessível.
– O projeto auxilia a prefeitura a cumprir a lei vigente, que diz que 5% de todo equipamento público deve ser acessível.
Selma buscou inspiração na internet, mas não havia projetos similares para se espelhar. Ela acredita que Ribeirão Preto seja, com o projeto Duda Nalini, cidade pioneira em parques públicos totalmente acessíveis.
– Há brinquedos acessíveis dentro de instituições, mas não há um parque inteiro.
A praça Ali Youssef Abou Hamim, na Lagoinha, foi totalmente reformada para abrigar o parque acessível. O parque Uber Sul foi construído já pensando na acessibilidade.
– Valoriza o local, o bairro, a cidade toda. A cidade é para todos. E são espaços abertos, que as famílias podem ir conforme a disponibilidade delas. Se naquele dia a criança não está bem, tudo bem. O parque está sempre lá.
Com a parceria privada, além da construção e manutenção dos parques, o projeto organiza domingos com atividades interativas gratuitas para a criançada.
No ano passado, Selma criou também o Dia de Circo. Em parceria com o Circo dos Sonhos, que passou pela cidade, o projeto Duda Nalini distribuiu ingressos do circo para 263 famílias de crianças e adultos com todo tipo de deficiência.
Uma jovem cega, inclusive, quis ir à sessão. E teve sua vontade, mais que respeitada, comemorada.
– O circo também foi todo acessível. Essas pessoas lutam todos os dias. Precisam de lazer.
O projeto Duda Nalini, Selma explica, não é ONG. É vontade de transformar, e só. E muito!
Tudo é feito através de parcerias. E da vontade – imensa – de Selma.
Ela passa, todos os dias, pelos parques. Checa se a área está limpa, se os brinquedos estão em ordem e pede:
– A população precisa cuidar! É de todos!
Ali, está um pedaço seu. Um pedaço, principalmente, da sua Duda.
– É a realização de um sonho. A Duda, que poderia nem viver, completou 10 anos e está melhorando a acessibilidade da cidade. Ela virou patrimônio da cidade, porque tudo isso que foi construído é público.
O coração da mãe, agora, bate tranquilo.
– Eu tento fazer com que a Duda viva, tenha experiências novas. Se ela for embora hoje, posso dormir tranquila. Fizemos o bem em nome dela e beneficiando toda a cidade.
A primeira vez de Duda no parquinho não teve lá muita alegria.
Mas, agora, isso é coisa do passado bem, bem distante.

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O DOCUMENTÁRIO


     O documentário Mundo dos Raros cujo propósito é a conscientização sobre as doenças raras, seus 15.000.000 de portadores e toda sua trajetória 
de vida, desde a descoberta ao tratamento e convívio com a doença

                  
   As pessoas com doenças raras sofrem tanto pela doença quanto pela jornada na busca de informações e tratamentos. Seu sofrimento não cessa após o diagnóstico. Ser portador de uma doença rara é levar a vida tentando se adaptar às novas condições, a se inserir no mundo dos “não” doentes, a ser reconhecido e respeitado e até mesmo a se sentir parte do mundo.

   Mundo dos raros convida a sociedade, os governos, as escolas e os atuantes na área da saúde a dedicarem seu olhar também aos doentes raros, valorizando a inteligência do coletivo e as redes de apoio.

       ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO COMPLETO
                             

                               
                                   
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Mara Gabrilli fala sobre a natureza do assédio e a violência que não escolhe necessariamente um gênero, mas quase sempre envolve poder


   Advogado, casado, funcionário público e vítima de assédio sexual. Esse é o perfil de um munícipe que dia desses visitou meu escritório em busca de apoio para levar adiante uma denúncia que fez sobre os abusos recorrentes que acontecem em seu local de trabalho


                         
 Lá, o chefe entra na sala, abaixa a calça e sugere aos seus funcionários que o toquem nas partes íntimas. Frustrado por não encontrar apoio entre os próprios colegas de trabalho, que preferem praticar o “deixe isso para lá”, ele contou que chegou a ser advertido por não ter se calado diante dos abusos de seu superior.


Diferentemente do movimento que vem ocorrendo pelo mundo afora, com cada vez mais mulheres denunciando práticas abusivas, ali, no universo masculino, o silêncio é soberano. O homem, quando sofre assédio no ambiente do trabalho, se cala. Na maioria das vezes, ele se sente envergonhado em denunciar o próprio abuso —  diga-se de passagem, cometido algumas vezes por mulheres em posição de chefia. Falar de assédio sexual o faz sentir-se pequeno, menos viril, menos poderoso. Vulnerável tão quanto uma mulher. Afinal, fomos treinados para um mundo onde homens e mulheres não foram educados para compartilhar das mesmas fragilidades.


Uma pesquisa realizada por um grupo da Universidade de Lisboa apontou que as mulheres são muito mais reativas quando sofrem assédio: 52% delas denunciam o delito, enquanto 31% dos homens tomam a mesma atitude. A verdade é que não há uma conduta no mundo onde o assédio seja discutido em sua origem, que transcende as questões sexistas.
O assédio nasce nas relações humanas onde há presunção de poder sobre o outro. Condutas autoritárias, que humilham, cobram indevidamente e degradam o dito “fraco” estão presentes em vários locais: acontece dentro de famílias, empresas, no universo acadêmico.
“Quem assedia se enxerga maior, inclusive intelectualmente. E é sobre poder, sobretudo, que precisamos falar”
Quem nunca ouviu queixas assombrosas de mestrandos e doutorandos que são rebaixados por seus orientadores acadêmicos por anos e anos dentro da universidade? Eles são levados ao esgotamento físico e mental com cobranças indevidas e recorrentes humilhações.
Muitos desenvolvem sérios problemas psicológicos, desistem de suas teses, flertam com o suicido. São abusos que acontecem em laboratórios por todo o país e na maioria das vezes o que impera novamente é o silêncio.
Quem assedia se enxerga maior, inclusive intelectualmente. E é sobre poder, sobretudo, que precisamos falar agora para combater o assédio, que, graças a Deus, virou o tema do momento.
Já falei aqui em outras ocasiões que a mulher com deficiência sofre de muitas formas de assédios. No mundo todo, 40% das mulheres com deficiência são vítimas de abusos frequentes e 12%, de estupro.
A violência cometida se manifesta sob várias facetas: agressão física, compulsão legal, coerção econômica, intimidação, manipulação psicológica, fraude, negligência e muita discriminação no ambiente de trabalho. Uma realidade que deflagra muito além de uma sociedade sexista, um mundo que não foi educado para conviver e respeitar o outro como igual.
Educamos nossos meninos e inconscientemente o influenciamos para que se sintam maiores que as meninas desde sempre. Por que, ainda hoje, presenteamos nossos garotos com carrinhos e as meninas, com vassouras? Por que o contrário parece tão surreal?
Quando nos tornamos mulheres somos vítimas de homens que por toda a vida foram mimados por outras mulheres. E no caso das pessoas com deficiência, o ciclo de assédios se repete à margem da invisibilidade, pois essas pessoas desde muito crianças são colocadas à margem de tudo.
As escolas se veem no poder de vetar a matrícula de alunos com deficiência porque não enxergam na diversidade o potencial de convivência e aprendizado. Uma discriminação velada e perversa cuja as consequências se arrastam para uma vida marcada por várias formas de assédio.
Ser cadeirante me fez ver muita coisa diferente. A começar pelo meu próprio ângulo de visão, que algumas vezes, por conta da altura da cadeira, me condiciona a ver as coisas sob outra perspectiva em vários sentidos. E foi dessa ótica, entre pessoas com e sem deficiência, onde mais consigo enxergar o outro se apoderando de quem julga ser mais fraco. E só quando de fato combatermos esse delírio social, onde se enaltece e isenta o poder, é que as relações humanas deixarão de ser abusivas, criminosas e desiguais.

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segunda-feira, 11 de junho de 2018

O texto de Daniel Munduruku, graduado em filosofia, história e psicologia, doutor em educação e escritor premiado da etnia Munduruku, nos faz lembrar de quem fomos um dia e nos deixa óbvia a esperança de que nem tudo esta perdido. Nossa cultura milenar tem muito a nos ensinar.


    A milenar arte de educar dos povos Indígenas 
          
Educar é dar sentido. É dar sentido ao nosso estar no mundo. Nossos corpos precisam desse sentido para se realizar plenamente. Mas também nossos corpos são vazios de imagens e elas precisam fazer parte da nossa mente para possamos dar respostas ao que se nos apresenta diuturnamente como desafios da existência. É por isso que não basta dar alimento apenas ao corpo, é preciso também alimentar a alma, o espírito. Sem comida o corpo enfraquece e sem sentido é a alma que se entrega ao vazio da existência.


A educação tradicional entre os povos indígenas se preocupa com esta tríplice necessidade: do corpo, da mente e do espírito. É uma preocupação que entende o corpo como algo prenhe de necessidades para poder se manter vivo.


Esta visão de educação é sustentada pela idéia de que cada ser humano precisa viver intensamente seu momento.

A criança indígena é, então, provocada para ser radicalmente criança. Não se pergunta nunca a ela o que pretende ser quando crescer. Ela sabe que nada será se não viver plenamente seu ser infantil. Nada será por que já é. Não precisará esperar crescer para ser alguém.

Para ela é apresentado o desafio de viver plenamente seu ser infantil para que depois, quando estiver vivendo outra fase da vida, não se sinta vazia de infância. A ela são oferecidas atividades educativas para que aprenda enquanto brinca e brinque enquanto aprende num processo contínuo que irá fazê-la perceber que tudo faz parte de uma grande teia que se une ao infinito.



Num mesmo movimento ela vai sendo introduzida no universo espiritual. Embalada pelas histórias contadas pelos velhos da aldeia, a criança e o jovem passam a perceber que em seu corpo moram os sentidos da existência. Este sentido é oferecido pela memória ancestral concentrada nos velhos contadores de histórias. São eles que atualizam o passado e o fazem se encontrar com o presente mostrando à comunidade a presença do saber imemorial capaz de dar sentido ao estar no mundo.


Este processo todo é alimentado por rituais que lembram o passado para significar o presente. São movimentos corpóreos embalados por cantos e danças repetidos muitas vezes com o objetivo de “manter o céu suspenso”. A dança lembra a necessidade de sermos gratos aos espíritos criadores; contam que precisamos de sentidos para viver dignamente; ordena a existência. Cada grupo de idade ritualiza a seu modo. Cada um se sente responsável pelo todo, pela unidade, pela continuidade social.

Educar é, portanto, envolver. É revelar. É significar. É mostrar os sentidos da existência. É dar presente. E não acaba quando a pessoa se “forma”. Não existe formatura. Quem vive o presente está sempre em processo.

É por isso que a criança será sempre criança. Plenamente criança. Essa é a garantia de que o jovem será jovem no seu momento. O homem adulto viverá sua fase de vida sem saudades da infância, pois ele a viveu plenamente. O mesmo diga-se dos velhos. O que cada um traz dentro de si é a alegria e as dores que viveram em cada momento. Isso não se apaga de dentro deles, mas é o que os mantém ligados ao agora.


Resumo da ópera: A educação tradicional indígena tem dado certo. As pessoas se sentem completas quando percebem que a completude só é possível num contexto social, coletivo. Cada fase porque passa um indígena – desde a mais tenra idade – alimenta um olhar para o todo, pois o conhecimento que aprendem e vivem é um saber holístico que não se desdobra em mil especialidades, mas compreende o humano como uma unidade integrada a um Todo maior e Único.


Olhar os povos indígenas brasileiros a partir de uma visão rasa de produção, de consumo, de riqueza e pobreza é, no mínimo, esvaziar os sentidos que buscam para si.

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